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Tokens de renda fixa: vale a pena investir?

Tokens de recebíveis podem oferecer retornos melhores do que a renda fixa tradicional. Vêm conquistando os investidores com bons rendimentos, baixo risco e nenhuma burocracia. Entenda como funcionam e se encaixam com o seu perfil

 (Reprodução/Reprodução)

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Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 10 de abril de 2023 às 10h58.

Por Felippe Percigo*

@felippepercigo

Investidores entusiasmados com as inovações trazidas pelo mercado cripto nem sempre estão dispostos a viver o carrossel de emoções comum a quem opera nele. Há de se exercer controle emocional e ter paciência adicional para enfrentar as flutuações sem se deixar levar.

A boa notícia é que a mesma tecnologia responsável por dar vida às criptomoedas também criou uma nova categoria de ativos de renda fixa.

Já ouviu falar de tokens de recebíveis? Uma modalidade super recente, mas com um potencial incrível de transformar o gigante mercado de crédito no Brasil.

Vamos entender como funciona esse tipo de investimento.

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Tokens de recebíveis: o que são

Os tokens de recebíveis são bons exemplos de como o blockchain pode ajudar a desintermediar o mercado de crédito, tornando-o mais dinâmico, ágil e gerando oportunidades de retorno melhores tanto para a empresa que gera o ativo (recebível) quanto para o investidor.

Um recebível, como o nome diz, é um valor que uma empresa espera receber de um cliente.

Por exemplo, suponha que uma companhia tenha uma fatura a receber no valor de R$ 10 mil com vencimento daqui a 60 dias. Se ela decidir antecipar esse recebível, pode negociar com um banco ou um FIDC (Fundo de investimento em direitos creditórios) um adiantamento de, por exemplo, R$ 9,5 mil, ou seja, com um desconto de 5%, em troca dos direitos sobre essa fatura.

A entidade que oferece a antecipação de recebíveis recebe a fatura e, quando o pagamento for realizado pelo cliente, ela receberá o valor nominal da fatura, que será superior ao valor que adiantou para a empresa.

O problema dessa modalidade no mercado tradicional é que restringe o acesso a crédito pelas empresas, que precisam procurar bancos ou FIDCs para conseguir fazer essa antecipação importantíssima para o funcionamento de seus negócios. O processo é complicado, mais demorado e sai caro.

Hoje, os FIDCs são restritos ainda a investidores qualificados e profissionais, aqueles que já investem milhões na Bolsa de Valores, mas isso está previsto para mudar em outubro deste ano, quando pessoas físicas serão liberadas para participar.

A prática de antecipação de recebíveis no sistema convencional vem acompanhada de diversas limitações para as empresas, como esbarrar em falta de limite no banco para desconto do ativo, barreiras de cadastro, outras burocracias e ainda ficar suscetível a um mercado de poucos players, onde há baixa competição. Isso se reflete em dinheiro mais caro, com taxas mais altas para acessar o capital.

O blockchain torna possível a desintermediação e reduz significativamente as travas.

Por meio da tokenização, uma empresa que tem um valor a receber consegue transformar esse direito em um bem digital e fracioná-lo, disponibilizando-o em partes no mercado, via plataformas especializadas, para qualquer pessoa interessada em investir.

Assim, o investidor ganha uma nova opção de investimento de baixo risco no mercado de crédito e consegue participar com uma quantia que caiba em seu bolso.

Com R$ 25, já é possível investir em tokens de recebíveis nas plataformas dedicadas, que inclusive são muito parecidas com as de corretoras tradicionais.

No Brasil, as mais populares são a Liqi e o Mercado Bitcoin. É só criar uma conta, transferir o dinheiro e começar a investir com o saldo disponível. Vale ressaltar, porém, que os tokens ficam sob custódia das empresas e não podem ser armazenados em carteiras digitais como fazemos com as criptomoedas.

Os tokens de recebíveis têm seu retorno com juros ou deságios e prazo previamente determinados, funcionando como uma renda fixa.

Tokenização

A tokenização está sendo chamada de “o futuro da economia”. Praticamente tudo pode ser tokenizado, desde obras de artes, imóveis, grãos e até carreiras. Esse mercado deve ultrapassar os US$ 13,5 bilhões até 2030, de acordo com um relatório recente da Grand View Reseach.

O processo de tokenização de ativos envolve a conversão dos ativos em tokens digitais, que são armazenados em um blockchain. A tecnologia permite que esses ativos sejam facilmente negociados e transferidos entre as partes interessadas, sem a necessidade de intermediários ou custódias complexas.
Esses tokens são, então, vendidos aos investidores, que passam a deter uma fração do ativo representado pelo token.

