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B3: compra da Neoway é maior movimento de diversificação da bolsa

Companhia traz atuação em serviços e setores que B3 ainda não estava presente, mas que casam com novo slogan "A casa onde todos os negócios acontecem"

Bolsa: fusões e aquisições para estratégia de crescimento vertical e horizontal, em busca de mais receita e maior fidelidade (Germano Lüders/Exame)
Bolsa: fusões e aquisições para estratégia de crescimento vertical e horizontal, em busca de mais receita e maior fidelidade (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 19 de outubro de 2021 às 09:53.

A B3 fez sua maior aquisição desde as fusões com BM&F e Cetip. Mas, agora, a transação extrapola os limites do mercado de capitais e é também o maior movimento de diversificação já feito pela empresa. A bolsa acaba de acertar o pagamento de R$ 1,8 bilhão pela Neoway, empresa de análise de dados. “É sem dúvida o maior passo que já demos para além do nosso core business”, afirma Daniel Sonder, diretor financeiro da companhia, em entrevista exclusiva ao EXAME IN. A bolsa não vai mais ser só bolsa. O plano é ser "a casa em que todos os negócios acontecem."

O pagamento será em dinheiro e vem após um período de bonança para a bolsa, com todo o agito no mercado dos últimos dois anos: grandes volumes de negociação e muitas novas listagens de empresas.

A receita da bolsa neste ano deve alcançar R$ 10 bilhões. No ano passado, foram R$ 9,3 bilhões e 13% disso já veio da área de dados, tecnologia e serviços. É exatamente nessa linha que vai entrar a Neoway, que tem expectativa de faturar R$ 190 milhões em 2022 — dado que não inclui nenhuma sinergia com a bolsa.

Já tem tempo que a B3 passou a ser também uma fornecedora de dados para o mercado financeiro. Agora, porém, quer vender mais do que a informação. Ter uma base forte de dados já não é mais um diferencial suficiente. Com a Neoway, a bolsa quer ir além e oferecer soluções para tomada de decisões e definição de estratégia das mais variadas companhias e setores.

A premissa da transação é que as companhias, unidas, podem ter grande velocidade de crescimento nessa frente. “A Neoway traz tudo que ela já fazia, e que seguiremos, e que agora vai se somar à nossa base, o que representa uma grande oportunidade para avançar também na área de serviços financeiros”, diz Sonder. Na largada, são frentes novas para as duas empresas. O executivo conta que existem estudos internos sobre o potencial de sinergia em receita, mas que a B3 ainda não está pronta para dividir essas informações com o mercado, o que vai acontecer conforme houver segurança sobre isso.

A Neoway tem mais de 500 clientes e atende os 20 maiores setores da economia, desde varejo até óleo e gás. É especializada em agregar dados e empacotar de uma forma que atenda às necessidades dos clientes. Por exemplo, agregar, com respeito à privacidade dos usuários, para entender em detalhes sinistralidades para o setor de seguros ou inadimplência para o varejo. "Não adquirimos só os clientes, mas toda a capacidade da Neoway de inovação e criação e a experiência dos mais de 450 funcionários deles. Então, são pessoas, talentos e agilidade nesse pacote."

Embora nenhum movimento prático tenha ido nessa direção, são cada vez mais frequentes as conversas no mercado sobre a criação de um ambiente de negociação concorrente ao da B3 — seja para produtos específicos, seja para um coletivo de títulos. Por isso, a bolsa vem acelerando em sua estratégia tanto de verticalização quanto de diversificação de serviços, especialmente via aquisições. Esse recado já foi dado aos investidores.

Capacidade para grandes passos não falta à casa. Para entender o tanto de riqueza que a companhia gera, basta lembrar que nos últimos 10 anos, foram distribuídos cerca de R$ 19 bilhões aos acionistas, na forma de dividendos.

“A Neoway casa perfeitamente com nossa estratégia de sermos a casa onde todos os negócios acontecem”, enfatiza Sonder. Esse é o slogan da B3 que, internamente, vem sendo um mantra e pano de fundos da estratégia de fusões e aquisições. Antes desse movimento, em julho, a bolsa anunciou um aporte de R$ 600 milhões em uma parceria com a empresa de software TOTVS para criação de um negócio voltado à gestão e soluções para o mercado financeiro, a Dimensa.

“Já que nós ocupamos esse lugar de provedores de serviços para o mercado financeiro, estamos olhando o que mais podemos oferecer para o cliente. Queremos não só sermos os melhores e mais eficientes nisso, como também naquilo que não era, até agora, nosso core business”, comenta ele, ao falar sobre como todas as novidades também estão em linha com a estratégia de fidelizar os clientes para um possível futuro cenário de competição. É expansão horizontal e vertical, ao mesmo tempo.

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