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Jeane Tsutsui, nova CEO do Fleury: laboratório é só o começo

A executiva aposta no desenvolvimento de uma plataforma de saúde integrada e aberta para expandir a atuação do grupo para além dos diagnósticos

Jeane Tsutsui, do Fleury: "Existe a necessidade de resolver a fragmentação do cuidado em saúde, e isso é interesse das operadoras. A saúde suplementar vai mudar" (Fleury/Divulgação)
RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 20 de abril de 2021 às 06h19.

Última atualização em 22 de junho de 2022 às 16h22.

A médica Jeane Tsutsui , doutora em cardiologia e livre docente em medicina pela Universidade de São Paulo, assumiu a presidência do Fleury com a missão de levar o grupo de diagnósticos para além dos laboratórios. Há 20 anos na empresa, Tsutsui estará à frente de uma grande transformação no modelo de negócios da companhia.

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O plano é criar uma plataforma integrada de saúde, que irá conectar diversos serviços, inclusive de terceiros. Dessa forma, o Fleury pretende participar mais da jornada de saúde dos clientes, da prevenção ao tratamento. Ao mesmo tempo, tem a ambição de solucionar um velho conflito do setor de saúde: a relação entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços.

A executiva falou à EXAME por videoconferência. Confira os principais trechos da entrevista:

A senhora assume o Fleury em um momento em que o setor de saúde está em evidência por causa da pandemia. Qual é sua expectativa no cargo e como será a estratégia do Fleury daqui em diante?

Estou há 20 anos no Fleury e há 14 em cargo de gestão. Estou preparada para encarar o desafio. A saúde ficou em evidência na pandemia, de fato. E ficou clara a importância de se criar um modelo integrado, que olhe para o indivíduo de maneira holística, com uso intenso de ferramentas digitais. É preciso conciliar o cuidar da saúde, que se faz quando se está saudável, e o tratamento de doenças. Esse é o desafio das empresas do setor. A estratégia do Fleury será aumentar a presença nessa jornada de saúde das pessoas.

Como será essa maior presença?

Vamos ampliar a nossa atuação. Com tecnologia, criaremos novos elos em nossa cadeia, com o objetivo de fazer uma coordenação do cuidado com a saúde. Nossa intenção é migrar para uma atuação baseada em plataformas de saúde, que compreenda diagnósticos, telemedicina, prontuário eletrônico etc. Para isso, precisamos mudar nosso modelo de negócios, conectando outros serviços à nossa plataforma. A ideia é que o cliente entre no nosso ecossistema e possa não apenas fazer um exame, mas também tratar um ferimento ou uma doença em todas as etapas, até a fisioterapia. Para isso, estamos investindo na digitalização. Em nosso sistema, o paciente terá acesso a todo seu histórico médico e poderá solicitar serviços digitalmente.

Essa plataforma será aberta, ou seja, outras empresas poderão se conectar a ela?

Sim, qualquer serviço de saúde pode se conectar. A plataforma irá zelar pela segurança e pela confidencialidade, mas não terá somente serviços do Grupo Fleury. Um ponto importante, nesse sentido, são as startups. Este ano, lançamos a Cortex Ventures, um fundo voltado para o desenvolvimento de healthtechs, que tem investimento conjunto nosso e do Sabin, nosso concorrente em diagnósticos. Cada vez mais, o setor de saúde terá de lidar com ambiguidades e criar relacionamentos abrangentes.

Há diversos movimentos de consolidação no setor de saúde. Isso significa que o Fleury irá participar ativamente desse processo?

Nós já estamos adquirindo empresas de diversos segmentos para construir essas soluções integradas. O objetivo é que o cliente possa ter acesso a todos os serviços a partir de um histórico de saúde conectado. E daremos um salto de aceleração nesse processo.

Como fica a relação com as operadoras de saúde nesse novo modelo? O Fleury acaba competindo com outros players do setor?

Não acredito que haja competição. Para problemas complexos, como a gestão da saúde, não encontramos soluções individualistas. Existe a necessidade de resolver a fragmentação do cuidado em saúde, e isso é interesse das operadoras. A saúde suplementar vai mudar. Já vemos empresas trabalhando para gerenciar a saúde dos funcionários, como no caso da iniciativa do JP Morgan com a Amazon (as empresas anunciaram recentemente uma parceria para usar a tecnologia da Amazon para dar eficiência à assistência em saúde aos funcionários do banco). Não vamos equilibrar os custos da medicina sem soluções conjuntas. Claro que há divergências, mas precisamos chegar a um alinhamento.

Essa nova realidade abre espaço para o Fleury atender diretamente o mercado corporativo, sem passar pela operadora de saúde?

Tecnicamente sim, mas há a questão da gestão do risco. É onde entra a operadora. Por ter uma visão do todo, ela consegue fazer melhor esse trabalho.

Se pudesse voltar no tempo, o que faria de diferente no enfrentamento da pandemia?

É difícil falar sobre isso agora. No começo, houve um desconhecimento muito grande sobre a doença, falo isso como médica. Para mim está clara a necessidade de vacinação em massa, o mais rápido possível. A necessidade de comunicar e conscientizar as pessoas sobre o uso de máscaras e o distanciamento social é muito relevante. A comunidade científica bateu nessa tecla desde o início. Como sociedade, falhamos em não ter feito essa conscientização de maneira abrangente. Não há solução econômica sem uma solução sanitária.

A senhora é uma das poucas mulheres a comandar uma empresa de capital aberto no Brasil. É um desafio?

Tenho muito orgulho de trabalhar em uma empresa formada 80% por mulheres. Temos 2 mulheres no conselho. O setor de saúde também é bastante feminino. Pela primeira vez, o número de médicas superou o de médicos no Brasil. Isso é muito importante, sem dúvida houve avanços, mas precisamos dar mais espaço para essa discussão, em relação às mulheres e a outras desigualdades. É uma questão de equilíbrio. Ser uma líder mulher em uma empresa aberta é um desafio, mas me preparei para isso. Não terei dificuldade de me posicionar.

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