Premier League: liga também passará a gerir diretamente as operações de transmissão a partir de 2026 (OLI SCARFF/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 14h50.
Última atualização em 2 de dezembro de 2024 às 14h50.
Na última semana, durante uma reunião de acionistas realizada em Londres, a Premier League, principal divisão inglesa de futebol, informou aos seus principais clubes um aporte de £12,25 bilhões (R$ 91,56 bilhões, na cotação atual) em receitas provenientes de direitos de transmissão e acordos comerciais para o ciclo 2025-2028.
A partir da temporada 2026/2027, a liga também passará a gerir diretamente as operações de transmissão, encerrando uma parceria de duas décadas com a IMG, empresa responsável pela distribuição de conteúdo de mídia da liga.
De acordo com o site britânico SportsPro Media, no último ciclo de quatro anos, a competição arrecadou um total de £10,5 bilhões (R$ 78,43 bilhões). O novo valor representa um aumento de 17% em relação ao ciclo anterior, impulsionado pelas receitas comerciais e principalmente pelos de direitos de mídia no exterior.
Somente na última temporada, a Premier League registrou um número recorde de transmissões espalhadas pelo mundo. A competição alcançou 80 canais televisivos em mais de 100 países diferentes, marcando um aumento de 170% em relação ao contrato entre 2019 e 2022.
No Reino Unido, a Premier League firmou novo contrato televisivo com a Sky Sports e a TNT Sports, datado para a temporada 2025/26, que renderá £6,7 bilhões(R$50,04 bilhões) em quatro anos, sendo o maior contrato da história no futebol.
“Esse recorde reforça ainda mais o domínio financeiro dos clubes ingleses. Com uma liga já reconhecida por sua competitividade, o novo contrato tem o potencial de elevar a Premier League a novos patamares de audiência, patrocínio e valores comerciais”, afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.
A Premier League, porém, também tem expandido seu alcance global com parcerias estratégicas ao redor do mundo. A liga fechou acordos com a Tailândia, México, Japão e Caribe. Além disso, renovou contratos de mídia com emissoras de destaque como a Sky na Alemanha e na Itália, DAZN na Espanha e em Portugal e PCCW em Hong Kong. Já os Estados Unidos, com a NBC, e a região nórdica, com a Viaplay, possuem acordos lucrativos que cobrem tanto o ciclo atual quanto o próximo.
"É mais uma comprovação da força da Premier League como marca, consolidada há muitos anos em razão de tudo o que envolve clubes e a organização da competição. Se já víamos uma liga financeiramente forte e com alcance global de fazer frente aos maiores eventos do mundo, agora abre uma possibilidade de novas receitas e de ter um domínio sobre tudo aquilo que será realizado em relação aos conteúdos e ativações publicitárias", acrescenta Claudio Fiorito, CEO da P&P Sport Management, empresa internacional que atende centenas de atletas nas principais ligas do mundo.
Além disso, novas parcerias comerciais, como o contrato com Guinness, marca de cerveja irlandesa, no valor de 52 milhões de libras (R$ 378,6 milhões) e a extensão da parceria com o banco britânico Barclays por 75 milhões de libras (R$ 546,1 milhões), solidificam a Premier League como referência em estratégias de mercado.
“É uma liga extremamente sólida, que valoriza o seu produto de forma exemplar. É o sonho de muitos atletas atuarem por lá, onde estão alguns dos maiores astros do futebol mundial. Com estádios sempre lotados, torcidas vibrantes e uma visão ampla de entretenimento que vai além da competição esportiva, a liga oferece um cenário único. Oportunidades comerciais e de marketing se destacam por ativações criativas, um conceito consolidado de match day e ampla cobertura da mídia local e internacional. Associar-se a uma competição tradicional, mas continuamente inovadora, se torna algo atrativo para qualquer marca”, explica Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.
Além disso, aprovado por unanimidade pelos clubes, a Premier League assumirá diretamente as operações de transmissão a partir da temporada 2026/2027, encerrando uma parceria de longa data com a IMG, que, desde 2004, gerenciava a produção e distribuição de conteúdo por meio da Premier League Productions (PLP). Essa mudança permitirá à liga explorar o modelo de plataforma direta ao consumidor (DTC) e, possivelmente, lançar seu próprio serviço de streaming, provisoriamente chamado de "Premflix".
Para Ricardo Bianco Rosada, da brmkt.co, consultoria de estratégia e desenvolvimento de negócios, a iniciativa reflete uma estratégia visionária : "A decisão da Premier League de trazer as operações de transmissão para dentro da própria liga não apenas garante maior controle sobre o conteúdo produzido, mas também fortalece a conexão direta com os torcedores, permitindo uma personalização mais eficiente da experiência de consumo”, explica. “Ao centralizar as operações, surgem novas oportunidades para explorar diferentes modelos de geração de receita, que podem ir desde assinaturas a serviços exclusivos, consolidando ainda mais sua posição como referência no mercado esportivo global" , complementa.
"Atualmente, a PLP produz uma cobertura com todas as 380 partidas da liga transmitidas ao vivo. Ao todo, são entregues 6 mil horas de conteúdo por temporada para 55 parceiros internacionais, abrangendo 189 mercados globais. Decisão ousada a de internalizar a produção do que vai ser transmitido. Se por um lado significa maior autonomia, significa assumir uma nova responsabilidade. Em que medida essa operação se tornou interessante pela qualidade do serviço oferecido? Ela será maior? Ao menos mantida? Quanto pesa a experiência acumulada por quem era responsável por ela?", conclui Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, que gerencia a carreira de centenas de atletas.