"Ninguém pode parar" o avanço das energias renováveis, insiste chefe da IRENA
"No curto prazo, isso terá um impacto" no desenvolvimento de fontes alternativas de energia, reconhece Francesco La Camera
AFP
Publicado em 10 de novembro de 2022 às 11h59.
A transição para fontes alternativas é imparável e pode ser a chave para a independência energética, disse o chefe da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), Francesco La Camera, em entrevista à AFP à margem da COP27 .
O mundo vive uma crise energética desde a invasão da Ucrânia pela Rússia e alguns países, na Europa em particular, correm para acumular reservas de petróleo e gás.
"No curto prazo, isso terá um impacto" no desenvolvimento de fontes alternativas de energia, reconhece Francesco La Camera.
“Mas, a médio e longo prazo, não temos outra saída senão descarbonizar. Porque, no fundo, as energias renováveis não são boas apenas para o clima, o emprego, o PIB, mas são uma forma real de garantir a independência energética”, disse.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também destacou este novo aspecto estratégico na terça-feira, garantindo que a transição é "boa para nossa segurança".
Para Francesco La Camera, os Estados Unidos não correm o risco de retroceder após as eleições legislativas, já que a oposição republicana não parece ter a maioria necessária para desfazer todo o grande pacote legislativo sobre transição energética que o presidente Joe Biden conseguiu aprovar meses antes.
“Durante o governo anterior [de Trump], as usinas de carvão já estavam fechando nos Estados Unidos”, destacou esse especialista.
"O mercado é o motor. O mercado já disse claramente que estamos caminhando para um sistema baseado em renováveis e completado por hidrogênio, principalmente verde. Ninguém pode parar esse progresso", assegurou.
"A questão não é para onde estamos indo, mas em que velocidade e em que escala", acrescenta.
A IRENA afirmou em um relatório publicado pela COP27 que a transição energética ainda não é forte o suficiente para cumprir o objetivo principal do Acordo de Paris, que é conter o aumento da temperatura do planeta abaixo de +2°C, e preferencialmente +1,5°C em relação à era pré-industrial.
"Os números dizem que devemos dobrar a ambição entre agora e 2030", destaca La Camera.
A meta é atingir 5,4 terawatts (TW) de capacidade elétrica renovável instalada, o que representa apenas metade dos 10,8 TW necessários para cumprir os compromissos climáticos.
A África está particularmente atrasada, apesar de seu enorme potencial de energia solar. Poderia se beneficiar de milhões de novos empregos e crescimento acelerado.
"Mas isso só pode ser alcançado se os países desenvolvidos estiverem dispostos a facilitar, apoiar, trabalhar com os africanos para que isso seja possível”, conclui.
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