Trump, o fundo soberano e o jogo de poder: dólar, bitcoin e TikTok em xeque

Donald Trump mal tomou posse em seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos e já movimentou o mercado de diversas maneiras

O presidente dos EUA, Donald Trump, se encontra com o presidente francês Emmanuel Macron (fora do quadro) no Salão Oval da Casa Branca em Washington, DC, em 24 de fevereiro de 2025. (Foto de Ludovic MARIN / POOL / AFP) (Ludovic MARIN /AFP)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 2 de março de 2025 às 10h00.

Por Danilo Matos*

Donald Trump mal tomou posse em seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos e já movimentou o mercado de diversas maneiras. O próximo passo dele pode transformar o dólar, impulsionar o bitcoin e até salvar a atuação do TikTok no país em um só golpe, mas, para isso, a maior potência global precisaria equilibrar um déficit trilionário.

É fato que Trump iniciou seu mandato com falas e atitudes um tanto quanto enérgicas. A da vez: uma ordem executiva propondo a criação de um Fundo Soberano de Riquezas norte-americano. O presidente afirmou que esse fundo poderá ser utilizado para o desenvolvimento de infraestrutura, como aeroportos e rodovias, aumentar a influência americana em países estratégicos e até mesmo, comprar parte da plataforma chinesa de vídeos curtos, Tik Tok.

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Estima-se que o aplicativo valha “bem mais de US$ 100 bilhões” com o algoritmo - e potencialmente até US$ 200 bilhões em um “melhor cenário”, segundo o analista da Wedbush, Dan Ives. O aplicativo foi retirado do ar brevemente em meio a preocupações com a segurança, mas Trump assinou uma ordem permitindo que ele voltasse e prometeu “salvar a plataforma”.

Mas a verdade é que não é como se os Estados Unidos estivessem nadando em piscinas de dinheiro oriundo de receitas naturais e barris de petróleo, como é o caso de países como Noruega ou Arábia Saudita, nações com fundos soberanos já consolidados.

Fundo Soberano, a carteira de investimentos do governo

Um fundo soberano ou fundo de riqueza soberana (em inglês, sovereign wealth fund, SWF) é um instrumento de investimento controlado e administrado pelo governo que garante retornos financeiros de longo prazo, sendo baseado principalmente na venda de recursos naturais, como minerais e petróleo. Ele também pode incluir a aquisição de ações, imóveis ou títulos

No caso dos Estados Unidos, a proposta de Trump levanta uma questão contraditória: de onde virá o dinheiro para abastecer esse fundo?

Diferente de nações que utilizam recursos naturais, como o petróleo norueguês ou os superávits fiscais de China e Singapura, os EUA enfrentam um déficit orçamentário de US$ 1,8 trilhão e uma dívida pública que ultrapassa os US$ 36 trilhões. Criar um fundo soberano sem um lastro sólido pode ser tão ambicioso quanto arriscado.

Ainda assim, o governo sugere que esse fundo poderá ser financiado de maneiras pouco convencionais. Elas incluem: tarifas sobre importação como fonte de receita e monetizar ativos federais, como os 1,2 trilhão em edifícios federais subutilizados, os US$ 2 trilhões em ativos de empréstimos estudantis, ainda que possam ser cancelados, e pelo menos US$ 21 bilhões em ativos digitais confiscados.

Mas seria isso o suficiente para colocar os EUA na mesma categoria de potências como China e Noruega? O fundo soberano norueguês considerado o maior do mundo anunciou um lucro anual recorde de 2,5 trilhões de coroas norueguesas ou R$ 1,2 trilhão.

O Fundo Estatal de Pensão foi avaliado em 19,7 trilhões de coroas no final de 2024 com um ROI - retorno sobre o investimento - de 13% ao ano. Criado nos anos 90 para investir seus recursos naturais excedentes como petróleo e gás, possui atualmente mais de 8.000 empresas em 63 países.

Por sua vez, os fundos soberanos chineses vêm logo atrás, sendo os principais a China Investment Corporation (CIC) e a State Administration of Foreign Exchange (SAFE), possuindo 1,3 trilhões de dólares e 1,1 trilhões, respectivamente.

No curto prazo, a criação de um fundo soberano americano poderia fortalecer o dólar como uma ferramenta de influência internacional, reduzindo a necessidade de emissão excessiva de dívida pública.

No entanto, um movimento desse porte também pode gerar reações adversas: investidores estrangeiros podem enxergar um Estado mais intervencionista e reagir com cautela, afastando capital de setores estratégicos. Além disso, empréstimos estudantis não geram caixa imediato e prédios públicos não são simples de vender.

Por outro lado, os investidores de bitcoin podem ficar felizes ao verem o ativo sendo incluído mais uma vez nas propostas do presidente. Se considerarmos que todos US$ 21 bilhões de ativos digitais confiscados pelos EUA fossem Bitcoin e tivessem sido agregados a um fundo em janeiro de 2024, ao final do mesmo ano o governo já teria um fundo com mais de US$ 59 bilhões em criptomoedas.

Dentro dessa equação, o TikTok surge como um elemento geopolítico de peso. A tentativa de compra parcial ou total do aplicativo por meio do fundo soberano pode ser vista como uma manipulação direta à influência digital chinesa. Afinal, controlar um dos maiores algoritmos de recomendação do mundo significa controlar a narrativa digital de uma geração inteira.

Resta saber se essa proposta representa um novo capítulo da economia americana ou apenas mais um episódio grandioso de Donald Trump em sua busca por transformar os EUA em um império financeiro global. E nesse jogo de poder, o bitcoin, o dólar e até mesmo o TikTok são apenas peças de um tabuleiro muito maior.

*Danilo Matos é especialista de mercado da NovaDAX.

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