Afinal, o bitcoin é ou não é uma pirâmide? (Reprodução/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 4 de março de 2023 às 11h03.
Última atualização em 9 de maio de 2023 às 19h55.
“Haters gonna hate”. Essa expressão extremamente popular na internet se encaixa bem na história do bitcoin. A moeda, afinal, é nativa da rede mundial de computadores, território onde os “odiadores” se sentem mais confortáveis para despejar suas raivas e frustrações. E o bitcoin tem uma legião deles. Alguns o fazem publicamente, outros no anonimato.
Os haters do bitcoin vão desde figuras eminentes como Warren Buffett e Bill Gates até o amigo do bar que te condena por ser um entusiasta cripto. “Lixo”, “pirâmide” e “esquema Ponzi” são algumas das classificações que costumam vir acompanhadas dessas manifestações contrárias.
O bitcoin e as moedas digitais também são acusados de serem instrumentos facilitadores de fraudes e golpes, como se fosse uma total exclusividade do criptomercado. Quem aí não se lembra da maior pirâmide financeira da história dos Estados Unidos, orquestrada durante quase 20 anos por Bernie Madoff, o megainvestidor que chegou a ser presidente da Nasdaq? Foram milhares de vidas devastadas em um esquema de US$ 65 bilhões revelado só em 2008. Em moeda fiduciária!
Como em todo o ecossistema financeiro, sempre tem gente querendo se dar bem. Quando acontece no mercado cripto, o ativo acaba vilanizado.
Estamos assistindo no noticiário ao caso da Braiscompany, uma empresa paraibana que captava investidores prometendo retornos de 8% ao mês em investimentos com criptomoedas. Como essa pirâmide, muitas já existiram no Brasil e no mundo e, infelizmente, outras diversas virão.
Precisamos ter em mente que dinheiro não cai do céu e o milagre da multiplicação do bitcoin não existe.
Passou da hora de aprendermos a identificar esses esquemas. Passou da hora também de pararmos de chamar o bitcoin de pirâmide financeira.
Ao longo do texto, além de dar orientações sobre como detectar pirâmides, vou quebrar esse mito que acompanha o bitcoin injustamente desde a sua gênese.
Recentemente, convidei o amigo de longa data e advogado especializado em cripto Bernardo Campos para um papo no meu canal do YouTube sobre pirâmides. Atualmente, ele dá assistência a vítimas de casos como o da Rental Coins, conduzido pelo golpista conhecido como Sheik do Bitcoin.
Embora não seja tão simples identificar um esquema de primeira, como disse Bernardo, alguns sinais vão sendo dados no caminho aos investidores.
Primeiro de tudo, vamos deixar claro que qualquer pessoa está vulnerável a um esquema desses. Em geral, os golpistas se armam de argumentos bastante convincentes, capazes de atrair pessoas com diversos backgrounds.
Eu mesmo já caí em uma pirâmide financeira lá atrás, quando ainda não sabia muito do mercado. Conheço muita gente bem embasada que também mordeu a isca e se deu mal. O lado emocional pesa mais que o racional na hora em que você topa entrar em um “negócio” com tantas “vantagens”.
Na conversa que tive com Bernardo, ele falou que as pirâmides tradicionais já estão bastante visadas pelos investidores, o que torna a tarefa de atrair pessoas mais difícil para os captadores. Quando falo em tradicionais, são aquelas em que você entra e precisa recrutar mais pessoas para ganhar dinheiro, do tipo marketing de rede.
O esquema do momento é o Ponzi, empresas que se passam por serviços de gestão financeira e garantem rendimentos positivos em um mercado de renda variável como o de cripto.
Assim chegamos ao Alerta 1: não existe tal coisa como garantia de retorno positivo no mercado de renda variável, independentemente de ser 1%, 10% ou 80% ao mês. Renda variável se movimenta em flutuações, portanto não é possível prever nada. É afetada pelo humor do mercado. Você sabe afirmar quando ele estará de bom ou mau humor? Ninguém sabe.
Analise a lógica econômica como um todo em relação ao que está sendo oferecido a você. Neste tipo de esquema, existe uma cadeia de pessoas envolvidas, como gestor, captador e outros terceiros, que terão que ganhar suas comissões, além dos demais investidores, que esperam o retorno do investimento como prometido. Sem falar nos impostos que devem ser pagos em cima das movimentações. A conta não fecha.
Pense se não seria mais barato para a pessoa que está te oferecendo o negócio pegar dinheiro emprestado no mercado e ela mesmo investir para obter rendimentos… Faça esses cálculos e encontrará a sua resposta.
Você já deve ter visto por aí nos jornais diversas “oportunidades de investimento” em cripto apoiadas por celebridades da TV, jogadores de futebol e influenciadores. Algumas delas, no fim, eram esquemas que foram desmascarados com o tempo.
Em geral, os criminosos montam toda uma estrutura imponente, que inclui sedes físicas impressionantes, imagens de riqueza e apoiadores famosos, para encantar os investidores e gerar uma aparência de confiabilidade. Se tudo parece coisa de novela, se tem muita ostentação, desconfie.
O famoso FOMO (medo de ficar de fora) faz muita gente cair em golpes.
Existe aquele tipo de oferta de investimento que usa como isca a exclusividade. É oferecida como “oportunidade para poucos”, como um clube secreto, sempre envolta em escassez de informações e sigilo. Isso cria uma atmosfera que induz os investidores a pensar que estarão perdendo o negócio da vida deles se não entrarem.
