BC intervém no câmbio pela 1ª vez desde março com dólar a R$ 5,30
Autoridade monetária vende US$ 500 milhões em swap e consegue derrubar a cotação da moeda americana, que sobe com aversão global a risco e incertezas na economia brasileira
Reuters
Publicado em 8 de julho de 2021 às 16h36.
O dólar abandonou a firme tendência de alta do começo do dia e passou a cair nesta quinta-feira, 8 de julho, com o mercado fortemente influenciado pela venda de meio bilhão de dólares pelo Banco Central em contratos de swaps cambiais. Foi a primeira oferta líquida do tipo desde março, após a cotação saltar acima de 5,30 reais no fim da manhã.
Às 16h19, o dólar à vista subia 0,27%, para 5,25 reais na venda.
O rali do começo do dia ocorreu em sintonia com a liquidação de moedas de emergentes e outros ativos de risco nesta quinta, em meio a receios renovados sobre o ritmo da recuperação econômica global. O clima político mais arisco no Brasil também se somou a essa pressão, e o dólar chegou a ensaiar a oitava alta consecutiva.
O BC anunciou a operação de venda de swaps às 11h40 (de Brasília), exatamente quando o dólar bateu a máxima da sessão (a 5,3146 reais, alta de 1,44% naquele momento).
Imediatamente depois a moeda despencou, passando para 5,2780 reais. Na sequência, o dólar seguiu perdendo força e, após a divulgação do resultado do leilão, passou a mostrar queda de 0,37%, a 5,2196 reais, cotação mínima da sessão.
"O dólar operando acima de 5,30 reais chamou a atenção do BC", disse Vitor Péricles, estrategista-chefe da Laic Asset Management. "(O BC) está atuando com derivativos (swaps) para conter volatilidade", completou.
A última vez que o BC havia anunciado oferta líquida de swaps cambiais havia sido em 12 de março, quando o dólar estava na casa de 5,55 reais.
Péricles lembrou ainda a desvalorização do real desde que o dólar tocou a mínima de junho, em torno de 4,90 reais, patamar considerado por ele como "eufórico". "O mercado é que havia exagerado para baixo de 5,00 reais", disse.
Considerando o dólar futuro, o real se depreciou 8,1% (enquanto o dólar subiu 8,8%) entre a cotação mínima recente da moeda dos Estados Unidos em 25 de junho (4,896 reais) e o pico desta quinta (5,327 reais).
Efeitos para o Copom
No mercado, a intervenção do BC no câmbio levantou questionamentos sobre eventual aceleração do ritmo de alta da Selic na reunião do Copom de 3 e 4 de agosto. Segundo entendimento de parte dos agentes financeiros, o BC deixou na última ata do Copom espaço aberto para a intensificação no processo de normalização monetária, com eventual alta de 1 ponto percentual da Selic: a taxa básica saltaria de 4,25% para 5,25% ao ano.
Com a atuação do BC, o real passou a ficar no meio da tabela de desempenho entre 33 pares do dólar, depois de estar entre as piores posições. A moeda brasileira tinha no fim da manhã a melhor performance dentre seus pares mais próximos, que ainda sofriam com a fuga de ativos de risco que derrubava ainda os mercados de ações no mundo.
O iene e o franco suíço, tradicionais ativos de segurança, saltavam 0,7% e 1,1%, respectivamente, no topo dos mercados globais de câmbio nesta sessão.