ESG

WRI: geração de empregos está no centro da estratégia ambiental de Biden

Biden dobrou a meta de redução de emissões estabelecida por Obama, numa espécie de disputa democrata por resultados, que trará impactos na economia

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante a cúpula do clima, primeiro grande evento realizado pelo novo governo (BRENDAN SMIALOWSKI/Getty Images)

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante a cúpula do clima, primeiro grande evento realizado pelo novo governo (BRENDAN SMIALOWSKI/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 22 de abril de 2021 às 17h13.

O objetivo oficial é salvar o planeta de uma crise climática sem precedentes, mas, ao estabelecer a meta de reduzir pela metade as emissões de carbono dos Estados Unidos, o presidente Joe Biden acerta em outro aspecto relevante para qualquer governo: a geração de empregos. Segundo o World Resources Institute (WRI), entidade conservacionista americana, há uma correlação direta entre a economia de baixo carbono e a criação de vagas de trabalho qualificadas.

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“A nova agenda americana extrapola a questão das mudanças climáticas”, afirma Carolina Genin, diretora do programa de clima do WRI Brasil. “Muitas das metas definidas por Biden são econômicas”. Conceitualmente, o governo americano está utilizada o lema build back better (reconstruir melhor), o que, na prática, significa investir em infraestrutura, especialmente no setor de energia. “A geração de energia renovável pode produzir o dobro de empregos do que o setor fóssil”, diz Genin.

No final de março, o presidente americano anunciou um plano de investimentos em infraestrutura que chegará a 2,25 trilhões de dólares. No discurso de apresentação do pacote, Biden reforçou sua a frente industrial e de energia limpa e o potencial de geração de empregos. O governo tem chamado o plano de American Jobs Plan (plano de empregos americano, ou AJP), afirmando que este é "o maior investimento em empregos americanos desde a Segunda Guerra Mundial".

Ao estabelecer a meta de emissões, Biden condiciona o pacote de investimentos à transição para a economia de baixo carbono. “As duas coisas andam juntas”, diz Genin.

Primeiro grande evento de Biden

A cúpula do clima é o primeiro encontro mundial convocado pelos Estados Unidos desde a troca de comando na Casa Branca, no início do ano, o presidente Joe Biden conclamou os países a "agir já" para aumentar a preservação ambiental e coibir as emissões de gás carbônico. A abertura do encontro coube à vice Kamala Harris. "Compatilhamos uma preocupação mútua com as mudanças climáticas", disse ela.

O encontro marca o retorno dos Estados Unidos ao cenário das discussões internacionais sobre o meio ambiente. O país busca recuperar o protagonismo em relação a questões globais. Durante o governo do ex-presidente Donald Trump, os Estados Unidos se retiraram do Acordo de Paris e adotaram uma postura crítica em relação ao multilateralismo. Agora, com Biden na presidência, a intenção é reforçar alianças e a liderança americana em grandes temas mundiais.

Biden anunciou que até o final da década o país deve cortar as emissões de gases estufa. "Essa é a década decisiva para a temperatura não atinja o crescimento de temperatura em mais de 1,5 graus Celsius", disse Biden. "Cada vez mais os impactos são visíveis para a saúde pública. Não devemos fechar os olhos para esse futuro, todos nós. Em novembro, quando nos veremos na Conferência do Clima, vamos trazer essas discussões ainda mais", afirmou.

Biden também alertou que os países que tomarem decisões agora para preservar o meio ambiente deverão desfrutar da criação de empregos oriunda da geração de energia limpa. "É um imperativo econômico e moral", disse Biden. "Muito obrigada por fazerem parte desse encontro. Temos uma escolha e devemos fazer isso".

Brasil sem credibilidade

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima organizada pelos Estados Unidos não deve mudar a desconfiança do mundo em relação ao Brasil. A opinião é de Fábio Alperowitch, fundador e gestor da Fama Investimentos, gestora que foi pioneira no país em investimentos ESG. “A fala dele foi péssima”, disse Alperowitch à EXAME. “Ele coloca metas lá na frente, mas não apresenta um plano de ação.”

Em sua fala de 3 minutos, Bolsonaro adotou uma narrativa de defesa ao que considera ações positivas do Brasil em relação à proteção ambiental. Também solicitou recursos internacionais para a conservação ambiental no país sem, no entanto, citar cifras. "A comunidade internacional terá oportunidade de cooperar com nosso destino comum durante a Conferência do Clima", afirmou. O encontro deverá ser realizado na Escócia em novembro.

A mudança de postura, no entanto, carece de credibilidade, avalia Alperowitch. “Até ontem, o Brasil derrubava floresta. Não vai mudar da noite para o dia”, disse o investidor. Para conseguir algum resultado, diz ele, o presidente deveria ter apresentado, junto com o compromisso de atingir a neutralidade em carbono até 2050.

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