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Queda de Sam Bankman-Fried, da FTX, deixa lições para setor de criptoativos

Bilionário era considerado um dos maiores nomes do setor de criptoativos, mas precisou aceitar compra da sua exchange em meio a crise

Sam Bankman-Fried, conhecido como SBF, era considerado um dos principais nomes do mercado cripto (Bloomberg/Getty Images)

Sam Bankman-Fried, conhecido como SBF, era considerado um dos principais nomes do mercado cripto (Bloomberg/Getty Images)

Sam Bankman-Fried, o dono da segunda maior corretora cripto do mundo, chegou a ser apontado como "homem do ano" no setor por publicações internacionais. Aos 30 anos, ele tinha uma trajetória de sucesso, controlando a FTX, a empresa de investimentos Alameda Research e outros projetos.

Em poucos dias, porém, sua situação mudou radicalmente. Agora, o empresário é o pivô de uma das maiores crises que o mercado cripto já viveu, se juntando a nomes famosos da indústria em 2022, como o criador do blockchain Terra, Do Kwon, e os fundadores da Three Arrows Capital (3AC), Kyle Davies and Su Zhu.

Bankman-Fried se viu obrigado a aceitar uma proposta de compra da rival Binance, em um movimento que, se confirmado, deve trazer grandes impactos para todo o setor de criptoativos. Tudo isso em meio a uma forte crise de credibilidade e liquidez da empresa.

Assim como em outros colapsos de projetos do setor, a forte desvalorização do token nativo da exchange, o FTT, se espalhou e atingiu outras criptomoedas, caso do bitcoin e do ether. A situação de Sam Bankman-Fried ainda não se resolveu, mas já deixa algumas lições para o futuro.

Separação de negócios

A origem da crise da FTX é a Alameda Research, uma empresa de investimentos que também é controlada por Bankman-Fried. No último fim de semana, o balanço da companhia foi vazado, relevando que ela tinha cerca de um terço do seu patrimônio em tokens FTT.

O fato da empresa ter uma quantidade tão grande do token despertou os primeiros questionamentos sobre a real saúde financeira da FTX, gerando um efeito dominó no mercado que culminou com uma crise de liquidez na exchange e sua posterior venda para garantir os recursos necessários para cobrir retiradas de clientes.

(Mynt/Divulgação)

No Twitter, o CEO da Coinbase, Brian Armstrong, avaliou que o caso envolvendo sua concorrente era "o resultado de práticas de negócios arriscadas, incluindo conflitos de interesse entre entidades profundamente interligadas e uso indevido de fundos de clientes".

A forma como Bankman-Fried acabou usando uma de suas empresas para, de certa forma, apoiar financeiramente a outra nutriu uma forte desconfiança por parte do mercado sobre as reservas da FTX e sua solvência. Posteriormente, medidas como a demora no processamento de pedidos de retiradas de clientes apenas pioraram o quadro.

Há, ainda, o problema que a exchange e a Alameda precisarão enfrentar: a forte desvalorização do FTT. O token já perdeu mais de 70% do seu valor desde que a crise começou, o que deve representar grandes desafios em especial para a empresa de investimentos, que corre riscos de falir.

Não há perspectiva de que a ajuda da Binance se estenda para a Alameda, o que significa que Bankman-Fried precisará encontrar outros investidores dispostos a aportar recursos para que a companhia consiga honrar os seus mais de US$ 7 bilhões em empréstimos. Do contrário, um calote prejudicaria uma série de empresas do setor de criptoativos.

Importância da reserva

Além de Bankman-Fried, outro protagonista na crise da FTX é o CEO da Binance, Chanpeng Zhao. CZ, como é conhecido, não apenas apresentou uma aparente solução para o problema da concorrente como, na visão de alguns investidores, piorou a situação dela antes disso.

Os temores de clientes sobre a FTX aumentaram principalmente depois que Zhao anunciou no Twitter que a Binance venderia todas as reservas de FTT que detinha, associando o token à Terra, um blockchain cuja criptomoeda nativa desvalorizou 99,9% em 2022 depois do mercado perceber uma ausência de fundamentos no projeto.

Horas depois de anunciar a intenção de comprar a concorrente, CZ foi ao Twitter para compartilhar "duas lições" percebidas por ele com a situação.

A primeira seria "nunca usar um token que você criou como garantia" em empréstimos, o que foi feito pela Alameda com o FTT. Já a segunda é "não pegar um empréstimo se você administra um negócio de criptomoedas. Não use o capital de forma 'eficiente'. Tenha uma grande reserva".

A presença de reservas, e a percepção dos investidores de que elas existem, se mostrou essencial para a crise da FTX. Sem elas, os clientes da exchange iniciaram um movimento desesperado para resgatar seus ativos antes que, como temiam, a corretora não tivesse os recursos disponíveis.

As aparências enganam

A imagem de "bom moço" e os resultados impressionantes no mundo dos negócios fizeram de SBF um dos nomes mais conhecidos do mercado cripto e financeiro de forma geral. Presente em listas de bilionários como da Forbes e da Bloomberg, também se tornou figurinha carimbada em Washington (EUA), onde investiu milhões de dólares em lobby para a indústria cripto e participou de audiências e discussões sobre regulação de criptoativos no país.

Ele também se tornou um dos mais jovens bilionários do mundo, ultrapassando a cifra perto de completar 28 anos de idade. Mas nem o sucesso dos últimos anos e o reconhecimento obtido nos últimos meses foi suficiente para impedir a derrocada, que começou a ganhar força no último fim de semana.

Com o colapso das suas empresas, o jovem executivo passou a ser criticado por algumas atitudes recentes. Semanas antes da crise da FTX, Bankman-Fried fez um post no Twitter em que alertou para o risco de algumas corretoras de criptoativos estarem insolventes, ou seja, não terem recursos disponíveis para enviar aos seus clientes caso todos retirassem suas aplicações ao mesmo tempo - a mesma situação pela qual passa a FTX atualmente, o que provocou uma série de críticas nas redes sociais.

O CEO da FTX também foi alvo de críticas entre investidores nas últimas semanas após defender medidas mais duras de regulação no setor, como testes de conhecimento sobre criptoativos antes de investir em derivativos, uma "lista negra" de endereços cripto suspeitos e outros padrões que toda a indústria precisaria seguir.

As falas de Bankman-Fried fizerem ele ser fortemente associado com o movimento favorável à regulação do setor. Mas, no fim das contas, elas acabaram criando uma imagem de que as críticas feitas por ele não se aplicavam à FTX, o que não se mostrou verdadeiro.

Não há como saber até que ponto os posicionamentos do agora ex-bilionário refletiram opiniões verdadeiras ou um esforço para que investidores e reguladores se voltassem para outros agentes do setor e não reparassem em possíveis problemas estruturais da sua exchange.

Para o investidor veterano Timothy Sykes "um comercial no Super Bowl e dezenas de milhões de dólares gastos fazendo lobby com políticos não puderam salvar a FTX de sua queda, criada por suas próprias negociações conflitantes".

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