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Em ano de COP30, Papa Francisco faz apelo global por compromisso para superação da crise climática

O pontífice, internado há 20 dias em Roma, mandou uma mensagem ao Brasil pelo Vaticano, no ano em que a campanha da fraternidade tem como tema a 'ecologia integral'

Papa Francisco: "Que todos possamos mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas" (Clément MELKI/AFP)

Papa Francisco: "Que todos possamos mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas" (Clément MELKI/AFP)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 5 de março de 2025 às 15h05.

Última atualização em 5 de março de 2025 às 16h22.

Internado há 20 dias em Roma, o Papa Francisco enviou nesta quarta-feira de cinzas (5) uma mensagem ao Brasil por meio do Vaticano e em alusão à Conferência das Mudanças Climáticas da ONU (COP30), realizada em novembro deste ano em Belém do Pará, bem no coração da Amazônia. 

"Que as nações e organismos internacionais possam comprometer-se efetivamente com práticas que ajudem na superação da crise climática e na preservação da obra maravilhosa da Criação, que Deus nos confiou e que temos a responsabilidade de transmitir às próximas gerações", disse.

Todos os anos, a Igreja Católica do Brasil realiza a "Campanha da Fraternidade", promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), trazendo como foco questões sociais ou ambientais.

Em 2025, a temática é "fraternidade e ecologia integral" e as reflexões começam já na Quaresma -- período que antecede 40 dias antes da Páscoa, principal celebração do cristianismo em memória à ressurreição de Jesus Cristo. 

Com 61 anos de existência, a campanha já abordou a ecologia pelo menos oito vezes e sustenta que o objetivo "é promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra”. 

O pontifíce também pediu para que a igreja fosse útil para superar os desafios do clima e "que todos possamos, com o especial auxílio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas". 

Na mensagem, ele também frisa que a humanidade precisa de uma mudança urgente na forma como se relaciona com o meio ambiente, ao mesmo tempo que tem se sensibilizado mais com a 'Casa Comum', se referindo à Terra. 

Aos 88 anos de idade, Francisco vem enfrentando uma pneumonia bilateral há quase três semanas no hospital Gemelli. Na segunda-feira (3), seu boletim médico revelou dois episódios de “insuficiência respiratória aguda” e nos dias seguintes, ele teria tido uma noite tranquila de sono e permaneceu estável. Desde então, o papa não tem aparecido em público. 

Confira a mensagem na íntegra:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil,

Com este dia de jejum, penitência e oração, iniciamos a Quaresma deste Ano Jubilar da Encarnação. Nesta ocasião, desejo manifestar a minha proximidade à Igreja peregrina nessa Nação e felicitar os meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela iniciativa da Campanha da Fraternidade, que se repete há mais de 60 anos e que neste ano tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e como lema a passagem da Escritura na qual, contemplando a obra da criação, “Deus viu que tudo era muito bom” .

Com a Campanha da Fraternidade, os bispos do Brasil convidam todo o povo brasileiro a trilhar, durante a Quaresma, um caminho de conversão baseado na Carta Encíclica Laudato Si’, que publiquei há quase 10 anos, em 24 de maio de 2015, e que senti necessidade de complementar com a Exortação Apostólica Laudate Deum, de 4 de outubro de 2023.

Nestes documentos, quis chamar a atenção de toda a humanidade para a urgência de uma necessária mudança de atitude em nossas relações com o meio ambiente, recordando que a atual crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior (Laudato Si’, 217).

Neste sentido, o meu predecessor de venerável memória, São João Paulo II, já alertava que era preciso estimular e apoiar a “conversão ecológica”, que tornou a humanidade mais sensível (Audiência, 17 de janeiro de 2001) ao tema do cuidado com a Casa Comum.

Por isso, louvo o esforço da Conferência Episcopal em propor mais uma vez como horizonte o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal de cada fiel a Cristo. Que todos nós possamos, com o especial auxilio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas.

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano expressa também a disponibilidade da Igreja no Brasil em dar a sua contribuição para que, durante a COP 30 do próximo mês de novembro, que se realizará em Belém do Pará, no coração da querida Amazônia, as nações e os organismos internacionais possam comprometer-se efetivamente com práticas que ajudem na superação da crise climática e na preservação da obra maravilhosa da Criação, que Deus nos confiou e que temos a responsabilidade de transmitir às futuras gerações.

Desejo que esse itinerário quaresmal dê muitos frutos e nos encha a todos de Esperança, da qual somos peregrinos neste Jubileu. Faço votos que a Campanha da Fraternidade seja novamente um poderoso auxílio para as pessoas e comunidades desse amado País no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e de compromisso concreto com a Ecologia Integral.

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, concedo de bom grado a Bênção Apostólica a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham no cuidado com a Casa Comum, pedindo que continuem a rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 11 de fevereiro de 2025, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.

Franciscus

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