Vamos pegar como exemplo uma empresa que é dona de um prédio comercial e decide tokenizar esse ativo. Ela contrata uma companhia especializada em tokenização, que faz a avaliação do prédio e emite tokens equivalentes a, suponhamos, 1% do valor total do imóvel. Esses tokens serão vendidos a pessoas interessadas em ter uma fração do prédio.

Categorias de tokens

Recentemente, a CVM divulgou um parecer de orientação em torno dos criptoativos como base para o tratamento jurídico do tema e reconheceu três categorias de tokens:
Token de Pagamento (cryptocurrency ou payment token): busca replicar as funções de moeda, notadamente de unidade de conta, meio de troca e reserva de valor.
Token de Utilidade (utility token): utilizado para adquirir ou acessar determinados produtos ou serviços.
Token referenciado a Ativo (asset-backed token): representa um ou mais ativos, tangíveis ou intangíveis. São exemplos os “security tokens”, as stablecoins, os non-fungible tokens (NFTs) e os demais ativos objeto de operações de tokenização.

É nesta terceira categoria que estão incluídos os tokens de recebíveis. O ativo de referência, nesse caso, são aqueles que envolvem um pagamento no futuro, como uma nota fiscal ou o contrato de aluguel de um estabelecimento.

Por que usar blockchain?

A infraestrutura do blockchain gera uma eficiência inédita para operações de antecipação de recebíveis. Possibilita conectar ativos e investidores com um mínimo de intermediários, quebrando um círculo vicioso do mercado de capitais que, ao contrário do que se propõe, não vem conseguindo criar um ecossistema descomplicado para se obter crédito.

O blockchain permite registrar as regras do ativo, das transações e facilita o rastreamento e a auditoria das informações, que não podem ser alteradas devido à natureza da tecnologia.

Sua utilização também resulta em emissões mais baratas, mais seguras e transparentes. O processo manual costuma trazer riscos, como os de fraude ou erro humano. Com o blockchain, as regras do jogo são programadas, sem a necessidade de terceiros, o que também ajuda a reduzir os custos da operação.

Essa redução de custos é repassada tanto para a empresa que decidiu tokenizar seu ativo como para quem os adquiriu, melhorando seus rendimentos. No mercado tradicional, ambos os lados acabam pagando as contas dos processos manuais e dos demais elementos da infraestrutura gerada para executar a operação.

Limitações

Diferentemente do dinamismo das criptomoedas, os tokens de renda fixa ainda exigem que o investidor permaneça com o ativo até o vencimento estabelecido no contrato, quando receberá o retorno do seu investimento acrescido dos juros.

Ainda não existe um mercado secundário desenvolvido que dê liberdade aos detentores dos ativos de negociá-los a qualquer momento. Por isso, as plataformas que comercializam tokens de recebíveis costumam apostar em ofertas com vencimentos mais curtos.

Riscos

Nenhum investimento é isento de risco, devemos estar conscientes disso. Nem mesmo a renda fixa, seja ela tradicional ou baseada em blockchain.

Ainda que o risco seja inerente a ambas, os aspectos de proteção ao investidor são diferentes: no caso da renda fixa tokenizada o investimento não conta com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Outros pontos de atenção são:

Risco de crédito: os tokens de recebíveis dependem da capacidade de pagamento dos devedores, portanto, se um devedor deixar de pagar a dívida representada pelo token, pode levar o investidor a perder uma parte do investimento ou todo ele.

Risco de negócio: o investidor fica suscetível a problemas com a plataforma que emite ou negocia os tokens, sejam falhas técnicas, problemas com invasão por hackers ou qualquer outro tipo de ataque e até mesmo fraude. É importante pesquisar as plataformas, avaliar histórico e reputação de seus fundadores, sócios, equipe e das operações.

Risco de eventos excepcionais: vamos supor que uma pessoa tenha adquirido tokens de recebíveis do aluguel de um edifício que desmoronou. Estar atento às condições contratuais da tokenização do ativo pode proteger o investidor em casos como esse.

Diversificação

Os tokens de recebíveis são alternativas rentáveis e consideradas de baixo risco para quem quer diversificar a carteira.

Em geral, superam a rentabilidade de outras opções de investimento de renda fixa, como poupança, Tesouro Direto e CDBs, podendo chegar a 1,5% ao mês.

Mas atenção: mesmo que sejam ativos de renda fixa, eles são produtos de um mercado extremamente recente e carente de regulamentação. Lembre-se de fazer uma análise cuidadosa dos riscos e retornos antes de tomar qualquer decisão. E, se ainda se sentir inseguro, o melhor a fazer é conversar com um profissional.

*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.

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