Senado aprova projeto de lei sobre criptomoedas que regula o setor no país
Com aprovação, PL será encaminhado para o plenário da Câmara dos Deputados, onde precisará ser aprovado pela maioria dos 513 parlamentares, antes de seguir para sanção presidencial
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 26 de abril de 2022 às 21h30.
Última atualização em 26 de abril de 2022 às 21h36.
O Senado brasileiro aprovou nesta terça-feira, 26, a Projeto de Lei (PL) 3.825/2019, que regulamenta as operações com criptomoedas no Brasil. O projeto, do senador Flavio Arns (Podemos-PR) e que teve a relatoria do senador Irajá (PSD-TO), visa combater a prática de crimes com criptoativos e cria mecanismos para proteger investidores.
Além disso, o PL também incentiva a redução do impacto ambiental da mineração de ativos digitais e retira as criptos do escopo da CVM - atribuição que deverá ficar sob a responsabilidade do Banco Central - entre outras medidas.
"A aprovação da lei será muito positiva e pode significar um grande avanço do setor no país, que poderá se tornar um hub mundial para a indústria cripto devido à uma maior clareza regulatória. Além disso, a definição das regras do jogo e dos responsáveis pela fiscalização das corretoras de criptoativos irão trazer mais segurança para o investidor, o que pode aumentar a aderência dos brasileiros às criptomoedas", comentou André Portilho, head de Digital Assets do banco BTG Pactual.
Para virar lei, o PL precisa votado pelo plenário da Câmara dos Deputados e, caso seja aprovado, será encaminhado para sanção presidencial. Se for sancionada por Jair Bolsonaro e não houver propostas de emenda, a nova lei se torna efetiva 180 dias após a sua publicação.
Filho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro já deu voto favorável à nova legislação, em votação realizada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, em etapa anterior à votação do PL no plenário que aconteceu nesta terça, o que sugere que não haverá veto presidencial.
A 2TM, dona da plataforma de negociação de ativos digitais Mercado Bitcoin e outras empresas ligadas ao setor, também vê com otimismo a aprovação do PL. "A regulação dos ativos virtuais, categoria que inclui as criptomoedas, como o bitcoin, e outros ativos digitais, como tokens, é fundamental e urgente, e endossamos a iniciativa do Poder Legislativo. A regulação pode garantir um mercado saudável, com segurança para empreendedores e proteção para consumidores", afirmou, em nota.
O PL já tramitava há alguns anos na casa e data junto de outros textos de regulação do mercado digital como o Marco Legal das Startups, aprovado há seis meses.
Texto inclui novo tipo de crime no Código Penal
O texto define as diretrizes para a atuação das corretoras, casas de câmbio e outras prestadoras de serviços relacionados ao mundo cripto, e prevê mecanismos para a punição de eventuais fraudes - entre as medidas, está a inclusão no Código Penal de um crime específico para irregularidades envolvendo as criptomoedas.
Inicialmente, o projeto atribuía pena de reclusão de 4 a 8 anos e multa para quem "organizar, gerir, ofertar ou distribuir carteiras ou intermediar operações envolvendo ativos virtuais, valores mobiliários ou quaisquer ativos financeiros com o fim de obter vantagem ilícita em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento". O relator do projeto, entretanto, acolheu pedido do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para que o tempo de reclusão para o tipo penal criado pela lei fosse diminuído para 2 a 6 anos, de forma que a pena ficasse mais próxima do que é previsto no artigo 171 do Código Penal sobre o crime de estelionato, que prevê pena de 1 a 5 anos.
Na nova legislação, o enquadramento de empresas na categoria de corretoras de criptoativos (ou "exchanges", como são conhecidas) acontecerá mediante o cumprimento de uma série de deveres e condições, como a livre concorrência e livre iniciativa; controlar e manter de forma segregada os recursos aportados pelos clientes; boas práticas de governança e abordagem baseada em riscos; segurança da informação e proteção de dados pessoais; e proteção à poupança popular.
Empresas do setor também deverão compartilhar um número maior de informações com órgãos do governo e terão seis meses para se adequar às novas regras. O texto do PL está alinhado com as recomendações do Grupo de Ação Financeira (GAFI), órgão de combate à lavagem de dinheiro.
A posição favorável ao Projeto de Lei, entretanto, não é unanimidade entre os participantes da indústria no país. "A lei vai um pouco na contramão do que essa economia propõe. Ao mesmo tempo, é papel do governo tentar mitigar as fraudes, mesmo elas não sendo um padrão das empresas deste mercado. Mas acreditamos que a lei será pouco eficaz. Vai controlar, taxar e fiscalizar apenas as interações entre ativos digitais e a economia tradicional, mas não conseguirá fiscalizar interações entre criptomoedas. Por outro lado, a lei poderá ajudar na ponta onde pessoas são enganadas, favorecer quem não entende os detalhes desta economia compartilhada", comentou Lucas Buck, da NFMarket Agency, agência especializada em gestão e desenvolvimento de projetos em NFT.
Após a aprovação no Senado, não há data definida para a nova análise da Câmara dos Deputados sobre o assunto, mas, considerando que será a segunda análise do tema na casa, onde já foi o assunto foi discutido e aprovado em dezembro de 2021, é provável que o trâmite seja relativamente rápido.
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