Microsoft (Agence France-Presse/AFP)
Repórter do Future of Money
Publicado em 10 de novembro de 2023 às 15h00.
O Banco Central do Brasil está desenvolvendo o Drex, a nova moeda digital brasileira. O projeto, que será responsável por lançar um Real completamente digital no final de 2024, tem foco no atacado e já está em fase de testes em um projeto piloto que conta com grandes empresas e instituições financeiras, além de startups do setor. Para colocar tudo isso em prática, será necessário o estudo e a aplicação de diversas tecnologias.
Nesse sentido, a Microsoft se posiciona como uma das empresas de maior destaque até o momento no projeto piloto do Drex. A empresa está em quatro consórcios e apoia outros dois, buscando transferir seu conhecimento sobre tecnologia e regulação nos testes da moeda digital.
Depois que a tecnologia for validada, a Microsoft ainda pretende começar a planejar novos modelos de negócio envolvendo o Drex, revelou João Paulo Aragão Pereira, especialista sênior em tecnologia e inovação na Microsoft. O executivo comanda todos os projetos de blockchain, DLT e moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês) da Microsoft, além de também ser mentor no Lift Lab, ecossistema de inovação do BC e da Fenasbac.
Em entrevista exclusiva à EXAME, João Paulo revelou concordar com uma posição já emitida pelo Banco Central sobre o Drex: não se trata de uma moeda e sim de uma plataforma, dividida da seguinte forma:
• Drex: ambiente de atacado
• Real Tokenizado: ambiente de varejo
• Títulos públicos federais: ativos financeiros tokenizados
“130 países, 11 em produção com suas próprias moedas digitais. No Brasil está sendo estendido uma versão digital do Real, aumentando as capacidades do Real. O Brasil está virando referência mundial, é super interessante, pioneiro e inovador. Começou com Pix, Open Banking e agora uma CBDC”, disse ele.
Sobre transparência e privacidade no Drex, João Paulo revelou que o Banco Central “está batendo na tecla que só vai lançar se tiver privacidade e confidencialidade nos dados”.
Um dos principais desafios é o fato de que a rede DLT, em que funcionará o Drex, segue uma tecnologia aberta. “Em um ambiente DLT, quando você joga uma informação, todo mundo vê”, disse João Paulo à EXAME.
Para garantir a transparência sem influenciar negativamente a privacidade e manter a conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), técnicas como encriptação homomórfica, prova de conhecimento xero e ambiente de computação confidencial podem ser aplicadas, explicou ele.
A fase atual do projeto piloto do Banco Central é justamente a transparência e privacidade. Nesse sentido, a autarquia e as empresas selecionadas testam soluções em prova de conhecimento zero (ZKP, ou zero knowledge proof, em inglês), em que são feitas representações daquela informação, mas as informações em si não são utilizadas.
Dessa forma, se o Banco Central realizar um leilão de títulos tokenizados, por exemplo, os bancos participantes não terão acesso aos lances de seus concorrentes, explicou João Paulo. E se um Banco A quer comprar um título de Banco B, o Banco C, que está fora da transação, também não terá acesso à tais informações.
João Paulo concorda com muitos especialistas, incluindo da CVM e do Banco Central, que acreditam que o Drex poderá impulsionar o mercado de tokenização no Brasil.
Nesse sentido, haverão casos de uso que podem impulsionar a sua adoção, como compra e venda de imóveis e carros, tokenização de renda fixa e recebíveis, crowdfunding, tokenização de commodities agrícolas, CPE digital, entre outros. A partir da tokenização, segundo ele, será possível tornar fungível um ativo que não era fungível, por exemplo.
O especialista em tecnologia ainda revelou estar trabalhando em um projeto com a Caixa para o pagamento de benefícios sociais com o Drex. “Vai causar uma interoperabilidade de benefícios como Bolsa Família e Vale Gás, e acaba trazendo uma facilidade para quem recebe esse dinheiro”.
Além de especialista sênior em tecnologia e inovação na Microsoft, João Paulo Aragão Pereira é formado em Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e possui um doutorado em Inteligência Artificial.
Para ele, existem ainda outras tecnologias que ainda não são exploradas nos testes iniciais, mas que podem beneficiar o Drex no futuro:
A repetição da palavra “quântico” em muitos dos nomes citados por João Paulo tem um motivo. O especialista explicou à EXAME sobre a expectativa de que por volta da década de 2030 todos os algoritmos clássicos “quebrem” em uma data específica. Por isso, é necessário trabalhar para proteger ambientes como o do Drex até lá.
Segundo ele, todas as tecnologias mencionadas são emergentes e possuem aplicabilidade para trazer benefícios de segurança. A Internet das Coisas, por outro lado, pode ainda trazer benefícios mais tangíveis.
Em um exemplo, João Paulo explicou que a IoT aplicada à tecnologia blockchain pode ajudar na tokenização e no monitoramento de bois. Usando a tecnologia para provar que um boi existe, é possível até mesmo aumentar a sua arroba.
Segundo o executivo, o “Drex é a ponta do iceberg, vai trazer liquidez para todo e qualquer ativo” e “a criação de modelos de negócio também faz parte do papel da Microsoft no projeto piloto atual.
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