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O que a escassez hídrica na China tem a ver com o Brasil?

País asiático deve servir de modelo sobre desafios climáticos a serem enfrentados ao redor do mundo

As secas já causam prejuízos econômicos significativos e são percebidas pelas lideranças locais como uma ameaça à estabilidade social e política. (Yuliasis/envato)

As secas já causam prejuízos econômicos significativos e são percebidas pelas lideranças locais como uma ameaça à estabilidade social e política. (Yuliasis/envato)

Rafael Kelman
Rafael Kelman

Colunista

Publicado em 23 de agosto de 2024 às 17h00.

A China tem tido secas severas em diversas províncias, sobretudo em regiões do norte do país. Alguns especialistas avaliam que os extremos climáticos, como enchentes e secas, vão se tornar mais frequentes nos próximos anos, tornando a gestão de recursos hídricos locais ainda mais desafiadora. As secas já causam prejuízos econômicos significativos e são percebidas pelas lideranças locais como uma ameaça à estabilidade social e política.

O país vem investindo fortemente em infraestrutura. Um exemplo é o projeto de transposição Sul-Norte, que redistribui a água das regiões mais úmidas do Sul para o Norte árido. Iniciada em 2002, a obra deverá ser concluída em 2050. Trata-se do maior projeto do tipo do mundo, com 4.350 km de canais e túneis e um volume d’água 30 vezes maior que o da transposição do rio São Francisco. A China também investe em plantas de dessalinização e em melhorias na rede de distribuição de água.

No entanto, esses projetos caros podem ser insuficientes, porque as geleiras do Himalaia, que alimentam os principais rios chineses, vêm derretendo rapidamente. No curto prazo, isto aumenta o fluxo d’água e representa um alívio ou “bônus”. No longo prazo, deve levar a pressões ainda maiores para a agricultura, que consome mais da metade da água da China e ficará ainda mais vulnerável, e também para a produção de energia elétrica.

Reduzir o consumo da água será importante. Há tempos a revista Economist defende a necessidade de um aumento do preço da água no país, que tem muitas distorções: alguns agricultores do norte do país, por exemplo, não pagam pela água usada para irrigar as lavouras. Existem iniciativas de mercados de direitos d’água em algumas províncias, ainda sem resultados expressivos.

O Brasil precisa entender essa questão climática da China, tanto sob o ponto de vista físico, turbinado pelas mudanças climáticas, como pelo aspecto político-social. Apesar de a China já ser nosso principal parceiro comercial, há espaço para estreitar relações se o Brasil se mostrar responsável e confiável a longo prazo. O resultado, além do aprendizado, será o aumento de receitas com commodities agrícolas, como soja, milho, carne, frango, algodão, açúcar e café, e vantagens comerciais poderão ser negociadas em outras áreas estratégicas para o país, como energia, ciência e tecnologia. O protecionismo crescente da Europa e EUA, que fecham mercados ou sobretaxam produtos chineses, potencializam ainda mais essa oportunidade.

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