Visa: Drex e regulação dão "nível de maturidade único" para economia do Brasil
Em entrevista exclusiva para a EXAME, Catalina Tobar destacou importância de criação de ferramentas para interoperabilidade de blockchains
Repórter do Future of Money
Publicado em 13 de setembro de 2023 às 15h31.
Última atualização em 13 de setembro de 2023 às 16h39.
Com uma atuação global e referência na área de meios de pagamento, a Visa tem o Brasil como uma das suas prioridades de atuação, enxergando um "nível de maturidade único" na economia do país em um processo de digitalização marcado por diversos avanços recentes. É o que avalia Catalina Tobar, head de Soluções Cripto da Visa para a América Latina e o Caribe, em uma entrevista exclusiva à EXAME.
Tobar destaca que a Visa tem olhado cada vez mais para o tema cripto, avançando em projetos que vão desde medidas para aumentar a segurança no ecossistema até incentivar a criação de novos casos de uso e aplicações da tecnologia blockchain para além das já conhecidas criptomoedas. E, nesse processo, o Brasil tem despontado como um mercado relevante.
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A executiva explica que o time de cripto e blockchain da Visa foi criado em 2018. Hoje, a equipe é global e conta com mais de 50 pessoas. O foco, no momento, vai além de "ativos específicos", e se concentra em "pensar em como alavancar a tecnologia blockchain, como melhorar a infraestrutura atual e também melhorar a rede da Visa, mas também sobre como começar a desenvolver novas soluções com blockchain para a área de pagamentos".
América Latina e criptoativos
Tobar ressalta que a América Latina é, atualmente, uma das principais regiões do mundo em termos de adoção de criptoativos. Dos 20 países com maior nível de adoção, cinco são latinoamericanos . No caso da Visa, o foco de atuação nesse mercado tem envolvido principalmente o Brasil, a Argentina e o México, que também são as maiores economias da região.
Citando um estudo recente realizado pela Visa, a executiva comenta que a adoção de criptoativos tem sido maior em países emergentes que nos desenvolvidos: no primeiro grupo, ela supera o número de 40% dos entrevistados, enquanto que, no segundo, a cifra é inferior a 30%. Por trás desse processo, Tobar vê diferentes motivos, que geram casos de uso mais populares em cada país.
Há a visão de que os criptoativos representam uma "tecnologia do futuro" ou que servem como alternativas de investimento. Alguns também se voltaram para esse mercado porque veem os ativos digitais como uma alternativa à volatilidade de suas moedas nacionais e como proteção contra a inflação, em especial na Argentina e na Venezuela.
Por isso, "a indústria está no início dessa jornada, mas temos visto uma adoção importante". Nesse processo, a Visa tem se dedicado a "ajudar reguladores a entender a tecnologia, o que precisam para regular e proteger os consumidores e para dar oportunidades para introduzir soluções inovadoras onde as de hoje não conseguem chegar".
Nesse sentido, Tobar cita um interesse crescente de empresas internacionais na América Latina, algo que não parou mesmo com o momento mais adverso do mercado. Já a Visa tem se esforçado para criar uma "ponte entre a Web2 e a Web3 , vinculando diferentes plataformas de cripto com as diferentes plataformas tradicionais".
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A importância do Brasil
A executiva da Visa ressalta que "o Brasil é uma das prioridades" da empresa a nível global. Pensando na digitalização da economia, ela afirma que o país tem um "nível de maturidade único", que pode ser comparado com poucos mercados: "O Brasil está sendo pioneiro em fomentar esse processo através de uma regulação clara e uma agenda digital específica, fomentando essa participação de diferentes players digitais".
A regulação, explica Tobar, deve abrir margem para o surgimento de diferentes produtos que estejam ligados de alguma forma à tecnologia cripto, em especial os blockchains. Desde junho, já está em vigor o Marco Legal das Criptomoedas , um primeiro conjunto de regras para o mercaso cripto. Ao mesmo tempo, um dos maiores símbolos da maturidade do país é o avanço do Drex , a versão digital da moeda brasileira que está atualmente em fase de testes com um piloto.