Por outro lado, tem os esquemas escancarados, com muita publicidade em redes sociais, muito barulho na mídia, participantes célebres e etc. Mostram testemunhos de pessoas que dizem estar ganhando muito dinheiro e podem fazer você se sentir um outsider se não participar desse grupo.
Fraudes e golpes com criptomoedas acabam sendo usados como argumentos para tornar o bitcoin o vilão da história. A acusação de pirâmide acaba sobrando para o bitcoin, que não tem nada de esquema.
Vamos derrubar esse mito.
Como falamos acima, as pirâmides se caracterizam basicamente por garantias de retornos consistentes, estratégia complicada e secreta, baixo ou nenhum risco envolvido
e promessas de alto retorno.
Quem está acostumado com os ciclos de baixa sabe que não existe garantia de que o bitcoin dará retornos positivos. 8% ao mês? Não existe isso, não é renda fixa.
O mercado pode despencar de repente por diversos motivos. Ano passado, por exemplo, vimos empresas do setor colapsarem e derrubarem as criptomoedas, com desvalorizações de 50%, 80%. O mercado está sofrendo os efeitos até agora. Sem contar o andamento complicado da economia e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
A volatilidade tanto pode gerar lucro quanto prejuízo, o mercado é imprevisível. É aí que entra a importância de se estudar e entender os mecanismos cripto para alcançar sucesso no longo prazo.
Quem ainda não conhece o whitepaper do bitcoin, publicado no fim de 2008 por Satoshi Nakamoto, deveria conhecer. O projeto não foi criado com o objetivo de funcionar como investimento. Nasceu como proposta para solucionar uma questão antiga da ciência da computação, o problema dos generais bizantinos, que, a grosso modo, se trata da dificuldade de coordenar uma ação uniforme entre diversos participantes sem a necessidade de uma entidade central de controle.
Nada no documento fala sobre investimento ou preço do bitcoin. A moeda ganhou valor porque GEROU valor, com sua eficiência em inovar o sistema financeiro. Quem chegou bem cedo ao mercado foi atraído apenas pela filosofia da moeda, não por promessas de lucro (que nunca existiram).
O bitcoin foi lançado com código-fonte aberto e segue aberto até hoje, assim como a maioria das criptomoedas. Todo o seu funcionamento está previsto no whitepaper do projeto. Não existe estratégia oculta nem segredos.
Pelo contrário. É uma das tecnologias mais transparentes do mundo. O código é aberto, qualquer pessoa está livre para revisar o código e contribuir. A rede é sem permissão, qualquer um pode executar o software e participar da rede. As transações não são secretas, ficam expostas no blockchain para quem quiser ver.
O bitcoin dá uma guinada no sistema financeiro como o conhecemos. É exatamente o oposto de um esquema, porque não faz promessas que nunca poderão ser cumpridas e não mantém em um livro sigiloso de entradas e saídas de dinheiro.
Aqueles que operam pirâmides criam estratégias em cima de estratégias para manter o dinheiro do investidor preso no esquema. Mostram supostos rendimentos via relatórios ou documentos forjados para entusiasmar os investidores com os resultados e induzi-los a manter a grana investida a fim de obter retornos ainda mais altos.
Na contramão, o bitcoin tem a ver com liberdade. O usuário pode movimentar, sacar, reinvestir ou negociar como bem entender, 24 horas por dia e 7 dias por semana.
De vez em quando, a gente lê no noticiário pessoas do meio cripto falando que o bitcoin vai a US$ 100 mil, US$ 200 mil, US$ 1 milhão. Um dos que costumam fazer muito isso é o autor do famoso livro “Pai Rico, Pai Pobre”, Robert Kiyosaki.
Mas essas são apenas especulações, como acontece em todo tipo de mercado. E não tem nada a ver com o bitcoin, ele continua operando da mesma forma, faça chuva ou faça sol.
O investidor não deve basear seus investimentos em criptomoedas em conselhos assim. Faça o seu caminho, estude e veja se os ativos digitais se encaixam com o seu perfil de investidor e no seu bolso.
Lembrando mais uma vez: no whitepaper de Satoshi Nakamoto não existe indicação de retornos financeiros. As promessas de retornos altíssimos e no curto prazo vêm de pessoas mal intencionadas.
No bitcoin e nas criptos em geral, o risco só é mais baixo se o investidor aportar uma quantia pequena. Aquela que, em caso de perda, não dará tanto prejuízo ao bolso.
No entanto, quando aportadas quantias mais altas, o risco de perder todo o investimento existe. Quem não entende do mercado e compra bitcoin na alta, por exemplo, tem uma grande tendência a ter prejuízo quando o mercado despencar.
Uma outra alegação muito comum para apontar o bitcoin como pirâmide é a falta de regulamentação. A tecnologia ainda é muito nova e as legislações costumam ser demoradas. No entanto, com o crescimento da popularidade das criptos, o mundo inteiro está correndo atrás para regulamentar.
No ano passado, o governo americano convocou agências nacionais como a SEC (a CVM deles), a CFTC (reguladora de mercados futuros) e o Departamento do Tesouro para discutir a questão e pavimentar o caminho para uma legislação. O presidente Biden chegou a publicar um documento com algumas recomendações para a regulamentação do setor.
O Brasil é um dos países que estão na frente nessa questão. Em dezembro, entrou em vigor a Lei 14.478/22, que determina as diretrizes para a regulamentação da prestação de serviços de criptomoedas.
O mercado não quer ficar na ilegalidade. Para conseguirmos aproveitar toda a inovação que o bitcoin e as criptomoedas trazem, precisamos de um aparato jurídico que dê segurança aos investidores e aos negócios.
Temos muito a ganhar com um mercado regulado.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
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