Real Digital pode ser lançado em 2023 (alengo/Getty Images)
O processo global de digitalização dos serviços financeiros está cada vez mais avançado: moedas digitais, blockchain, open finance e Pix estão entre os protagonistas. Neste sentido, o Brasil está entre os protagonistas da nova era das finanças digitais. Depois do Pix, que permitiu transações instantâneas entre bancos 24 horas por dia, o Banco Central desenvolve o Real Digital para continuar sua trilha de inovação.
Baseado em blockchain, o Real Digital será uma versão da moeda brasileira para a era da internet. Ele se classifica como uma moeda digital de banco central (CBDC), tecnologia já pesquisada e explorada por diversos países ao redor do mundo como China, Suíça e Estados Unidos.
No entanto, enquanto outros países enxergam nas CBDCs uma forma de aproveitar a tecnologia blockchain — que é global e funciona 24 horas por dia — para promover transações instantâneas, esta não seria uma necessidade brasileira. Isso porque o país já conta o com o Pix desde novembro de 2020.
Pensando nisso, o Real Digital deverá ser projetado para ter funcionalidades diferentes no Brasil, segundo o Banco Central. Durante o evento Fintouch 2022 em São Paulo, representantes de instituições financeiras do Brasil comentaram e fizeram previsões sobre o que poderá ser feito com a moeda digital brasileira.
Segundo Aristides Cavalcante Neto, chefe-adjunto do departamento de tecnologia e informação do BC, o Real Digital poderia servir para garantir a segurança na compra de um carro usado, por exemplo.
Ao invés de precisar se submeter ao risco de pagar por um produto antes de receber, o comprador e o vendedor podem usar o Real Digital e a tecnologia blockchain para estabelecer um contrato pré-pago.
“A infraestrutura predetermina um contrato para que a pessoa não tenha de pagar o carro antes de receber. Assim que a pessoa transferir a titularidade do carro, o pagamento pré-programado é efetivado”, explicou Aristides, durante um painel do Fintouch 2022 em 28 de setembro.
Um outro exemplo, citado por Duda Davidovic, superintendente de inovação na Elo, foi a otimização de programas de incentivo do governo.
Mencionando o papel desempenhado pela Elo na realização das transações do Caixa Tem, plataforma do governo utilizada para distribuir benefícios aos brasileiros durante as fases mais duras da pandemia de coronavírus, Duda afirmou acreditar na importância do Real Digital para evitar fraudes:
“É um sistema em que o governo pode controlar para onde vai aquela moeda e como ela é gasta, evitando muitos casos de fraude”, disse.
No entanto, durante a mesma conversa, Aristides e Rodrigoh Henriques, da Fenasbac, enfatizaram que o Banco Central não pretende utilizar o Real Digital para inspecionar dados de brasileiros.
“O brasileiro pode ficar tranquilo que não vamos fazer isso”, disse Aristides. “Queremos prevenir a lavagem de dinheiro e o terrorismo”.
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