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Mineração na Amazônia: para a Alcoa, o diálogo com a comunidade é a chave para reduzir os impactos

Desde 2000, a empresa realiza encontros trianuais com os moradores de Juriti, no Pará, de onde ela extrai bauxita. EXAME acompanhou o mais recente

Operação de mineração de bauxita da Alcoa em Juriti (PA): investimentos de 14 milhões de reais em projetos sociais (Fernanda Bastos/Exame)

Operação de mineração de bauxita da Alcoa em Juriti (PA): investimentos de 14 milhões de reais em projetos sociais (Fernanda Bastos/Exame)

Fernanda Bastos
Fernanda Bastos

Repórter de ESG

Publicado em 14 de março de 2023 às 07h00.

De Juriti, Pará

Em 2006, o município de Juruti, localizado no estado do Pará no coração da floresta Amazônica, abria espaço para se tornar um polo de mineração de bauxita, minério rochoso encontrado em locais de clima tropical e subtropical. Responsável pela operação, a Alcoa iniciou a produção três anos depois, impactando diretamente os 60 mil moradores da região.

Uma década e meia depois do início da operação, a cidade de Juriti e a empresa seguem debatendo sobre esse impacto. No início de março deste ano, moradores, diretores e funcionários da Alcoa se reuniram no 3º Painel Alcoa e Comunidade, evento que foi acompanhado pela EXAME. Em pauta, além da atuação efetiva da mineradora, estavam os projetos de educação, geração de renda e preservação ambiental apoiados pela empresa e que receberam mais de 14 milhões de reais desde 2017.

“Lidamos com um nível de complexidade muito grande. Isso é um negócio, mas temos um propósito. Daqui 100 anos, quando não estivermos aqui, queremos ter deixado um legado”, disse o diretor de operações da planta de Juruti, Helio Lazarim, durante o evento.

O Painel Alcoa e Comunidade existe desde os anos 2000 e acontece de três em três anos, mas foi pausado durante a pandemia da covid-19 e retomado apenas em 2023, com a melhoria do quadro mundial. Para a empresa, o evento é uma forma de divulgar os resultados alcançados pelo engajamento social do Instituto Alcoa, seu braço filantrópico no Brasil – globalmente, a companhia trabalha com a Alcoa Foundation. A edição deste ano apresentou resultados do Instituto obtidos entre os anos de 2017 e 2021 – visto que os resultados dos projetos sociais apoiados em 2022 ainda estavam em análise. Segundo a empresa, 18 mil pessoas foram impactadas pelos investimentos.

Educação e geração de empregos no centro da estratégia

A Alcoa apoia cerca de 40 iniciativas com seu investimento social. Um desses projetos é o da Associação de Pais e Mestres da Escola Municipal de Ensino Fundamental Zelinda de Souza Guimarães, que ajudou na criação de salas de informática com os equipamentos necessários para o ambiente de ensino, com um investimento de mais de R$ 200 mil. Outra iniciativa, da Associação Beneficente Emaús, atendeu 200 crianças e adolescentes em oficinas de instrumentos musicais, dança, esportes e artesanato com um valor de mais de R$ 78 mil.

Já a Alcoa e a Alcoa Foundation têm uma parceria com o IJUS (Instituto Juruti Sustentável) e outros parceiros internacionais no projeto Ingá (Indicadores de Sustentabilidade e Gestão na Amazônia), que se propõe a preservar a biodiversidade levando em consideração a Agenda 2030 estabelecida pela ONU (Organização das Nações Unidas), ao mesmo tempo que apoia o empreendedorismo local com soluções sustentáveis.

Além desses dois projetos, o Instituto Alcoa auxilia em projetos de geração de trabalho e renda, como o Costurando Sonhos, com um investimento de mais de R$ 128 mil para a Associação Beneficente Emaús, que ofereceu oficinas de corte e costura e artesanato para mulheres e jovens em situação de exclusão social para alcançarem a liberdade financeira. Outro projeto nesse sentido é o Mulheres Empreendedoras - Donas, do Instituto Consulado da Mulher, que capacitou mais de 50 mulheres empreendedoras visando o aumento de renda. O investimento foi na casa de R$ 112 mil.

A fome e sonhos de uma vida melhor

A partir de 2018, o Instituto Alcoa apoiou o projeto Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Farinha, em parceria com o SEBRAE, com um investimento de R$ 220 mil, já que a farinha é um insumo de extrema importância para as comunidades locais. A ação tinha como objetivo melhorar o desempenho e contingente da farinha de agricultores familiares e produtores rurais.

“Temos aqui pessoas de todos os lugares, países diferentes, mas existe algo que Independente da língua, que todos passam e não precisamos de intérprete: a fome.  Sem os pequenos produtores rurais, a gente não tem uma sociedade que funcione. Nós, produtores rurais, somos sonhadores e precisamos de apoio. A cooperativa está aqui para ser representante jurídica dos agricultores, nós procuramos melhoria”, afirmou Ernandes de Oliveira Ribeiro, presidente da Cooperativa de Agropecuária de Pequenos Produtores Rurais de Juruti (COOPAJ).

