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Brasileirão das SAFs? Veja os clubes que viraram empresas e quem estuda virar

Competição começa com seis clubes SAF, o maior número de clubes no modelo da história da competição

(Gustavo Aleixo/Cruzeiro/Divulgação)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 15 de abril de 2023 às 12h26.

O Campeonato Brasileiro de 2023 começa neste sábado, 15, com o maior número de clubes com o modelo de Sociedade Anônima de Futebol ( SAF ) da história da competição. São seis total, sendo dois mais antigos e estruturados, casos do Cuiabá, pioneiro nesta adaptação, e o Red Bull Bragantino. Depois que a lei foi aprovada em agosto de 2021, outros quatro acompanharam este modelo: Cruzeiro, Botafogo, Vasco da Gama e Bahia.

A primeira instituição a se tornar SAF entre os clubes da Série A, no entanto, foi o Cuiabá, que já era clube-empresa desde a sua fundação, e apenas aguardava a aprovação da nova legislação do futebol brasileiro. Comandado desde 2009 pela família Dresch, o clube possui um modelo de gestão eficiente. Para Cristiano Dresch, vice-presidente do clube, a SAF pode continuar sendo um divisor de águas para o futebol brasileiro.

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"A SAF para o Cuiabá, especificamente, que é um clube considerado emergente, é uma lei fundamental, que proporcionou ter uma competitividade bem maior em termos financeiros do que tínhamos antes, ainda mais pela carga tributária que foi reduzida. Nós pagamos o imposto único, que é o simples fut, que é 5% sobre todas as nossas receitas e tem uma isenção nos primeiros cinco anos. Como não pagamos esses 5% sobre a venda de atletas, se torna um incentivo interessante. Eu acredito que ela vai transformar o futebol brasileiro em um futebol mais profissional e mais organizado, com maior busca por resultados", explica.

No Vasco da Gama, é o fundo americano 777 Partners a dona da SAF do clube. A empresa desde então se comprometeu em investir R$ 700 milhões em até três anos, além de ter assumido uma dívida do mesmo valor de R$ 700 milhões. De acordo com Luiz Mello, CEO da SAF do Vasco, isso serviu para que o clube se reestruturasse internamente.

"A SAF é benéfica em vários sentidos. No caso do Vasco, já pagamos mais de 30 milhões, como dívidas antigas com a FERJ, com a CBF. O investimento realizado desde que viramos SAF vem sendo acompanhado e vem servindo como pagamentos de dívidas, salários, gramados. Além disso, enxergamos a SAF também como um investimento para as mudanças que o Vasco precisa, com melhorias em infraestrutura e aumento das receita. O Vasco tem o maior potencial no Brasil e queremos que vire realidade e com as ferramentas tanto à disposição da 777 como injeção de capital própria e ao mesmo tempo", aponta.

O Botafogo foi adquirido pelo empresário americano por um aporte inicial de R$ 100 milhões para o clube, e investimento total de R$ 400 milhões por três anos, por 90% das ações da SAF.

No Cruzeiro, quem assinou uma carta de intenções para aquisição da SAF foi o ex-jogador Ronaldo, com aporte inicial de R$ 50 milhões, além de mais R$ 350 milhões até 2026 em investimentos, isso se a SAF estiver com receitas em baixa.

No Bahia, a SAF foi aprovada em dezembro de 2022, mas ainda está em período de closing, que significa o período de transferência de dono. O investimento foi feito pelo Grupo City, um dos principais do mundo, com previsão de R$ 1 bilhão.

Clubes que querem virar SAF

Diante deste cenário, a tendência para que novos times anunciem a transformação para o modelo SAF é promissora. O Atlético-GO, por exemplo, está em processo final para a criação e tem o advogado Eduardo Carlezzo, sócio do Carlezzo Advogados, como um dos responsáveis. Segundo ele, a entrada do City Football Group é mais um divisor de águas para a realidade do país.

"A vinda do City Football Group no Brasil traz enorme repercussão internacional e sem dúvida tem condições de aumentar o interesse do investidor estrangeiro pelos clubes nacionais. Há ainda muita água para rolar por debaixo desta ponte e outros negócios relevantes podem ser anunciados nos próximos meses", explica.

Na Série A, algumas equipes já promoveram encontros mais aprofundados para falar e tentar um consentimento mais amplo dentro de seus Conselhos Deliberativos, casos de Athletico Paranaense, Atlético-MG, Flamengo e Santos.

"É um processo irreversível. Organizar um clube de futebol é caro, os custos aumentam anualmente e grande parte dos clubes carrega dívidas sufocantes. Nestas condições, para a enorme maioria dos clubes a única alternativa capaz de trazer recursos relevantes para tentar remediar essa situação é a criação da SAF e a venda de ações", complementa Carlezzo.

