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Ao todo, foram contabilizados 1.707 registros de 45 espécies por meio de expedições de monitoramento e emergência – quando realizadas até 72 horas após o fogo (AFP Photo/AFP Photo)
Repórter de ESG
Publicado em 15 de novembro de 2024 às 16h00.
Última atualização em 15 de novembro de 2024 às 20h11.
A serpente d’água Helicops boitatá, que recebeu o nome em homenagem à serpente folclórica famosa por proteger as florestas dos incêndios criminosos, pode ser extinta justamente por conta do aumento dos incêndios no Pantanal. A espécie foi reconhecida pela ciência em 2019 e é única espécie de réptil que só pode ser encontrada do bioma.
Um artigo publicado na revista Biodiversidade Brasileira, feito por pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), relata que após episódios de fogo, a espécie só foi encontrada sem vida. Após o período de emergência, a serpente não foi mais localizada, viva ou morta .
Entre 2020 e 2023, os cientistas realizaram levantamentos de répteis e anfíbios no Mato Grosso. Ao todo, foram contabilizados 1.707 registros de 45 espécies por meio de expedições de monitoramento e emergência – quando realizadas até 72 horas após o fogo.
Durante essas campanhas de emergência, serpentes como a Helicops boitata foram as mais encontradas entre os animais mortos, representando 77% dos registros de répteis . Nove espécies de répteis só foram registradas durante as emergências, sendo quatro lagartos e cinco serpentes.
De acordo com os pesquisadores, as carcaças das cobras indicavam morte por queimaduras ou ebulição dos corpos d’água onde residiam. O biólogo Leonardo Felipe Bairos Moreira, pesquisador do INPP, conta que até o monitoramento, poucos exemplares das espécies tinham sido encontrados. “O que vemos agora é que ela ocorre em um ambiente de difícil acesso, que está extremamente vulnerável”, conta.
A cobra-d’água vive em corpos d’água, mas recorre a fendas no solo em períodos de seca, o que a torna vulnerável ao fogo. “Os incêndios no Pantanal, que deveriam ocorrer na transição para a estação chuvosa, agora ocorrem no auge da seca, quando há menos oferta de água e recursos para os animais”, alerta o biólogo Leonardo Felipe Bairos Moreira, do INPP.
Ele explica que mesmo que os animais sobrevivam ao fogo, precisam enfrentar um ambiente sem chuvas e com menos recursos. O impacto é visto na sua reprodução e alimentação.
A Helicops boitata foi avaliada como ameaçada de extinção segundo critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e pode ser incluída na próxima Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, conforme indica Carlos Abrahão, analista ambiental do ICMBio.
Contudo, os métodos atuais são insuficientes para medir o impacto total do fogo e da seca sobre a biodiversidade de répteis e anfíbios no Pantanal, segundo Alejandro Valencia-Zuleta, autor principal do artigo e pós-doutorando na UFG.
Valencia-Zuleta alerta que outras espécies endêmicas podem estar ameaçadas , embora sua detecção seja complexa. “Não encontramos tantos anfíbios quanto o esperado; eles podem ter sido carbonizados, predados ou estarem bem escondidos”, afirma. Ele reforça que há necessidade de métodos mais precisos para compreender a verdadeira extensão das ameaças que o fogo representa para a biodiversidade do Pantanal.