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Carlos Nobre: chuvas torrenciais, secas prolongadas, ondas de calor, ventos fortes e incêndios florestais já são uma realidade global
Redação Exame
Publicado em 3 de março de 2025 às 11h12.
O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O aumento das temperaturas veio acompanhado de perdas econômicas severas, totalizando US$ 368 bilhões em danos causados por desastres climáticos, de acordo com o relatório Clima e Catástrofes da consultoria Aon. Além disso, 6,6 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas em 2023 devido a eventos climáticos extremos, segundo o Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno.
O cientista brasileiro Carlos Nobre alerta que a adaptação às mudanças climáticas precisa ser acelerada. “A temperatura global já atingiu 1,5°C, e eventos extremos estão se tornando mais frequentes e intensos. Chuvas torrenciais, secas prolongadas, ondas de calor, ventos fortes e incêndios florestais já são uma realidade global. Precisamos preparar as sociedades para enfrentar esses desastres”, afirma.
Com recursos governamentais limitados, o setor privado se torna essencial no financiamento da adaptação climática. Patricia Espinosa, ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), destaca que os custos da inação devem ser considerados por empresas e governos. “Infelizmente, esse fator ainda não está totalmente integrado na avaliação de riscos empresariais”, analisa.
A ex-ministra das Relações Exteriores do México ressalta que 2024 registrou danos recordes devido a eventos meteorológicos extremos. “As comunidades e as empresas estão mais conscientes dos riscos, mas é preciso agir rapidamente para evitar custos ainda maiores no futuro”, afirma.
Carlos Nobre reforça que, desde a década de 1990, alerta para o risco de a Amazônia atingir um ponto de não retorno, tornando-se uma savana devido ao aquecimento global. Esse fenômeno, conhecido como savanização, ameaça não apenas a floresta tropical, mas também outros ecossistemas, como as florestas boreais, savanas africanas e manguezais.
A vida marinha também sofre impactos severos. A organização Global Tipping Point aponta que 50% dos recifes de coral do mundo desapareceram nas últimas três décadas devido ao branqueamento, um fenômeno agravado pelo aumento da temperatura dos oceanos. Esse impacto coloca em risco 25% da vida marinha e setores como pesca, turismo e proteção costeira.
Na Austrália, a Grande Barreira de Corais gerava US$ 4,8 bilhões anuais e sustentava 60 mil empregos antes da pandemia. No entanto, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) prevê que a economia australiana pode perder até um bilhão de dólares australianos e 10 mil empregos por ano se o branqueamento continuar.
Na COP26, em Glasgow, o ministro das Relações Exteriores de Tuvalu, Simon Kofe, discursou com a água do mar atingindo seus joelhos, alertando para o risco de seu país desaparecer devido ao aumento do nível do mar. “Mesmo que nosso território terrestre se perca, estamos adotando ferramentas digitais para manter nossa soberania”, afirmou Kofe.
Para serem reconhecidos internacionalmente, os Estados precisam de território, povo e governo. Diante dessa ameaça existencial, países como Tuvalu, Kiribati e Maldivas discutem a soberania digital, um conceito que permitiria que nações desaparecidas fisicamente continuassem a existir em plataformas virtuais. Esses países têm pressionado por mais ações climáticas em fóruns como a Aliança dos Pequenos Estados Insulares (OASIS).
Espinosa enfatiza que a crise climática exige cooperação global. “O desaparecimento de ilhas pode parecer inimaginável para muitos, mas é uma realidade que a comunidade internacional não pode ignorar”, conclui.