Mercados

CVM rejeita acordo para fechar processo contra dono da LAEP

Marcus Alberto Elias é processado por operação fraudulenta mediante divulgação de fatos relevantes propositadamente omissos

Parmalat: campanha "Mamíferos" está entre as mais famosas do Brasil (Divulgação)

Parmalat: campanha "Mamíferos" está entre as mais famosas do Brasil (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2016 às 14h28.

Última atualização em 13 de março de 2017 às 14h42.

São Paulo - O Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários rejeitou proposta de acordo para encerrar processo contra o controlador da Laep Investments, antiga dona da marca Parmalat, Marcus Alberto Elias, por operação fraudulenta, mediante divulgação de fatos relevantes propositadamente omissos e utilização de outras manobras na operação de capitalização da empresa pelo fundo de investimentos Global Yield Fund Limited (GEM) e pela Yorkville Advisors Consultoria Ltda.

Segundo a CVM, durante 2009 e 2012, a Laep realizou diversos aumentos de capital com emissão de ações classe A, que possuem direito de voto apenas em determinadas matérias e que servem de lastro aos Brazilian Depositary Receipts (BDR, recibos de ações estrangeiras negociados no Brasil) da empresa.

Uma das justificativas para as emissões foi a subscrição privada pelo fundo GEM e pela Yorkville, que seria usada para reforçar o capital de giro da companhia, readequar sua estrutura de capital e financiar aquisições. Do total de emissões feitas no período, esses dois investidores foram responsáveis por 32% do valor financeiro.

Artifícios fraudulentos

Mas, segundo a CVM, a Laep utilizou artifícios fraudulentos para induzir o mercado a erro, uma vez que o mercado não sabia que eram os próprios investidores que patrocinavam a emissão das novas ações, e não GEM, anunciado como grande investidor estrangeiro.

Além disso, fatos relevantes divulgados em 15 de janeiro e de julho de 2010, que falavam do relevante investidor estrangeiro interessado em capitalizar a companhia, na verdade traziam informações parciais que estimulavam outros investidores a negociar ações, garantindo assim liquidez para que a GEM obtivesse os recursos necessários para fazer as subscrições.

Empréstimos de BDR para a GEM

Ainda segundo a CVM, para alcançar esse objetivo, foram desrespeitadas cláusulas dos contratos, aumentando o período de precificação do número maior de pregões, admitindo deságios maiores ao acordado no mercado e permitindo que fossem vendidos mais BDR por pregão que a quantidade prevista. Não foi informado ao mercado ainda, em diversas ocasiões, que o GEM já tinha participação superior a 5% da Laep.

Para a CVM, a Laep omitiu deliberadamente do mercado a existência de empréstimo de BDR para a GEM, além da possibilidade de venda no mercado desses papéis para fazer a subscrição de novas ações e posterior devolução dos mesmos valores mobiliários.

A GEM recebeu R$ 39,267 milhões para fazer a captação, que representou uma grande vantagem para Laep, que conseguiu obter recursos que provavelmente não teria, segundo a CVM, por meio de uma simples chamada de capital.

Segundo a CVM, os fatos “apontam para a realização de operação fraudulenta, uma vez que o objetivo era obter recursos mediante o uso de meios ardis e garantir ao intermediário contratado altas comissões”.

Sobre a operação da Laep com a Yorkville, a CVM destacou que a operação “foi montada com o propósito de garantir a capitalização da Laep, mas com recursos obtidos no mercado e com a utilização de um intermediário bem remunerado sem o conhecimento dos investidores”.

Yorkville

As conclusões da CVM se basearam nos fatos relevantes sobre a operação, que divulgaram informações parciais, passando a falsa impressão de que a Yorkville iria subscrever ações da Laep. E, embora a missão da Yorkville devesse ser capitalizar a Laep, ela não apenas captou recursos no mercado sem assumir qualquer risco como também foi remunerada.

Para evitar prejuízos com a queda do valor dos BDR, como de fato ocorreu, nota a CVM, foram feitos ajustes no contrato, garantindo o sucesso da operação.

“Com tudo isso, garantiu-se a liquidez dos BDR e viabilizou-se a operação, uma vez que, devido às condições desfavoráveis do mercado à época, dificilmente a companhia conseguiria se capitalizar por meio de oferta pública”.

Proposta de R$ 500 mil e indenização aos investidores

Elias, controlador indireto, presidente do Conselho e diretor presidente da Laep Investments, foi responsabilizado pelas irregularidades.

Ele propôs pagar R$ 500 mil à CVM e mais R$ 0,60 por Brazilian Depositary Receipts (BDR, recibos de ações de empresas negociadas no exterior) aos investidores que cumprissem determinados requisitos. Elias também se propunha a desistir de ação judicial movida contra a CVM, na qual pedia a anulação do processo administrativo sancionador que tratava do caso.

A CVM considerou que havia impedimentos jurídicos para aceitar a proposta de Elias, em virtude da “desproporcionalidade da proposta indenizatória direcionada aos investidores lesados”.

A CVM informou também que, além da indenização proposta para os investidores lesados ser “totalmente desproporcional ao prejuízo sofrido”, a proposta de indenização pelo dano difuso causado ao mercado de capitais “também seria flagrantemente desproporcional à natureza da à gravidade das acusações”.

Assim, o Colegiado da CVM rejeitou a proposta de Marcos Elias e o processo deve continuar.

Acompanhe tudo sobre:AçõesAlimentos processadosBDRCVMEmpresasEmpresas italianasIndústrias de alimentosLaepLaticíniosParmalat

Mais de Mercados

Petrobras anuncia indicação de Pietro Mendes, presidente do conselho, para diretoria da ANP

Ações da Petrobras viram para queda com troca no conselho de administração

Bolsa acumula maior saída de capital estrangeiro dos últimos anos

O que vai ser da Intel após a saída do CEO?