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Reflorestar o Brasil é condição para o desenvolvimento do mercado de carbono, diz BNDES

Tereza Campello, diretora socioambiental do banco de fomento, defenda tratar a agenda de restauro como missão econômica. Executiva participou de evento organizado pela Natura, Salesforce e pelo WRI Brasil

Painel Fomentando o financiamento e a colaboração para a restauração da natureza brasileira (André Cherri/WRI Brasil/Reprodução)

Painel Fomentando o financiamento e a colaboração para a restauração da natureza brasileira (André Cherri/WRI Brasil/Reprodução)

Marina Filippe
Marina Filippe

Repórter de ESG

Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 13h15.

Paralelamente à redução do desmatamento, que mostra resultados positivos, como a queda de 50% da destruição na Amazônia nos últimos dez meses de 2023, o Brasil passa pelo desafio de ampliar o reflorestamento e a conservação de florestas. Isso é fundamental para o desenvolvimento da sociobiodiversidade e, consequentemente, da estruturação do mercado de carbono no país, como debateram os painelistas do evento Fomentando o financiamento e a colaboração para a restauração da natureza brasileira, organizado pela Salesforce, Natura e pelo Wolrd Resources Institute (WRI Brasil), em São Paulo.

No painel Acelerando a inovação no financiamento para a restauração florestal, Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES, afirmou que o banco está "reorganizando agenda de créditos, os recursos não reembolsáveis e construindo alternativas para o restauro florestal".

Exemplo disto, é o lançamento do edital Restaura Amazônia, anunciado na COP28, em dezembro. O edital foi criado para destinar R$ 450 milhões do Fundo Amazônia aos projetos de restauração ecológica de grandes áreas desmatadas ou degradadas. "É um colchão para evitarmos o 'ponto de não-retorno' da floresta", disse Campello. 

Outro exemplo é o Fundo Clima, com R$ 550 milhões para viabilizar o restauro em áreas privadas, por meio de operações de financiamento com taxas de juros reduzidas. "Tratamos a agenda de restauro como missão econômica do país. Mais do que pensar em mercado de carbono, estamos pensando em biodiversidade, geração de emprego e renda, e condições para impedir que o desmatamento avance". Assim, o BNDES tem trabalhado para gerar ofertas de crédito de interesse das empresas nos temas de sustentabilidade.

Para José Pugas, sócio e chefe de ESG do JGP Asset Management, o desafio atual é convencer o investidor a olhar para além do curto prazo. "Temos percebido que não é só recompor das áreas, mas também criar novos modelos agroflorestais. Assim, é preciso equalizar o custo com o tempo e aí está o desafio, uma vez que o  investidor tradicional é de curto prazo", diz. De acordo com Pugas, quem está inovando olhando para esses fatores vai chamar a atenção do mercado.

Isto demanda investimento em pesquisa e desenvolvimento, como lembra Bernardo Strassburg, CEO da Re.Green. "A razão pela qual o eucalipto atingiu a escala atual é a pesquisa e desenvolvimento, tanto em ambiente corporativo quanto de fomento público. Hoje, o desafio da pesquisa para restauração no Brasil é como atingir a escala sem perder a qualidade", diz.

O executivo contou ainda que, na Re.Green, foi desenvolvido um plano de restauração por meio de pesquisa. "Se aquela área foi degradada é porque há alguma dinâmica socioecológica na região. Assim, desenvolvemos um plano dez anos, com 96 linhas de pesquisa e um bilhão de reais em desenvolvimento e pesquisa para termos resultados como em uma experiência no sul da Bahia, onde uma comunidade Pataxó passou a desenvolver viveiros e hoje tem renda a partir das mudas".

A inovação nas florestas foi desenvolvimento de negócios também para a Mombak, que em dezembro assinou acordo com a Microsoft para 1,5 milhão de créditos de remoção de carbono, o acordo representa um dos maiores acordos de remoção de carbono baseados na natureza em todo o mundo, e o maior acordo único de remoção de carbono da Microsoft em volume até o momento. 

O acordo permitirá que Mombak restabeleça cerca de 25 florestas em áreas desmatadas do bioma Amazônia brasileira. Essas florestas conterão pelo menos 30 milhões de árvores de mais de 100 espécies nativas brasileiras, incluindo diversas espécies ameaçadas de extinção.  "Nossa abordagem foi criar um produto de remoção de carbono ao entender o que o cliente enxerga como qualidade", diz Peter Fernandez, CEO da Mombak.

É em busca de qualidade e escala que a Suzano, que depende das florestas como atividade para o fornecimento de papel e celulose, atrelou 40% da dívida aos KPIs de sustentabilidade. Além disto, a companhia trabalha a restauração ecológica em todos os sites. "Temos 37 mil hectares de área em processos de restauração e, até 2030 vamos conectar 500 mil hectares de áreas nativas em três biomas", diz Helena Pavese, head de sustentabilidade da Suzano.

Ao lado de Vale, Marfrig, Itaú Unibanco, Santander Brasil e Rabobank, a Suzano formou a Biomas, uma empresa que tem como meta alcançar área de 4 milhões de hectares de matas nativas protegidas em diferentes biomas brasileiros, como Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado, em até duas décadas. Para isto, cada empresa previu o investimento de R$ 20 milhões de reais em florestas nos primeiros anos.

"Temos a consciência de que a transição florestal vai exigir esforço de muitas mãos. Para além da técnica florestal é preciso saber como chegar nos territórios, dialogar com os setores e as comunidades. Juntas, as empresas pretendem mobilizar políticas de estado que criam oportunidades e fomentam investimentos", afirma Fabio Sakamoto, CEO da Biomas. 

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