Tobar ressalta que a Visa trabalha com o Banco Central nesse tema há mais de dois anos, mas que só agora a maioria dos Bancos Centrais passou a se atentar à introdução de blockchain em suas agendas de inovação. Por outro lado, a" agenda específica do Brasil está clara, com projetos específicos, e por isso é prioridade [para a Visa]".
A executiva pontua que a empresa se esforçou para participar da iniciativa "desde cedo", inclusive no LIFT Challenge, um laboratório que reuniu diferentes casos de uso para o Drex, até então chamado de Real Digital. O objetivo da empresa tem sido "entender os pilares, os drivers e as problemáticas que se aplicam ao Brasil e que são extensivas a nível mundial".
Tokenização e blockchains
Um dos temas que surgiu como foco da empresa é a interoperabilidade entre blockchains. Para Tobar, desenvolver ferramentas que permitam interagir facilmente com outras redes será essencial, em especial porque, no momento, tudo indica que "não haverá um protocolo blockchain do futuro, mas sim vários". Por isso, a Visa tem buscado avançar nesse tema, seja desenvolvendo tecnologias ou introduzindo padrões globais de adoção e uso.
"É difícil pensar em um mundo só com uma plataforma, assim como com uma só moeda. Exisitrão múltiplas plataformas, blockchains, e mesmo em um país. Cada instituição pode escolher o blockchain que vê mais sentido. Mas a chave é a interoperabilidade, conectar de maneira eficiente. Ainda é cedo, mas provavelmente cada instituição vai escolher o blockchain que faça mais sentido dependendo das prioridades estratégicas, da jornada de atualização técnica", comenta.
Outra novidade que a Visa vem desenvolvendo é uma plataforma que busca facilitar a realização de operações de tokenização , a "passagem" de ativos tradicionais para o mundo cripto. O objetivo é "oferecer a diferentes instituições a possibilidade de entrar no mundo da tokenização com uma mudança técnica mínima, disponibilizando APIs, experiência simples e a possibilidade de experimentar de maneira escalável casos de uso específico e emitir, trocar e queimar tokens externa e internamente, sem mudanças grandes de infraesrutura".
A tokenização também surgiu como um dos focos do Banco Central e do mercado financeiro para os próximos anos, com desafios que incluem temas de segurança e privacidade. Tobar lembra que a Visa trabalha nesse tema há decadas, desde a "tokenização convencional" dos dados dos clientes nos chips de cartões. Agora, a empresa vê um "ponto de inflexão, com a possibilidade de repensar como é o formato da moeda. Mas o que segue sendo relevante é sempre garantir transações seguras".
"O que dá força à tokenização é a possibilidade de atualizar a infraestrutura atual, e isso não significa que hoje a infraestrutura não funcione bem, mas podemos ter novas eficiências operativas, diminuir intermediários, custos, fazer uma ponte para que diferentes setores consigam implementar diferentes casos de usos de uma forma mais eficiente", ressalta.
Com o Drex, Tobar explica que "na medida que as entidades comerciais reguladas têm acesso a essa moeda que faz parte da política monetária do país, isso torna as entidades bancárias um jogador relevante. Elas estarão no meio do caminho, permitindo o vínculo com a camada de infraestrutura regulada, com garantia de reserva, mas também desenvolvendo tokens, que são stablecoins, versões tokenizadas de instrumentos financeiros já respaldados e com diferentes casos de uso".
Para os próximos anos, a executiva da Visa projeta que o avanço dessa nova tecnologia deverá trazer "mais liquidez, novos marketplaces, onde através da fracionalidade e programabilidade você consegue que os consumidores individuais tenham acesso a diferentes produtos financeiros que hoje não conseguem acessar. É cedo para apontar um caso de uso mais provável, mas as possibilidades são múltiplas".
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