Empresa criou 225 NFTs que fazem referência a 15 obras de Tarsila do Amaral (Jorge Bastos Acervo Artístico-Cultural do Palácio do Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 24 de novembro de 2023 às 10h46.
A empresa suíça Zeitls, que reimagina obras de arte do mundo real dentro do universo digital, anunciou a coleção “Tarsila Reimagined” (Tarsila Reimaginada, em tradução livre), composta por 225 tokens não-fungíveis (NFTs) baseados em quinze obras de Tarsila do Amaral, uma das precursoras do Modernismo no Brasil.
Utilizando inteligência artificial, a Zeitls gerou versões reimaginadas, chamadas de "Variações", de ilustrações feitas com caneta nanquim por Tarsila. Cada NFT da coleção, que ainda será disponibilizada ao público, custará 0,3 ether no lançamento.
Philip Harder, CMO da Zeitls, conta que a brasileira Daniela Zschaber apresentou a empresa para Paty Ottoni, uma das idealizadoras do Metaverso AdAstra, voltado à criação de uma “Cidade das Artes”. Ottoni, por sua vez, é amiga de um colecionador privado das obras de Tarsila do Amaral, que estava procurando uma oportunidade de entrar no universo Web3.
“Como não queríamos distorcer o legado de Tarsila, tivemos a ideia de reimaginá-las com a ajuda da inteligência artificial. Essa iniciativa, conhecida como as Variações, nos permite oferecer uma perspectiva nova, ao mesmo tempo que preserva a integridade das peças originais”, acrescenta Harder.
O uso de inteligência artificial para gerar obras de arte ainda é um tema controverso, carregado de diferentes focos de debate. O CMO da Zeitls reconhece que esse é um tópico difícil, mas salienta que existem cenários onde a aplicação de IA no ramo da arte pode trazer benefícios.
“No caso de preservar o legado de alguém, sem impor uma visão diferente de outro artista sobre isso, a inteligência artificial nos permite ter uma representação imparcial e verdadeira da obra de arte”, avalia.
As quinze obras escolhidas pela Zeitls são objeto de controvérsia e de um processo judicial em curso. Conforme noticiado pelo portal O Tempo, o tradutor Alípio Neto herdou o arquivo do poeta modernista Guilherme de Almeida de seu biógrafo, Frederico Ozanam, e encontrou as obras de Tarsila enquanto mexia nos documentos.
Aparentemente, os traços da artista foram feitos para ilustrar um livro com as conferências que o poeta deu em capitais do Brasil nos anos 1920.
As controvérsias e o processo judicial surgem da busca de Neto pela autenticação da autoria de Tarsila nas quinze obras. A autenticação é necessária para que as ilustrações originais sejam vendidas como obras da modernista. Os desenhos, no entanto, não constam no raisonné, livro que reúne todos os trabalhos de Tarsila, e dependem do aval de outros especialistas.
Após não conseguir uma validação da comissão por trás do raisonné, o tradutor recorreu a Tarsilinha, como é conhecida a sobrinha-neta da artista. De acordo com documentos do processo, movido por Neto contra duas integrantes da comissão e a produtora do raisonné, Tarsilinha disse que avaliaria as obras e ficaria em silêncio se fossem verdadeiras.
Isso culminou, contudo, em mais uma controvérsia: a impossibilidade do uso de silêncio como comprovação de autenticidade, argumenta Mario Solimene Filho, advogado da acusação. O processo segue em curso, e as quinze obras continuam sem a validação oficial da autoria de Tarsila do Amaral.
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