O papel das criptomoedas em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia
Com as limitações monetárias impostas em ambos os países, habitantes formam filas em caixas eletrônicos e casas de câmbio. Moedas digitais podem ser a solução, segundo especialistas
Mariana Maria Silva
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 15h45.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2022 às 18h26.
As tensões entre Rússia e Ucrânia, que vêm desde 1991 e se intensificaram em 2014 com a chegada de setores pró-Ocidente ao poder em Kiev, resultaram no início de uma guerra nesta quinta-feira, 24. Com a iminência, e agora, o estouro dos conflitos armados entre ambos os países, o setor monetário foi altamente impactado.
O rublo, moeda oficial russa, despencou 20% em relação ao dólar norte-americano no início da quinta-feira, fazendo com que o banco central do país tivesse de intervir. Embora apresente recuperação de 7% no momento, a União Europeia já anunciou suas intenções de “enfraquecer a base econômica russa e sua capacidade de se modernizar”, segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia desde 2019.
A troca do rublo por dólares ou euros foi interrompida no país, de acordo com notícias do Moscow Times. Ainda assim, há relatos da formação de filas nas casas de câmbio e caixas eletrônicos da capital russa, onde a presença policial foi intensificada nesta quinta-feira, 24.
Em cenários de incerteza política e crise monetária, as moedas digitais se apresentam como uma forma de manutenção da liberdade financeira. Taynaah Reis, CEO da Moeda Semente, primeira techfin a usar a tecnologia blockchain para o desenvolvimento sustentável, prevê uma maior adoção das moedas digitais. "Um dos aspectos que já estamos vendo é a corrida dos russos aos bancos e caixas eletrônicos para sacar dinheiro, e os bancos tradicionais já colocaram um limite de saque. As moedas digitais, no entanto, podem ser transacionadas mesmo em meio ao caos“, afirmou.
Oferecendo a possibilidade de guardar dinheiro em contas onde as transações são mais fáceis neste cenário, quando a movimentação de dinheiro via internet banking também é limitada, as moedas digitais ainda promovem o acesso ao dólar, euro, e ativos de proteção como o ouro por meio das stablecoins – criptomoedas estáveis com lastro. Alguns exemplos são USDT, USDC, EURS e PAXG.
“Um ponto de atenção é o fato de Ucrânia e Rússia serem países com umas das maiores adoções de
cripto pela população. Este cenário pode impulsionar a adoção de cripto, seja pela população, para se proteger da instabilidade econômica em tempos de guerra, seja pelos oligarcas, empresas, e até mesmo o próprio governo, como drible nas sanções e embargos que serão feitos", comentou Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management.
Quando falamos em criptomoedas, ao contrário do armamento bélico, a Ucrânia sai na frente da Rússia. Apesar do presidente Vladimir Putin se demonstrar aberto à regulamentação dos criptoativos no país, que se destaca pela mineração de bitcoin, em 2021, a Ucrânia conquistou o 4º lugar no índice de adoção às criptomoedas da Chainalysis. Além disso, o país processou mais transações do gênero do que na moeda local, o grívnia, segundo informações do The New York Times.
Nos últimos 7 dias, a pesquisa pela palavra “criptomoeda” em ucraniano atingiu a pontuação máxima, segundo o Google Trends. A cidade cujos habitantes realizaram mais pesquisas, de acordo com a ferramenta de análise do Google, foi Odessa, um dos principais focos das tropas russas.
O Ministro da Defesa da Ucrânia declarou estar recebendo solicitações para o envio de doações em criptomoedas em apoio ao país, as quais, segundo ele, não pode aceitar. "A legislação nacional não permite que o Ministro da Defesa da Ucrânia utilize meios de pagamento alternativos, como Webmoney, bitcoin, PayPal, etc", dizia o comunicado.
Na Rússia, as pesquisas por "criptomoeda" são mais divididas, ultrapassando os 90 pontos apenas em regiões mais próximas da Ucrânia. O país ocupa o 3º lugar no ranking mundial da mineração de bitcoin, fator que também pode impactar o mercado cripto.
Segundo Taynaah Reis, este cenário pode ser impactado por uma alta ou baixa na atividade de mineração. “Caso a Rússia sofra ataques estruturais, isso pode impactar o valor dos ativos digitais. Em sua maioria, eles são afetados pelo bitcoin, em conjunto às flutuações do dólar, e investimentos por meio dos ETFs correlacionados ao bitcoin, que são negociados nas bolsas tradicionais de todo o mundo”, analisou a CEO.
Os conflitos entre os países ainda estão apenas no começo, e a incerteza domina os mercados de todo o mundo. Após o anúncio dos primeiros bombardeios à Kiev e Kharkiv, as criptomoedas responderam negativamente de forma quase imediata. Grandes nomes do universo cripto, como o russo Vitalik Buterin, que criou a segunda maior rede em blockchain do mundo, a Ethereum, criticaram as decisões de Vladimir Putin em invadir o país vizinho, que já sofreu ataques em 16 regiões em menos de um dia.
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