Um projeto iniciado em 2022, foi o Banjus (Banco Juruti Sustentável), do IJUS, que tem como objetivo melhorar o acesso à crédito para famílias locais e ajudar empreendedores. Outra iniciativa apoiada pelo banco, que conta com a ajuda financeira do Instituto Alcoa, é investir em micro e pequenos negócios. Com o acesso ao crédito, empreendedores podem comprar insumos, investir em matéria-prima e produtos – além de conseguir máquinas e equipamentos para os seus negócios.

Como funciona a seleção dos projetos

Antes de pulverizar os seus investimentos financeiros, os projetos sugeridos pela comunidade local devem ser submetidos em editais disponibilizados pela empresa e aprovados, tendo em vista os interesses dos moradores e da sociedade civil. Segundo Bárbara Almeida, Coordenadora de Relações Institucionais, o grupo de Relações Comunitárias do Instituto Alcoa em Juruti, do qual faz parte, conta com um time para executar os projetos, desde o processo de recepção e avaliação das propostas até a implementação.

"É importante ter uma licença social para operar. Essa licença social não é um documento formal, é a forma como a gente se conecta com a comunidade que nos permite esse trabalho, que é diário. Ele é feito através de muitos projetos que temos com o time de Relações Comunitárias”, explica Almeida.

A coordenadora ainda comenta que o Conselho Consultivo de Relações Comunitárias é formado por mais de 10 instituições do município, dentre elas, a Prefeitura de Juruti, o Instituto Juruti Sustentável e a Secretária de Assistência Social. Os projetos são acompanhados por um ano, mas podem ser estendidos por períodos mais longos, com a submissão novamente do edital. Além disso, o Instituto conta com voluntários, que são funcionários da companhia.

Os caminhos para a mineração sustentável

A Alcoa é uma empresa de mineração de bauxita para a produção de alumínio que, no Brasil, conta com fábricas em três diferentes localidades: Poços de Caldas (MG), São Luís (MA) e Juruti (PA). A mineração é uma atividade de alto impacto para o meio ambiente, visto que a área minerada precisa ter sua vegetação arrancada para que o minério seja retirado do subsolo.

Desastres ambientais como os de Brumadinho e Mariana marcaram a vida de muitos brasileiros e, por esse motivo, algumas pessoas têm receio quando grandes empresas chegam em suas cidades ou municípios para atuarem. O que a Alcoa quer provar é que existem caminhos para que problemas como esses sejam evitados. “Fazer mineração já é um grande desafio e fazer mineração na Amazônia é um desafio ainda maior, mas é uma necessidade da sociedade. Fazer mineração com sustentabilidade é a chave, e é possível fazer isso na Amazônia, desde que estejamos alinhados ao tripé social, econômico e ambiental”, afirmou José Aroldo Chaves Paula, Gerente de Relações Institucionais da Alcoa. Para ele, o alumínio é um bem social. “Não existe celular, avião ou construção civil sem mineração, só para dar alguns exemplos. Então a mineração é um bem necessário, mas precisamos fazer isso de maneira responsável, combinada e alinhada com todos os atores que participam desse processo”, comentou.

Segundo Janaina Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), que esteve presente no 3º Painel Alcoa e Comunidade, o Brasil tem a quarta maior reserva de bauxita do mundo e é o quarto maior produtor global do minério, depois de Austrália, Guiné e China. Donas esclarece que muitos confundem a atividade de mineração de grandes empresas com garimpos. Segundo ela, todas as mineradoras de bauxita no Brasil são certificadas por uma entidade internacional independente chamada Aluminium Stewardship Initiative (ASI), que exige o cumprimento de padrões globais de desempenho e gestão de todas as etapas da cadeia produtiva. Isso não acontece em atividades ilegais, por exemplo.

“As empresas que atuam na mineração da bauxita no Brasil buscam implementar estratégias de negócios que geram valor à sociedade, e, ao mesmo tempo, reduzam os impactos das suas atividades. As minas de bauxita são operadas por empresas comprometidas com o alto desempenho e com soluções inovadoras para uso compartilhado do solo, recuperação de áreas mineradas e no planejamento e gestão responsável de rejeitos”, afirmou Donas.

Não basta investir em tecnologia

Além da inovação e da tecnologia, empresas ambientalmente responsáveis investem em ações de desenvolvimento regional, como projetos de capacitação profissional e renda, educação ambiental e infraestrutura das comunidades nas áreas onde estão localizadas as plantas. Para a presidente da ABAL, o resultado do esforço fica evidente no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios que contam com a mineração de bauxita. De 2000 a 2010, segundo o IBGE, o IDH nos municípios do Pará onde estão localizadas as principais mineradoras registraram os seguintes crescimentos: Juruti, 52%; Paragominas, 37% e Oriximiná, 21%.

“Não se faz sustentabilidade sozinho, sem dialogar com os atores que estão presentes no entorno, no local aonde a empresa chega. Eu acredito muito no diálogo com os diversos stakeholders, que não é só do empresário ou do poder público, mas que inclui a sociedade civil e as ONGs. É e aqui eu acho que a gente está num ambiente muito favorável para isso. Se construirmos um diálogo, vamos construir projetos ainda melhores”, conclui José Aroldo.

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