Elon Musk: novo diretor está sobre pressão financeira para fazer o acordo funcionar (AFP/AFP Photo)
Agência O Globo
Publicado em 5 de novembro de 2022 às 15h10.
O primeiro sinal de que parte dos 7.500 funcionários do Twitter tinha sido despedida apareceu quando as contas de e-mail pararam de funcionar na véspera. Ainda assim, eles não receberam qualquer palavra oficial sobre o fim do contrato, e algumas de suas contas em sistemas ainda funcionavam.
Nos escritórios do Twitter na Irlanda e no Reino Unido, funcionários ficaram até tarde esperando que a sede em São Francisco informasse se eles ainda tinham um emprego. Alguns descobriram que estavam desempregados no meio da noite. A sede em São Paulo também sofreu cortes.
Os cortes foram tão aleatórios que em um encontro de última hora para tratar da assinatura do serviço Twitter Blue, de certificação de conta, ao menos um funcionário foi bloqueado dos sistemas da empresa durante a ligação telefônica, de acordo com três pessoas a par da reunião e de mensagens internas vistas pelo New York Times.
Muitos funcionários se queixaram no próprio Twitter. Chris Younie, membro do time de parcerias baseado em Londres, descobriu que tinha sido demitido quando foi conferir seu laptop corporativo e sua conta de e-mail depois da meia-noite e não conseguiu acesso.
"Tão grato por isso acontecer às 3h da manhã", Younie postou sarcasticamente no Twitter. "Realmente apreciei a consideração desses caras".
Na sexta-feira de manhã, a escala de demissões promovida por Elon Musk, o novo dono do Twitter, começou a ficar clara: cerca de metade da força de trabalho da companhia, ou 3.700 empregos, foram eliminados, segundo quatro pessoas a par do assunto.
Os cortes afetaram muitas áreas da companhia, incluindo engenharia e equipes de machine learning, as equipes de confiança e segurança que gerenciam a moderação de conteúdo, e os departamentos de venda e publicidade.
Raramente foram vistas demissões tão profundas quanto estas feitas por um único indivíduo em uma empresa de tecnologia.
As demissões deixam o Twitter significativamente mudado apenas duas semanas após Musk fechar sua oferta de compra de US$ 44 bilhões pela empresa. As ações levantam questionamentos a respeito de como o homem mais rico do mundo pode efetivamente operar a rede social e levar adiante seus planos ambiciosos para ela, incluindo a adição de novas ferramentas, aumento do número de usuários e encontrar novas fontes de receita.
Musk, de 51 anos, enfrenta numerosos desafios no Twitter. Ele está sobre pressão financeira para fazer o acordo funcionar, depois de levantar US$ 13 bilhões em empréstimos para a operação. Ainda assim a empresa tem perdido dinheiro ao longo de oito dos últimos dez anos e, como qualquer outra empresa de rede social, enfrenta o declínio da publicidade digital em meio a um cenário de desaquecimento econômico.
Ao mesmo tempo, alguns anunciantes, que representam 90% da receita do Twitter, interromperam seus gastos na plataforma, citando temores de que o conteúdo possa mudar na gestão de Musk. Essa puxada de freio ganhou tração na sexta quando a Volkswagen se juntou ao boicote crescente. Grupos de direitos civis têm repetidamente alertado para o risco de afrouxamento das regras de conteúdo do Twitter e que isso pode levar a um aumento do discurso tóxico.
Na sexta, Musk abordou as demissões enquanto discursava em uma conferência de investimentos em Nova York. Ele disse que os cortes eram necessários porque o "Twitter estava enfrentando desafios de receita séios e de custos" antes do acordo, que se tornaram piores por causa da ação de "grupos ativistas pressionando grandes anunciantes a pararem de gastar dinheiro no Twitter".
Ele disse ter tentado "tudo que era possível para apazigurar" estes ativistas e reiterou que não mudou regras de conteúdo do Twitter. Ele disse depois em um tuíte que a empresa estava perdendo mais de US$ 4 milhões por dia.
A equipe de comunicação do Twitter, que também foi quase integralmente demitida, não respondeu a pedidos para comentar o assunto. Musk não respondeu.
Musk já enfrenta desafios legais após as demissões. Na sexta, cinco ex-empregados entraram com um processo contra a empresa por não avisar com antecedência dos cortes. A legislação federal e a da Califórnia exigem que as empresas notifiquem os empregados antes quando vão efetuar cortes em massa.
Enquanto Musk disse em tuíte na sexta que os demitidos terão três meses de rescisão, empregados foram informados de que seriam mantidos na folha de pagamento por dois meses antes de serem oficialmente mandados embora, uma manobra que pode evitar que o Twitter seja enquadrado na regra que exige aviso com antecedência aos funcionários. Os empregados então receberiam um mês adicional de rescisão.
A expectativa por cortes era grande dentro da empresa. Na última semana, os funcionários criaram grupos de mensagem para manter contato uns com os outros e compartilhar informações. Alguns adicionaram colegas no LinkedIn e trocaram e-mails pessoais e telefone em encontros, segundo funcionários.
Na quinta de tarde, receberam um e-mail da empresa informando que os cortes começariam na sexta e foram informados de que deveriam ir para casa e não retornar ao escritório na sexta.
No Twitter, empregados publicaram a hashtag #OneTeam e #LoveWhereYouWorked para se solidarizar. Em Dublin, sede do Twitter na Europa, alguns funcionários receberam e-mail sobre os cortes na sexta. "Estas decisões nunca são fáceis e é com pesar que informamos que seu trabalho no Twitter foi identificado como afetado ou com risco de demissão", dizia o texto.
No escritório de Tóquio, alguns funcionários receberam o e-mail no fim do dia de trabalho, na sexta.
Muitos dos cortes foram profundos. As equipes de direitos humanos foram cortadas. A equpe de tecnologia de internet, responsável por manter a rede no ar, se tornou "uma equipe esqueleto", disseram duas pessoas. Times de marketing social, curadoria e apoio de infraestrutura também foram afetadas.
Quem fazia home office foi alvo dos cortes, segundo duas fontes a par das demissões.
A sede da empresa em São Francisco permaneceu fechada para os funcionários na sexta, com nove seguranças fazendo a patrulha dos dois prédios para evitar a entrada.
Quem não foi demitido tentava descobrir quem tinha ficado na empresa, segundo grupos de mensagens. Eles enviaram mensagens de apoio a funcionários que perderam o emprego, mas estão grávidas ou com visto de trabalho. Alguns se ofereceram para ser demitidos no lugar dos que dependem de visto de trabalho, segundo fontes.
Os demitidos foram informados que não devem discutir publicamente sua experiência, de acordo com uma cópia do e-mail de demissão vista pelo New York Times.
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