Fim da guerra da cerveja? Pelas vendas de setembro, a estratégia da Petrópolis está mudando
Para o BTG Pactual, números mais recentes mostram menor agressividade de preços da dona da Itaipava
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 23 de novembro de 2024 às 13:00.
Última atualização em 24 de novembro de 2024 às 10:57.
A Petrópolis complicou o jogo para Ambev e Heineken ao longo de 2024, mas os números de setembro, publicados agora pela cervejaria dona da Itaipava, indicam que essa disputa deve voltar a ficar mais equilibrada.
Como parte do seu processo de recuperação judicial, o Grupo Petrópolis divulgou seus números de setembro, mostrando volumes estáveis em relação ao ano anterior, totalizando 1,9 milhão de hectolitros, após cinco meses consecutivos de crescimento médio de 25%. Por outro lado, os preços médios subiram sequencialmente pelo segundo mês seguido, com alta de 7% em setembro em relação a agosto, embora ainda estejam 12% abaixo dos níveis de fevereiro.
Atualmente, a Petrópolis está com 50% de ociosidade da capacidade, o que fez a alavancagem operacional fundamental para a empresa voltar a ter equilíbrio financeiro suficiente para tirá-la da recuperação judicial. Para ganhar mercado e aumentar volume, a companhia assumiu uma estratégia agressiva de preços, com valores entre 10 e 20 centavos mais baixos do que os rótulos das concorrentes.
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"Embora a estratégia tenha tido sucesso em impulsionar volumes, a forte redução nos preços médios nos levou a acreditar que essa abordagem não era sustentável. A pergunta sempre foi: quanto tempo levaria para que uma estratégia mais racional prevalecesse?" questiona o time do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) que cobre o setor, liderado por Thiago Duarte.
Mas, segundo os analistas, o ponto de inflexão parece ter chegado.
Em agosto, a Petrópolis aumentou seu preço por hectolitro em 12% em relação ao mês anterior, seguido por mais um aumento de 7% em setembro. Como resultado, os volumes de setembro permaneceram estáveis em relação ao ano anterior. A estimativa da equipe do BTG é de que a empresa perdeu 3,5 pontos percentuais de participação de mercado em dois meses — de 14% em julho para 12,5% em agosto e 10,5% em setembro.
"Isso indica uma possível mudança para uma estratégia mais equilibrada, alinhando aumentos de preços com a retenção de volumes. O aumento nos custos de insumos (alumínio, plástico PET e açúcar) provavelmente também está pressionando a Petrópolis e a indústria em geral, tornando sua estratégia de preços agressiva cada vez mais insustentável. Isso pode abrir caminho para um ambiente competitivo menos intenso frente à Ambev e Heineken."
Os números do terceiro trimestre (período de junho a setembro) da Ambev sugeriam um cenário mais pessimista, com um mercado mais irracional. O trimestre também foi mais desafiador para a Heineken. No entanto, as marcas principais da Ambev, especialmente a Skol, aparentemente foram as que mais perderam espaço enquanto a Petrópolis reagiu, com a Itaipava e a Petra se destacando.
"Se os próximos meses confirmarem uma abordagem menos agressiva do Grupo Petrópolis, a Ambev poderá, eventualmente, adotar uma política de preços menos agressiva no futuro", acreditam os analistas do banco. Mas, como a Ambev é líder (com folga) de um mercado bastante maduro, a sustentabilidade do poder de precificação é "crucial", reforçam os analistas, para impulsionar o crescimento de longo prazo da Ambev.
O BTG Pactual mantém recomendação neutra para a ação da Ambev e, ao que tudo indica, quer ter mais clareza de que a estratégia da Petróplis não foi mesmo água no chope da dona da Brahma.
A ação da Ambev subiu 2,42% para R$ 12,69 nesta sexta-feira, 22. No ano, acumula perda de 7,44%.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado