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Copom segue duro, mas tem tom mais 'dovish' que o da última decisão, diz Garde

Daniel Weeks, economista-chefe da gestora, defende que juros devem cair apenas no início de 2024

Daniel Weeks, da Garde Asset, afirma que o tom do comunicado buscou diminuir ruído com governo (Leo Martins/ Garde/Divulgação)
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 4 de maio de 2023 às 09h00.

Última atualização em 4 de maio de 2023 às 09h01.

Sem surpresas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou na última quarta-feira, 3, a manutenção na taxa básica de juros, aSelic, em 13,75% ao ano. E, diferente da última reunião, o comunicado foi um pouco mais brando do que o esperado, segundo Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset.

“Em relação à última ata, que foi muito dura, tem algum refresco. Mas ainda não há sinalização de cortes no curto prazo”, afirmou Weeks em entrevista à EXAME Invest .

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O economista observou mudanças em alguns pontos do comunicado, que classificou como mais benevolente em relação ao governo e aos avanços na agenda fiscal. “É uma tentativa de diminuir o ruído”, disse.

Ainda assim, as preocupações continuam e devem manter os juros em 13,75% ao menos até o início de 2024, segundo a Garde. Veja abaixo a entrevista completa:

A decisão já era amplamente esperada. Houve alguma novidade no comunicado? Como interpretaram a decisão?

Daniel Weeks: A decisão foi em linha, mas me chamaram a atenção algumas mudanças no comunicado. Não necessariamente elas resultam em uma visão mais ou menos 'dovish' [favorável a juros mais baixos], mas como as condições econômicas estão muito parecidas com o último Copom, eu imaginava que a comunicação seria mais parecida. E na comparação, vimos algumas mudanças na comunicação, tanto para o lado 'dovish' quanto para o 'hawkish' [favorável a juros mais altos].

Do lado 'dovish', o que pode ser interpretado como mais brando no comunicado?

Weeks: Do lado 'dovish', tivemos um reconhecimento mais benevolente dos avanços do lado fiscal. Então coloca uma visão mais construtiva do acabou fiscal como um sinal de redução de incertezas. As incertezas ainda existem, mas é um primeiro passo. Acho que faz um discurso mais amigável, foi uma mão estendida ao governo. Houve uma mudança também em um trecho que havia sido muito criticado na última decisão, que foi aquela menção de que o BC não hesitaria em retomar o ciclo de alta. Agora, o Copom ofereceu uma qualificação dessa fala, dizendo que esse é um cenário menos provável. Neste ponto também foi uma comunicação mais benevolente.

E quais foram as sinalizações no lado mais 'hawkish'?

Weeks: O Copom puxou algumas sinalizações conservadoras da ata da reunião passada para o comunicado da decisão de ontem. Foram três mensagens. A primeira é que as expectativas de ancoragem diminuem a velocidade da convergência da inflação. A segunda é que não há relação mecânica entre a aprovação do arcabouço e a queda dos juros. E a terceira é que a conjuntura demanda paciência e serenidade.

Balanceando os pontos, qual sua avaliação sobre a decisão? O tom foi mais brando?

Weeks: Em relação à última ata, que foi muito dura, tem algum refresco nesses pontos 'dovish' que comentamos. Mas, em geral, um lado compensou o outro: ainda não há sinalização de cortes no curto prazo. Eu, particularmente, estou em um espectro mais 'hawkish' das expectativas de juros – prevejo cortes de juros apenas no início do ano que vem. Quando vejo o discurso um pouco mais benevolente em relação ao fiscal, avalio que a probabilidade de antecipar o corte nas taxas para o último trimestre aumenta um pouco. Mas ainda assim é muito fora do que o mercado está esperando: o Focus vê um corte já a partir de setembro.

Como você antecipa que a comunicação pode ser interpretada pelo governo?

Weeks: Foi um comunicado feito para diminuir o ruído, porque dá um sinal mais positivo com o campo fiscal. Mas uma pergunta que precisa ser feita é se o aceno é apenas para diminuir o barulho e evitar confusão ou se o BC realmente acredita nisso.

O que precisa ser feito para abrir caminho para uma queda de juros?

Weeks: Precisaria apertar bastante o arcabouço fiscal: ele ainda está muito frouxo, não tem impositividade nenhuma e o crescimento permitido dos gastos, na minha visão, é exagerado. Outro ponto é não haver nenhuma mudança na TLP, a taxa de longo prazo que vem sendo discutida pelo BNDES – que precisa, inclusive, voltar para o banco de reservas. E outro fator que ajudaria muito é encerrar a discussão sobre a revisão da meta de inflação. Foi algo que impactou as expectativas, e, se a meta for mudada, isso deve voltar a acontecer. Por enquanto vemos muitos riscos, mas é preciso entender se eles vão se concretizar ou não.

A manutenção dos juros altos traz um risco para a economia? Houve, por exemplo, uma disparada nos pedidos de recuperação judicial e falências de empresas .

Weeks: Apesar dessas situações, os dados de atividade econômica continuam fortes. Obviamente houve uma desaceleração do crédito, mas nada muito além do que era imaginado para uma economia que estaria com 13,75% de juros. Os dados não mostram esse colapso todo. O mercado de trabalho, por enquanto, continua forte. Precisamos entender melhor o que está acontecendo com a atividade e porque ela não está desacelerando. Um ponto pode ser a própria política fiscal: o governo vai colocar uma enxurrada de dinheiro na economia esse ano.

E considerando o cenário externo, o Copom mencionou a crise bancária nos Estados Unidos como um ponto de atenção. Como isso pode se refletir aqui no Brasil?

Weeks: Houve uma nova rodada de piora nesta quarta com a possível venda do PacWest Bank. Isso bate no preço do petróleo e pode ajudar no cenário de inflação global. No entanto, não vejo nenhum grande colapso lá fora. Então o Fed [banco central americano] não deve começar a cortar os juros já no segundo semestre. Ajuda um pouco, mas ainda não muda o jogo na condução da política monetária aqui dentro.

Decisão do Copom

O Comitê de Política Monetária ( Copom ) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira, 3, manutenção na taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. A decisão veio em linha comas expectativas de economistas do mercado financeiro, queapostavam majoritariamente na manutenção da taxa.

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