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De volta aos R$ 5: dólar sobe e especialistas explicam disparada

Risco inflacionário nos EUA, incertezas fiscais no Brasil e dados decepcionantes da China dão forma à aversão ao risco

Dólar em alta: após três meses, moeda americana volta ao patamar dos R$ 5 (Antara Foto/Hafidz Mubarak/Reuters)

Dólar em alta: após três meses, moeda americana volta ao patamar dos R$ 5 (Antara Foto/Hafidz Mubarak/Reuters)

Janize Colaço
Janize Colaço

Repórter de Invest

Publicado em 28 de setembro de 2023 às 09h49.

O dólar voltou a ultrapassar o patamar dos R$ 5 na última quarta-feira, 27, fato que não se repetia desde o dia 1º de junho. Na ocasião, ele caia aos R$ 5,006 e de lá para cá foram mais baixas do que altas. Mas desde a semana passada os ventos parecem ter mudado com consecutivas valorizações da moeda americana

Entre os últimos acontecimentos, a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), na última Super Quarta, é apontada como um dos fatores que deram o tom para essa virada. À EXAME Invest, Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, lembra que apesar de a instituição ter mantido os juros no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano, a sinalização de que os números podem permanecer elevados provocou a tendência da aversão ao risco nos índices globais.

“O Fed reviu as projeções dos juros em 2024, com o gráfico de pontos mais alongado, alertando sobre um risco inflacionário nos EUA”, pontua. O especialista ainda lembra que entre os 19 membros do Fomc (ou Comitê Federal de Mercado Aberto, em português), 12 projetam que o percentual pode subir ainda neste ano.

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Na mesma linha, Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, salienta que até pouco meses atrás o mercado discutia se os cortes de juros ocorreriam no final deste ano ou no começo do próximo, mas o banco central americano parece não estar pensando da mesma forma. "Em Jackson Hole, o presidente do Fed, Jerome Powell, falou que imaginava que haveria pelo menos mais 12 meses de juros no patamar mais alto. Nem no primeiro semestre do ano eles estavam trabalhando muito com cortes de juros. Isso explica bastante a valorização do dólar agora."

Cruz, no entanto, acredita que essa sinalização seja mais por conta do momento e não tanto pela conjuntura. "Daqui seis meses, provavelmente, a postura do banco central norte-americano deva ser outra. Teremos outra dinâmica de inflação e outra dinâmica de juros - o que pode mexer de novo, talvez na direção contrária, a questão do câmbio e dos juros", diz.

Dólar x Real

Mas não são apenas as movimentações da política monetária dos EUA que reforçam a aversão ao risco. Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, por aqui, as indefinições quanto à política fiscal tem levado à fuga os investidores estrangeiros, influenciando na alta do dólar frente ao real. "É um ponto que levanta dúvidas e o mercado não está disposto a pagar por esse risco", afirma. 

Outro ponto que impacta é a China, cujos dados de crescimento têm decepcionado o mercado e, junto a isso, uma crise imobiliária parece estar sob espreita - o que pesa no Ibovespa, já que o país é o principal parceiro comercial e importador de commodities. Com os investidores migrando para onde há mais segurança, os títulos de dívida emitidos pelo governo dos EUA têm sido o destino escolhido - com rendimento do título de 10 anos (T-10) atingindo a máxima em 16 anos, acima de 4,6%. 

“O dólar é a principal moeda global e concentra os maiores investimentos. Com as incertezas no Brasil, há uma maior saída da moeda americana do país ou uma diminuição da entrada, visto que os treasuries é uma fonte segura e lucrativa de renda, já que os EUA têm um bom histórico de pagamentos”, explica Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.

Há espaço para a moeda americana subir mais?

Além dos pontos citados acima, Mattos ainda aponta que existe uma tendência de alta no câmbio durante os últimos meses do ano. E os motivos são três: comercial, saída de lucros e juros, e hedge cambial.

“Nesses últimos meses do ano é comum ocorrer uma pressão altista do dólar por conta da diminuição das exportações agrícolas, das remessas de lucros e juros para o exterior feita pelos investidores estrangeiros e um movimento maior de hedge cambial feita pelas instituições financeiras - também para se proteger da volatilidade do câmbio e então elas assumem uma posição comprada”, explica.

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