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Alta renda, dança das cadeiras e OPA da Cielo: o plano do Bradesco para dar a volta por cima

Banco apresentou plano estratégico ambicioso para retomar rentabilidade após mais um balanço aquém das expectativas

Marcelo Noronha, novo CEO do Bradesco, assumiu gestão do banco no final de 2023 (Egberto Nogueira/Divulgação)

Marcelo Noronha, novo CEO do Bradesco, assumiu gestão do banco no final de 2023 (Egberto Nogueira/Divulgação)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 7 de fevereiro de 2024 às 11h31.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2024 às 12h10.

Existe um ditado que recomenda focar em uma coisa de cada vez para, assim, conseguir o melhor resultado. Mas não é isso o que a nova administração do Bradesco defende. Marcelo Noronha, recém chegado ao mais alto posto do banco, quer que a empresa coloque a mão na massa em diversos pontos estratégicos simultaneamente. 

“Não vamos escolher um único foco, vamos fazer tudo ao mesmo tempo”, disse Noronha em coletiva com a imprensa na manhã desta quarta-feira, 7. O CEO apresentou nesta manhã o novo plano estratégico da empresa para os próximos cinco anos, que pretende reverter os problemas dos três últimos. 

A derrocada do Bradesco ficou mais visível no final de 2022, com a divulgação de um balanço que assustou os investidores e fez o banco perder, em um único dia, mais de R$ 30 bilhões em valor de mercado. O começo do desafio, porém, vem desde 2020. No auge da pandemia e dos juros baixos, o Bradesco concedeu mais crédito do que deveria, fazendo disparar a inadimplência e gerando um forte baque nos resultados do banco.

Desde então o Bradesco vem apresentando resultados abaixo do esperado a cada trimestre. O resultado de 2023 ficou mais uma vez aquém das expectativas, com uma rentabilidade abaixo dos principais pares do mercado. O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) do Bradesco, que indica a capacidade do banco de rentabilizar seu capital, ficou em 6,9% – muito abaixo do patamar dos 20% que vem sendo registrado por Itaú e Banco do Brasil, e aquém também do Santander, que conseguiu ficar acima de 10%.

Foi nesse contexto que Noronha assumiu a presidência do banco em novembro de 2023. Desde então houve uma mudança na alta hierarquia da empresa que reorganizou posições e eliminou diretorias. Serão contratados ainda dois executivos C-level, um para negócios digitais e outro para diretoria de RH.

Além da mudança dentro de casa, a ambição era apresentar, já no primeiro resultado deste ano, um plano estratégico capaz de fazer o Bradesco dar a volta por cima. “Nos últimos meses, só não trabalhamos no Natal e no Ano Novo. Entregamos em 60 dias um plano que levaria seis meses.”

O que pretende o novo plano estratégico

O plano estratégico do Bradesco envolve cinco pilares principais: varejo, alta renda, PMEs, pagamentos e ciclo de crédito. “Somos líder ou estamos entre os top 3 maiores bancos em todos os principais segmentos de clientes. Por isso queremos crescer nosso market share em crédito dos atuais 14% para uma faixa entre 15% e 19%”, disse o CEO.

Na alta renda, o Bradesco está criando uma nova categoria entre o private banking e o prime, que antes definia o segmento no banco. O prime agora se localiza numa faixa de renda mensal entre R$ 8 mil e R$ 25 mil reais, enquanto o alta renda afluente deve atender o cliente entre R$ 25 mil e R$ 1 milhão. “O afluente vai ter proposta de valor diferenciada e acima do atual prime. É uma mudança de rota para atender uma base importantíssima”, comentou Cassiano Scarpelli, CFO do banco. O Bradesco estima que tenha 1,7 milhão de clientes nessa faixa de renda – sendo o segundo maior banco no segmento. 

E apesar do foco na alta renda, o negócio principal do banco, no varejo de baixa renda, não será abandonado. “Não vamos sair do nosso core: temos alta penetração e principalidade em torno de 60%. São várias alavancas competitivas. O desafio é o risco de crédito e o segredo está no custo de servir”, disse Noronha. Em varejo, o Bradesco irá dividir o físico do digital, inclusive com a chegada de um novo executivo para negócios digitais que, segundo o banco, será anunciado ao mercado em breve. 

Por sua vez, o objetivo na frente de crédito é ampliar o uso de dados e revisar os modelos – o que já vem sendo implementado desde o segundo semestre de 2023 e, na análise do Bradesco, foi uma das iniciativas responsáveis pela redução da inadimplência nos resultados apresentados hoje. O índice de inadimplência acima de 90 dias, grande desafio do banco nos últimos resultados, caiu no quarto trimestre para 5,1% – melhora de 0,5 p.p. contra o trimestre anterior.

Outro foco é no campo de pequenas e médias empresas, na qual o Bradesco já é líder, com a maior carteira do mercado: R$ 100 bilhões. “Queremos criar agências, plataformas e equipes específicas, com novo modelo de gestão. Serão 122 agências entregues este ano”, disse Noronha.

Já a frente de pagamentos se conecta à de PMEs e também à OPA da Cielo anunciada recentemente. A Oferta Pública de Aquisição, proposta junto com o Banco do Brasil, pretende fechar o capital da adquirente. “O objetivo de melhorar o esquema de pagamentos se conecta à proposta de OPA da Cielo: vamos estar mais próximos de PMEs em pagamentos”, ressaltou.

A meta é ambiciosa, especialmente porque todas as frentes vão estar em transformação ao mesmo tempo. Noronha defende, no entanto, que esta é a melhor saída para voltar a entregar bons patamares de lucro e rentabilidade. “O resultado de 2023 não é o que queríamos entregar; é desafiador. A mudança não será imediata, este ano é de transição. É um plano que vamos realizar passo a passo até 2028.”

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