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O Terceiro Setor como ferramenta de expansão e democratização da web 3.0

Brasil é o 7° país no uso de ativos digitais, mas em 2021, 28 milhões não usaram a internet. Entenda como o terceiro setor pode democratizar a nova fase da web

Favela; Comunidade; Habitação; Popular

Foto: Germano Lüders

09/2018 (Germano Lüders/Exame)

Favela; Comunidade; Habitação; Popular Foto: Germano Lüders 09/2018 (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2022 às 19h01.

Última atualização em 29 de setembro de 2022 às 18h45.

Por Carol Santos*

A Web 3.0 e as Novas Tecnologias vem fazendo mais adeptos a cada ano. Sua adoção por grandes empresas é uma boa prova disso: Vans, Nike e Balenciaga já promovem ações dentro do metaverso desde o ano passado e bancos digitais e fintechs já disponibilizam aos seus usuários a possibilidade de compra de criptoativos em suas plataformas. Esse movimento feito pelas grandes empresas foi graças a percepção da alta adoção pelos usuários.

Inteligência Artificial, internet das coisas (IoT), Blockchain e moedas digitais já estão presentes no dia a dia de inúmeras pessoas físicas do Brasil. De acordo com um relatório apresentado pela Chainalysis, o Brasil é o 7° entre os países que mais fazem uso de ativos digitais no mundo. Contudo, essas novas tecnologias que fazem parte do conceito de Web 3.0, um conceito criado em 2014 para se referir a terceira geração da internet e sua descentralização, ainda se encontra centralizada, em sua maioria, na mão de quem detém maiores poderes aquisitivos e maior classe social.

(Mynt/Divulgação)

Um cenário de exclusão digital. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, em 2021 28,2 milhões de pessoas no Brasil não usaram a internet. Quando olhamos para um cenário específico o número se torna ainda mais alarmante: no caso de filhos com pais sem instrução, ou seja, não completaram o ensino fundamental, mais da metade não tem acesso à internet em seu domicílio.

Quando falamos de posse de microcomputadores ou tablets, 59% dos brasileiros com mais de 10 anos e filhos de pais sem instrução não o possuem. Para se comparar, apenas 5,7% dos jovens cujos pais têm ensino superior não possuem algum ou alguns dispositivos eletrônicos. Importante afirmar e ressaltar que exclusão digital também alcança quem está conectado, mas não tem conhecimento para explorar todo o potencial da rede, aumentando em mais alguns porcentos as estatísticas. Em uma realidade de carência tecnológica, políticas públicas de apoio e compensação podem ser fundamentais.

Projetos de inclusão digital, como a ONG Educar+, do Rio de Janeiro, buscam fazer essa compensação. Desde 2017, o Educar+ leva, de forma gratuita, educação, cultura e tecnologia para crianças e jovens da Favela do Final Feliz, no Complexo do Chapadão.

E hoje é uma ONG referência em acessibilidade e democratização da Web 3.0 e das novas tecnologias. Com aulas todos os dias, a ONG oferece inclusive aulas de informática para as mães dos alunos, alunos esses que criaram sua própria criptomoeda e já desenvolveram 570 NFTs de impacto para arrecadar fundos para o Educar+ e famílias apoiadas.

Alguns NFTs ainda estão disponíveis para compra na plataforma do Mercado Bitcoin. 50 % do valor arrecadado vai para compra de novos computadores e 30% vai para a família da criança artista. Com a Web 3.0 chegando a lugares ainda não acessados, o Brasil teria maior oportunidade de subir no ranking da tecnologia, além de aumentar consideravelmente sua base de usuários.

Apesar de importante em um cenário macro mundial, essa é, de longe, a principal motivação de iniciativas como o Educar+, que busca, em primeiro lugar, a mudança de qualidade de vida que essas tecnologias podem trazer para as crianças e suas famílias.

Disseminação da tecnologia blockchain

O Educar+ acredita no empoderamento das crianças e na construção da auto-estima. Fazer com que uma criança que antes nunca tinha visto um computador acredite que ela tem a possibilidade de se tornar, por exemplo, um desenvolvedor de software no futuro caso queira. Quando possibilitamos acessos antes fechados e facilitamos entradas, chamamos de inclusão.

Essa inclusão só acontece quando existem as oportunidades e pontes que conectam a periferia com o mundo. Apesar dos avanços, o protagonismo periférico ainda continua em segundo plano. Com a descentralização enxergamos novas ferramentas que nos permitem mudar isso. Na Web 3.0 todos somos construtores, e é aí que mora a oportunidade: a possibilidade de construir realidades diferentes.

O Educar+ vem buscando apresentar a realidade e as necessidades da periferia. Em 2022 quebrou algumas barreiras e estando presente em grandes eventos como o BlockchaIn Rio e a NFC - Non Fungible Conference SP, em painéis de educação e inclusão, frisa sempre a necessidade de se levar a Web 3.0 de forma efetiva para dentro das favelas e de apoiar quem faz isso para que a periferia consiga se enxergar como um possível usuário dessa tecnologia.

Conectividade, só vem por meio de identificação, e a identificação só chega por meio de representatividade, representatividade esta que só se cria quando eu vejo alguém igual a mim fazendo algo e por causa disso, eu imagino que posso fazê-lo também.

*Carol Santos é CEO e fundadora da Educar+, ONG que trabalha com Web 3.0 apoiando crianças da Favela do Chapadão, no Rio de Janeiro.

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