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Jogadores defendem fim do gramado sintético. Mas ele realmente aumenta o risco de lesões?

A EXAME conversou com dois especialistas para entender os prós e os contras do material em campo; entenda a diferença para o gramado natural

Gramado sintético: prejudicial para a saúde dos jogadores? (Nelson Almeida/Getty Images)

Gramado sintético: prejudicial para a saúde dos jogadores? (Nelson Almeida/Getty Images)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 16h47.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2025 às 17h00.

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Quando o assunto é futebol, a qualidade do estádio pode definir uma partida. E tudo leva a crer que o gramado sintético é um dos maiores inimigos dos atletas. Mas será que é isso mesmo?

Nesta terça-feira, 18, um grupo de jogadores profissionais — que inclui Neymar, Lucas Moura (São Paulo), Gabigol (Cruzeiro), Dudu (Cruzeiro), Cássio (Cruzeiro), Memphis (Corinthians), entre outros — criou a campanha "Futebol profissional não se joga em gramado sintético!", em defesa da saúde física dos craques. 

O movimento alega que a superfície artificial aumenta o risco de lesões e compromete a qualidade do jogo. "Nas ligas mais respeitadas do mundo, os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado nos estádios. A solução para um gramado ruim é fazer um gramado bom, simples assim. Futebol é natural, não sintético", diz o manifesto produzido pelo grupo.

Atletas e especialistas apontam que a menor absorção de impacto do material sintético pode aumentar a incidência de contusões, torções e sobrecarga muscular. As principais ligas do mundo, por exemplo, evitam a adoção da grama sintética em grande escala e nos campeonatos europeus mais prestigiados, a grama natural ainda é a norma.

Mas a FIFA aprova e certifica o material em campo, desde que atenda a padrões técnicos rigorosos para garantir desempenho e segurança.

"Os atletas queixam-se que o jogo na grama artificial é mais rápido e muitos não possuem este gramado nos treinamentos. O que se tem definido em termos biomecânicos é que o torque e a tensão gerados em superfícies artificiais podem ser maiores que nas gramas naturais", explica Flávia Magalhães, médica especialista em gestão de saúde no esporte. "Mas quando se fala em atletas profissionais, o maior número de lesões não é comprovado."

Uma pesquisa realizada pela Washington University School of Medice de Saint Louis, no Reino Unido, corrobora a fala da especialista. Após análise de jogos profissionais e não profissionais, o estudo concluiu que atletas amadores têm até 58% mais chances de sofrer lesões em quadras ou estádios com esse tipo de material.

Já outra pesquisa publicada na Sports Medicine em 2011 comprova que o número de contusões no tornozelo, joelhos e músculos posteriores das coxas eram maiores em gramados sintéticos, inclusive para jogadores profissionais. 

A temperatura elevada da superfície também é um fator preocupante. Estudos apontam que o gramado artificial pode atingir até 30 graus a mais que a grama natural sob o sol intenso. "Esquenta em função da borracha", explica Magalhães.

Natural ou sintético?

Para Sergio Schildt, presidente da Recoma, empresa especializada em infraestrutura esportiva que já instalou mais de 1 milhão de metros quadrados de gramados sintéticos esportivos e usa o mesmo fornecedor internacional do sistema híbrido do Santiago Bernabéu, casa do Real Madrid, é necessário entender que o material gera economia tanto de custos quanto de manutenção e, portanto, deve ser considerado para a prática esportiva.

"É cientificamente comprovado que o gramado sintético de alto padrão possui estrutura similar aos naturais. Estou há décadas neste mercado e vejo, sim, que o material pode ser uma solução viável para muitos clubes, visto que temos as questões climáticas em determinadas regiões do país, aliadas principalmente ao calendário cheio, com dois ou três jogos por semana", afirma. "Estamos falando de um investimento de 7 a 9 milhões com a implementação, mas com gastos de manutenção muito menores em comparação com a grama natural. Esse investimento, com ajuda das federações ou empresas parceiras, é uma saída".

Ele justifica, ainda, que o gramado natural é bem menos uniforme do que o sintético, o que pode prejudicar as partidas profissionais. "O gramado dos sonhos, que vemos na disputa de campeonatos internacionais, não é o mesmo que estão na maioria dos torneios, em especial os Estaduais. Eles não entregam uma uniformidade para o jogo. E o uso maior do estádio, necessário para ajudar na geração de receitas, afeta a qualidade do gramado natural e piora as suas condições".

Ainda que o custo seja reduzido e que a velocidade da bola seja maior, a reclamação dos jogadores a respeito da grama sintética não é nova. Em 2023, a Federação Nacional dos Atletas de Futebol (Fenapaf) já havia se posicionado contra o uso do material em campo. No entanto, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) manteve a liberação desse tipo de superfície, permitindo que equipes da Série A adotem a tecnologia.

Atualmente, clubes como Palmeiras, Botafogo e Atlético-MG utilizam estádios com gramados sintéticos. Os motivos para o uso listam benefícios como menor necessidade de manutenção e maior resistência ao desgaste causado pelo calendário intenso de jogos e eventos.

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