O América-MG, que já tem tudo estruturado, está no mercado desde o final do ano passado a procura de investidores estrangeiros. Já o Coritiba também confirmou que vai ser SAF em 2023 e também negocia a passos largos com empresas interessadas na compra.

Entre os clubes que ainda não são, mas possuem um norte em relação à SAF, o presidente do Goiás, Paulo Rogério Pinheiro, admite que o clube está trabalhando na estruturação do melhor modelo de SAF. "O surgimento das SAFs no futebol brasileiro é uma realidade que se fez necessária, principalmente por conta da péssima situação econômica de muitos clubes que, em razão de gestores irresponsáveis, acumularam passivos altíssimos. O que esse novo modelo prega é o profissionalismo e a responsabilidade. São dois valores indispensáveis quando se pensa em gestão e que nós, mesmo sem ser SAF, já temos buscado aplicar no cotidiano da instituição".

Sem dívidas e visto como modelo de gestão, o Fortaleza também tem calma quando este é o assunto, e justamente por estar bem estruturado internamente, faz os passos com muita calma. No entanto, o presidente Marcelo Paz, visto como um dos principais dirigentes brasileiros na atualidade, entende também que a SAF veio para ficar,

"O Fortaleza tem o objetivo de caminhar para uma SAF, mas uma SAF diferente, em um primeiro momento, dessas SAFs mais famosas do futebol brasileiro. Me refiro a uma SAF de desenvolvimento, para desenvolver os clubes de futebol com aporte de capital tendo mais segurança a quem investe, não necessariamente uma SAF de venda de controle ou somente para clubes que apresentem uma situação financeira delicada", esclarece.

Entre os clubes da Série B, também existe uma tendência grande para essa remodelação, e o principal caso é do Sport Recife, que vem promovendo seminários a fim de tentar concretizar este modelo ainda em 2023.

"Eu entendo que um clube do Nordeste só vai conseguir nivelar a competitividade ao lado de um investidor. E eu gostaria que para este ano já pudéssemos ter pelo menos a autorização do Conselho, e até por isso estamos levando todo o tipo de informação e conhecimento. Precisamos fazer tudo isso com muita cautela e responsabilidade, mas também estar adiantados. Não podemos ser omissos e perder tempo. O Sport tem tudo: patrimônio, tradição, torcida e história. Mas temos que avançar e tomar uma decisão, e isso será feito de forma coletiva", afirmou o presidente Yuri Romão.

O Atlético Goianense, que também tem um projeto estruturado em Goiás, tem a frente nas negociações o advogado Eduardo Carlezzo, que fala como estão os planos da equipe para essa implementação. "O clube tem conversado com o mercado e está atento a todas as oportunidades, porém não há pressa em realizar uma transação já que, mesmo rebaixado, possui uma posição financeira estável, com a possibilidade de liquidação completa da dívida neste ano".

Também na Série B e um dos times mais tradicionais do estado de São Paulo, o Botafogo de Ribeirão Preto também foi um dos primeiros a virar clube-empresa, ainda em 2018, sob o comando do executivo Adalberto Baptista, hoje Presidente do Conselho da S/A e principal investidor do clube. "A profissionalização é fundamental para que os clubes possam sanar os problemas financeiros. Aqui enfrentamos uma longa trajetória e, com muita responsabilidade, queremos atingir grandes objetivos nas próximas temporadas", disse.

Diante de tudo isso, alguns especialistas ainda pontuam que a expectativa não pode ser maior do que a razão nesses casos. Especialista em negócios do esporte, Armênio Neto explica que é necessário que todas as partes estejam bem alinhadas, e que os torcedores tenha paciência.

"Pode parecer que do dia para a noite tudo vai se transformar, mas nem sempre é assim que funciona, e mesmo na Europa temos alguns exemplos de que pode ser a médio ou longo prazo. Para clubes que são comprados por investidores, muito em razão das altas dívidas acumuladas, esse processo pode ser ainda maior. Para ter gestão profissional, é preciso ter esse equilíbrio", afirmou.

Já para Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em gestão esportiva, com passagem por clubes e principal ponto de contato na confecção de contratos envolvendo marcas e patrocinadores, o sucesso não se trata de um modelo associativo, Ltda, S/A ou SAF, mas sim com gestão profissional.

"O modelo SAF no país deve trazer junto uma exigência básica de gestão, gastar menos do que recebe. Depois se pensa em inovação, criação de projetos especiais e qualquer outra frente que seja bonito de se falar. Obviamente que a SAF vem num primeiro momento para salvar esses clubes mais endividados, mas sem boa gestão, as coisas continuarão como estão. Por isso que algumas instituições que já estão bem estruturadas estão tendo esse cuidado e esperando o momento certo para a concretização deste modelo que, de fato, deve ser uma realidade em nosso país".

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