Marcelo Desterro palestrou para alunos dos MBAs da Faculdade EXAME (Lucas Sales/Exame)
Publicado em 16 de dezembro de 2024 às 17h00.
O mundo empresarial como um todo foi tomado por discussões sobre ESG e IA neste ano de 2024. Processos mudaram e equipes foram reimaginadas: o impacto foi sentido por todas as seções das empresas, independentemente de seu setor. As finanças corporativas não foram diferentes.
Com a chegada das otimizações da inteligência artificial e das oportunidades que o ESG oferece, tanto os processos financeiros, quanto a relação das empresas com o mercado, stakeholders e sociedade mudou.
Para Marcelo Desterro, CFO do Grupo Mantiqueira e professor do MBA de Finanças Corporativas da Faculdade Exame, uma abordagem integrada é essencial para empresas que buscam competitividade a longo prazo.
“A sustentabilidade empresarial não é mais uma opção. Ela precisa estar no coração das estratégias financeiras," destacou Desterro, durante sua participação no Exame Talks, série de palestras exclusiva para alunos dos MBAs da Faculdade Exame. "Empresas que adotam ESG com responsabilidade são melhor avaliadas no mercado, atraem talentos e têm acesso a financiamentos mais vantajosos."
O conceito de ESG abrange mais do que a sustentabilidade ambiental, incorporando também práticas sociais e de governança que reforçam a credibilidade das empresas e atraem investidores.
Um exemplo prático são os títulos verdes, ou green bonds, que oferecem condições financeiras vantajosas para empresas comprometidas com metas sustentáveis.
No entanto, há exigências rigorosas para garantir que o dinheiro seja usado conforme prometido. “Se a empresa não comprovar que os recursos foram aplicados em projetos alinhados às metas ESG, ela perde o benefício da taxa reduzida e precisa pagar os juros integrais do mercado retroativamente”, explicou.
Além disso, o ESG é um elemento estratégico para atrair talentos e investidores. A Natura, por exemplo, virou referência mundial no assunto e se tornou uma das 10 empresas com vagas mais cobiçadas pelos brasileiros. Entre outras iniciativas, a marca desenvolve projetos sociais com suas consultoras e suas famílias.
“Empresas socialmente responsáveis constroem valor não apenas para os acionistas, mas também para toda a sociedade onde estão inseridas”, afirmou. "Estudos da McKinsey confirmam que organizações com fundamentos sólidos em ESG são mais valorizadas na Bolsa e têm maior retorno financeiro."
A IA tem sido muito importante para aumentar a eficiência das finanças corporativas. Tecnologias de automação e análise preditiva otimizam processos como conciliação bancária, análise de contratos e projeções financeiras.
“A inteligência artificial libera as equipes de tarefas braçais e permite que elas se concentrem em análises mais estratégicas. Isso pode economizar milhões para uma empresa”, destacou Desterro, citando exemplos de projeções precisas de fluxo de caixa e precificação dinâmica em mercados, como o Uber.
O uso de IA também tem aplicações práticas em sustentabilidade, como o monitoramento de emissões de carbono e a identificação de riscos ambientais de projetos. Em iniciativas financiadas com títulos verdes, algoritmos verificam o cumprimento de metas ambientais, como a redução de emissões ou a otimização do consumo de recursos naturais.
Além disso, empresas estão utilizando a tecnologia para gerenciar melhor seus estoques e fluxos de produção. “Imagine um supermercado que usa IA para monitorar a vida útil dos produtos, reduzindo desperdício e otimizando pedidos aos fornecedores. Isso é inovação aplicada diretamente ao financeiro e ao ESG”, exemplificou.
A inovação desempenha um papel estratégico nas empresas, especialmente quando aliada à inteligência artificial e aos princípios de ESG. Essa combinação cria um impacto direto no desempenho financeiro e na resiliência organizacional, ajudando as empresas a se tornarem mais eficientes e sustentáveis.
Tecnologias emergentes, como a Indústria 4.0 – que integra automação, dados e conectividade – e o blockchain, oferecem soluções que simplificam processos, aumentam a transparência e reduzem custos operacionais. Essas tecnologias possibilitam, por exemplo, maior controle em cadeias de suprimentos, melhorando a rastreabilidade de produtos e assegurando conformidade com padrões sustentáveis.
Desterro destacou a integração de práticas sustentáveis nos setores energético e agrícola. Empresas como a JBS e a Raízen estão liderando iniciativas de descarbonização e transição para energias renováveis, garantindo acesso a financiamentos mais baratos por meio de títulos vinculados a metas ESG.
“Empresas que se comprometem com práticas inovadoras e responsáveis têm maior credibilidade com bancos e investidores”, explicou.
Para Desterro, a adoção desses pilares é inevitável.
“A inovação é o motor de transformação das finanças corporativas. E a IA, ao lado do ESG, proporciona uma vantagem competitiva inegável," finalizou. Estamos falando de uma nova forma de fazer negócios, que conecta eficiência operacional, sustentabilidade e impacto positivo para a sociedade.”