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Ibovespa despenca quase 5% com ingerência em estatais, maior queda desde abril de 2020

Petrolífera desaba 20% e Banco do Brasil e Eletrobras caem com risco de interferência do governo; Lojas Americanas disparam

Presidente da República, Jair Bolsonaro (Evaristo Sá/AFP)

Presidente da República, Jair Bolsonaro (Evaristo Sá/AFP)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 09h34.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2021 às 20h08.

O Ibovespa encerrou esta segunda-feira, 22, registrando a maior queda percentual diária desde abril de 2020, com os investidores receosos sobre a interferência do governo em estatais e com temores de que a agenda liberal do ministro Paulo Guedes vá por água abaixo. Com a inclinação considerada "populista" do presidente Jair Bolsonaro, há dúvidas sobre a própria permanência de Guedes.

O índice recuou 4,87% para 112.667 pontos, menor patamar de fechamento desde 3 de dezembro de 2020 (112.291,59 pontos).

Ações da Petrobras despencando: que fazer? Assista à live com Renato Mimica, CIO da EXAME Invest Pro, e Thiago Duarte, analista do setor de petróleo do BTG Pactual

A forte queda foi puxada pelas ações da Petrobras (PETR3/PETR4), que afundaram 21,52% e 20,48%, respectivamente, como reação à demissão do então presidente da companhia Roberto Castello Branco na noite de sexta-feira, 19. Para seu lugar, Bolsonaro indicou o general Joaquim Silva e Luna, que estava no comando da usina de Itaipu. No último pregão as ações da companhia já haviam caído cerca de 7% com preocupações sobre uma possível saída do executivo, confirmada após o encerramento dos negócios.

O pregão foi conturbado também por temores sobre outras estatais. Isso porque, no fim de semana, Bolsonaro sinalizou novas trocas e afirmou que nesta semana "tem mais".

Indicando interferência na Eletrobras (ELE3/ELET6), o chefe do Executivo também chegou a dizer que irá "meter o dedo na energia elétrica". As ações da companhia chegaram a cair 10% no momento mais crítico do pregão, mas se recuperaram e encerraram o dia em queda de 0,69% e 0,17% respectivamente.

Já o Banco do Brasil corre o risco de perder seu presidente, André Brandão, que segundo a coluna de Lauro Jardim, do O Globo, não deve ter contrato renovado em março. Sob ameaça, os papéis da instituição financeira despencaram 11,65%.

Com o risco de interferência no horizonte, analistas do Credit Suisse rebaixaram a recomendação sobre as ações do Banco do Brasil, Eletrobras e Petrobras.

"Acreditamos que o impacto não é apenas negativo para a Petrobras, mas também para outras estatais, como o Banco do Brasil, que já estava sob escrutínio do mercado para potencial interferência política como resultado do atrito entre o presidente Bolsonaro e os novos nomeado CEO Andre Brandão", afirmam em relatório.

No início do ano, Brandão e Bolsonaro se desentenderam após se tornar público a estratégia de redução de custos do banco, que incluía plano de demissão voluntária e redução do número de agências.

Com a nova roupagem do governo, investidores temem que não só as estatais sejam atingidas negativamente, mas toda a economia brasileira, com a agenda de reformas ameaçada.

"A principal questão não é nem a troca de nome [na Petrobras]. Mas isso quebra toda a confiança tanto na governança corporativa da empresa quanto no andamento da agenda liberal. Muito se fala que agora o governo pode ir para esse lado mais populista. E esse silêncio do Guedes incomoda bastante. Certamente, ele não está contente", afirma João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.

Parte dessa preocupação se materializa no mercado de câmbio, com o dólar subindo 1,27% frente ao real e encerrando o dia negociado a 5,453 reais. A máxima do dia, porém, foi de 5,535 reais, alta de 2,79%. A moeda americana esfriou os ganhos seguindo o movimento externo, com a moeda amenizando a valorização frente a peso mexicano, rand sul-africano e lira turca, pares do real.

O que também ajudou a aliviar o pessimismo tanto no mercado de câmbio quanto na bolsa foi a confirmação de Bolsonaro de que ele irá sancionar a independência do Banco Central. Após a declaração via rede social, o real e o Ibovespa reduziram em parte as perdas.

Em meio ao pessimismo generalizado, duas ações do Ibovespa se destacaram nesta segunda-feira: as da Lojas Americanas (LAME3;LAME4) e da B2W (BTOW3). Os papéis das Lojas Americanas disparam 40% e 19,88%, respectivamente, e os da B2W subiram 1,15% após anunciarem que estudam uma combinação de negócios. A B2W já é controlada pelas Lojas Americanas e é responsável pela parte de vendas digitais da companhia.

Veja abaixo live da EXAME sobre as ações da Petrobras:

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