Drex tem previsão de lançamento para o público no final de 2024 (Banco Central/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 10 de novembro de 2023 às 17h31.
Última atualização em 14 de novembro de 2023 às 15h09.
O Banco Central iniciou nos últimos anos uma agenda de digitalização da economia que resultou em diversas iniciativas. Entre elas estão o Pix e o Drex, que também era conhecido como Real Digital. Entretanto, apesar de fazerem parte do mesmo conjunto de objetivos da autarquia, as duas ferramentas possuem características e casos de uso diferentes.
O Pix foi lançado em 5 de outubro de 2020 e, desde então, se tornou uma febre entre os brasileiros. O sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central já lidera entre os meios de pagamento usados no varejo, ganhando espaço nas transações e transferências tanto entre pessoas quanto entre empresas. Com isso, alternativas mais tradicionais têm perdido espaço.
Já o Drex deve ser lançado até o fim de 2024. Atualmente, o projeto está em fase de testes com uma versão piloto para garantir elementos como segurança, escalabilidade e privacidade dos dados dos usuários. Entretanto, já se sabe que ele deverá focar as áreas do sistema financeiro que, hoje, não estão no escopo do Pix, permitindo avançar na digitalização econômica.
O Drex é a versão digitalizada do real e gerada em uma rede blockchain, ou seja, é uma combinação entre a economia tradicional e a economia cripto, mais especificamente a tokenizada. A classificação técnica do projeto é de uma moeda digital de banco central, ou CBDC na sigla em inglês. Atualmente, existem quatro em funcionamento no mundo, com dezenas em desenvolvimento.
O responsável pelo desenvolvimento do projeto é o Banco Central. Em certa medida, ele se assemelha às chamadas stablecoins, criptomoedas que são pareadas a outro ativo, como o ouro e o dólar, e por isso podem ser usadas e negociadas como se fossem representações virtuais de uma moeda fiduciária ou de uma commodity.
A principal diferença entre uma stablecoin e uma CBDC, como o Drex, é que ela conta com a emissão e garantia de paridade por uma autoridade central e do governo, no caso um banco central. Ou seja, há uma garantia que 1 Drex sempre será equivalente a R$ 1, por meio das próprias reservas e emissões realizadas pela autarquia.
A primeira diferença entre o Drex e o Pix é que o primeiro usa a tecnologia blockchain e o segundo, não. Isso significa que a versão digital do real contará com características específicas da tecnologia, como maior transparência e segurança no armazenamento de informações. Além disso, as redes blockchain trazem uma programabilidade para operações.
Na prática, a programabilidade que o Drex trará é diferente das opções em estudo para o Pix, que envolveriam apenas o agendamento de transferências por dia. Com o Drex, será possível definir não apenas quando, mas como a operação será feita e quais condições precisarão ser cumpridas para que isso ocorra. Por exemplo, será possível vincular a transação à notificação de recebimento de um produto, ou então para marcos de um determinado ativo.
Isso mostra também as diferenças de foco dos dois projetos. O Pix é focado no varejo, em geral com transações menores entre pessoas e empresas, e acabou resolvendo problemas que muitos países ainda possuem em seus sistemas e buscam a resolução por meio de CBDCs. Graças ao sistema brasileiro, o Banco Central pode agora focar em uma solução para o atacado. Ou seja, o Drex não vai substituir o Pix.
Por isso, o foco principal do Drex é nas operações entre bancos, outras instituições financeiras e o Banco Central. Para isso, o projeto resultará em toda uma nova infraestrutura para o sistema financeiro, baseada em blockchain, que buscará também fomentar a chamada tokenização de ativos, que é o processo de registrar ativos do mundo físico em redes blockchain.
Com a tokenização, é possível realizar transferências de forma mais rápida e barata, eliminando intermediários. Além disso, a tokenização permite o fracionamento de ativos. Isso deve, por exemplo, baratear os custos iniciais de investimentos ativos, democratizando o acesso ao sistema financeiro para os brasileiros. Não à toa, esse é um dos principais focos do Banco Central.
A autarquia também informou que será a única responsável por emitir o Drex, oferecendo uma alternativa segura e respaldada para as negociações entre instituições. Já quando os clientes dessas instituições precisarem usar a infraestrutura do projeto, eles terão acesso a versões tokenizadas dos depósitos bancários, permitindo as operações.
Já para o futuro, há a expectativa de que a adoção de CBDCs por mais países facilite a realização de operações entre países. Isso porque a integração entre blockchains poderá ser mais fácil que a de sistemas como o do Pix. Entretanto, ainda é cedo para dizer até que ponto esse elemento será bem-sucedido.
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