"Todo mundo nasce trader", diz uma das poucas mulheres ensinando day trade
Carol Paiffer, CEO da Atom, contou à Exame os desafios de ser uma “treinadora de traders” em um mercado majoritariamente (75%) masculino
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2020 às 12h00.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2021 às 18h00.
As mulheres são minorias no mercado financeiro . Você pode confirmar essa informação tentando lembrar quantas mulheres traders você conhece. Ou, olhando os dados da B3 , a bolsa de valores brasileira, que apontam que em agosto de 2020, as mulheres representavam 25% do total de investidores no índice acionário, contra 75% de homens. O mercado é predominantemente masculino e não dá para negar. Mas dá para mudar.
Apesar de ainda baixo, o número de representantes femininas na B3 vem aumentando constantemente há quase 20 anos. Em 2002, elas representavam 17% dos investidores na bolsa. Se o número de mulheres que investem já é pequeno, encontrar mulheres que ensinam como investir é ainda mais difícil, mas a CEO da Atom, Carol Paiffer , tem tentado mudar essa realidade.
Treinamento intensivo com Carol Paiffer
Graduada em administração de empresas, Carol quase ingressou no mercado de moda, mas conheceu a bolsa de valores, decidiu se tornar trader, e hoje atua comprando e vendendo ações no mesmo dia, no chamado day trade. Além disso, a empreendedora também ensina a profissão de trader para outras pessoas por meio da Atom. Em entrevista à Exame, Carol contou os desafios de ser uma das poucas mulheres especialistas no mercado financeiro no Brasil e quais as ações necessárias para mudar esse cenário.
Como você começou a atuar no mercado financeiro e qual foi o caminho até virar "treinadora de traders"?
Comecei há 15 anos no mercado financeiro, ia fazer faculdade de moda quando decidi cursar primeiro administração para a minha futura empresa de moda não ir à falência e acabei conhecendo a Bolsa no primeiro ano de faculdade. Isso mudou totalmente minha vida porque eu entendi que poderia ganhar mais dinheiro se atendesse esse mercado e de uma forma mais inteligente. Quando eu comecei não tinha dinheiro e precisava de clientes, então passei a atuar como agente autônoma. Eu ajudava meus clientes a operar no mercado, mas a maioria das pessoas não entendia a bolsa, então eu comecei a ensinar tudo o que eu sabia. Se hoje as pessoas acham complicado o mercado financeiro, imagina há 15 anos.
Há poucas mulheres atuando no mercado financeiro e menos ainda atuando como uma professora para traders. Como é estar nessa posição?
Infelizmente ainda existem poucas, mas aumentou muito o número de mulheres que investem em bolsa. Desde que eu comecei nesse universo eu criei o “grupo da Luluzinha”, na época que não era nem virtual ainda, era tudo presencial. Nós fazíamos happy hours e eu convidada as mulheres para entender mais sobre esse universo e quebrar esse medo de investir. Infelizmente não somos educados para investir, não só as mulheres, mas os homens também. Isso se reflete nos números, já que apenas 1% da população investe em bolsa. E o desafio sempre foi trazer mais mulheres. Nós percebemos que mulheres ficam mais confortáveis entre mulheres, muitas vezes elas tinham receio de fazer uma pergunta e achar que era boba, então criamos um universo de mulheres para ajudá-las a ficar mais confortáveis.
Quais seriam os passos para mudar essa realidade e inserir mais mulheres nesse mercado?
É essencial que a mulher aprenda mais sobre mercado para ela não ser mais refém da opinião do gerente do banco ou do analista. A mulher tem o papel de transformar uma sociedade, com a influência sobre filhos e família, ela se torna essencial nesse processo de aumentar o número de investidores e poupadores no Brasil. Tem poucas mulheres que dão aulas de mercado financeiro porque há poucas que investem e vivem isso. A maior parte das mulheres que estão entrando nesse mercado ainda não entendem todos os tipos de operações que existem. Para mim foi um desafio no primeiro momento, porque eu comecei muito cedo. As pessoas olhavam para mim e enxergavam uma menininha falando sobre bolsa de valores. Isso gerava um certo preconceito: "Será que ela sabe o que está falando?, Será que eu posso confiar?". Mas isso foi se quebrando e aos poucos as pessoas estão entendendo que é de verdade e que nós podemos ganhar muito dinheiro se todo mundo aprender sobre esse assunto.
Qual é a sua experiência com o empreendedorismo?
Eu posso dizer que eu sempre fui uma empreendedora, porque empreendedorismo é uma atitude, é você não querer fazer as coisas no modelo tradicional. Quando eu tinha uns 9 anos eu e meu irmão fizemos uma horta de alface e vendemos alface para a rua inteira. Vendia desenho, geladinho, limpava casa, cortava grama, sempre querendo fazer alguma coisa para empreender. Hoje sou apaixonada por isso e acho essencial falar sobre, porque está totalmente ligado ao mercado financeiro. Nós temos que aprender a ser multi receitas, a não ficar dependendo apenas de um salário. Eu acredito tanto nisso que no ano passado eu fui convidada a ser sócia do Instituto Êxito, um instituto de empreendedorismo com mais de 350 cursos de graça na plataforma. Eu sou a única mulher sócia fundadora do instituto no meio de 33 homens. E justamente pela falta das mulheres nós fundamos o Êxito Ladies, o braço feminino do projeto, para incentivar outras mulheres a aprender sobre empreendedorismo e acelerar seus projetos.
Você enxerga a profissão de trader como uma das profissões do futuro?
Todo mundo nasceu trader, só não reparou ainda. O trader nada mais é do que um negociante, uma pessoa que compra barato e vende caro. Todos nós somos traders, compramos e vendemos um imóvel, ou um carro, até um ingresso de um show. Todo o tempo nós estamos negociando e o trader faz isso no ambiente online. Eu acredito que todo mundo de alguma forma vai parar no mercado financeiro, porque o dinheiro precisa trabalhar por nós e não apenas nós pelo dinheiro. É um jeito inteligente de as pessoas não terem tanto gasto de energia. Acredito que cada vez mais o mercado financeiro vai entrar como renda extra na vida das pessoas e que pode vir a se tornar até a renda principal, como é o caso na Atom, que tem diversas funções para esses profissionais.