Assaí: hoje, o Casino detém 11,7% do capital social da companhia, mas já foi o controlador da rede de atacarejos (Paulo Whitaker/Reuters)
Repórter Exame IN
Publicado em 22 de junho de 2023 às 09h12.
Última atualização em 22 de junho de 2023 às 11h39.
O Casino fará hoje uma operação block trade para vender sua participação no Assaí (ASAI3). Hoje, o grupo francês detém 11,7% do capital social da companhia, mas já foi o controlador da rede de atacarejo. Em duas ofertas secundárias de ações, o grupo passou de controlador, com 40,9%, para a atual fatia.
Na quarta-feira, 21, as ações fecharam a R$ 13,40. A operação, coordenada pelo BTG Pactual (mesmo grupo de controle da EXAME), sairá a preço inicial de R$ 12,68 e deve movimentar pelo menos R$ 2 bilhões.
O block trade funciona como um leilão e tem 24 horas para acontecer. As 157,6 milhões de ações do Assaí que são detidas pelo Casino serão vendidas a investidores interessados. Se a demanda for de mais 100% - ou seja, há mais interessados do que ativos a serem vendidos -, o valor por ação começa a subir -- essa é a aposta de agentes de mercado ouvidos pela EXAME Invest sobre o que deve acontecer na operação.
Com dívidas bilionárias e risco de troca de controle, o grupo francês está buscando alternativas para reforçar sua liquidez. Embora a saída de um dos seus negócios mais rentáveis não pareça a resposta mais provável, esse foi um dos caminhos encontrados para o grupo levantar recursos.
Pessoas próximas às negociações do Casino, no entanto, afirmam que o uma resolução sobre a participação no GPA deve ser o passo seguinte na trajetória dos franceses. Há, ainda, a operação do grupo colombiano Éxito, que também tem reportado números operacionais mais fortes do que a rede dona do Pão de Açúcar, o que pode tornar esse ativo mais atrativo para potenciais compradores.
A Moody's estima que o Casino precisa pagar € 1,2 bilhão em dívidas que vencem até 2024 e mais € 1,8 bilhão com maturação em 2025. No total, são € 6,4 bilhões em dívidas. Na sexta-feira, 16, o grupo fechou um acordo com credores que deve evitar a declaração de calote de títulos de dívida da varejista francesa. Em comunicado, a Rallye Group, controladora da empresa e representada por Jean-Charles Naouri, informou que os investidores renunciaram ao direito de desencadear eventual default, direto ou indireto, que resulte da abertura do processo de conciliação intermediado pela Justiça francesa.
Em troca, os detentores dos papéis ganham o direito de poder se apropriar, a qualquer momento, de sua parte dos valores mobiliários da Casino mantidos em custódia ou determinar um agente fiduciário a vendê-los. Dois dias antes, a proposta bilionária feita pelo megaempresário theco Daniel Kretinsky recebeu apoio do trio de empresários franceses Xavier Niel, Matthieu Pigasse e Moez-Alexandre Zouari e do Grupo Fimalac. Em abril, Kretinsky, dono do grupo de energia europeu EP e segundo maior acionista do Casino, propôs um aumento de capital de € 1,1 bilhão, o que o colocaria no controle do grupo.
De acordo com pessoas próximas ao negócio, essa pode ser uma oportunidade para acionistas que entraram no Assaí à época do IPO fazerem um melhor preço médio, como, por exemplo, a gestora Orbis que hoje detém 5,9% da empresa.
Analistas de mercado veem a ocasião como oportunidade de melhora da governança da empresa, que já vem nessa toada: do novo conselho, apenas duas cadeiras não são de membros independentes e uma delas é ocupada por indicação do Casino: Philippe Alarcon. Ainda é cedo, segundo pessoas próximas, para saber se Alarcon deva renunciar ao cargo, mas a possibilidade é entendida como alta, embora não seja imediatamente após a saída dos franceses do capital social da empresa.