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Especial Trajetórias: Paula Azevedo, a liderança renovada pós recomeço de Inhotim

De epicentro artístico a agente de transformação territorial após sucessivas adversidades, conheça a presidente que conduz a jornada de reinvenção do aclamado museu a céu aberto

Paula Azevedo, presidente do Inhotim: "Minha missão é dar continuidade a um trabalho grandioso e fazer a instituição se consolidar não apenas como um museu, mas como um espaço vivo de reflexão e conexão com o território e a natureza" (Divulgação)

Paula Azevedo, presidente do Inhotim: "Minha missão é dar continuidade a um trabalho grandioso e fazer a instituição se consolidar não apenas como um museu, mas como um espaço vivo de reflexão e conexão com o território e a natureza" (Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 17 de março de 2025 às 15h55.

Última atualização em 17 de março de 2025 às 16h19.

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Uma mulher de muitas paixões, curiosa, determinada e que ama conversas profundas. Essa é Paula Azevedo para além do trabalho: cheia de hobbies, ela conta que adora dançar, é apreciadora de tudo que envolve as artes e se considera bastante transparente.

"Tem uma frase que me define bem, e também muitas de nós: você vende o que fala, mas entrega quem você é", disse em entrevista à EXAME, para a série especial de trajetórias femininas, lançada neste mês da mulher.

Paulista e mãe de três filhos, ela é hoje presidente do Instituto Inhotim, dirigindo o maior museu a céu aberto da América Latina, localizado em Brumadinho (MG), em meio aos biomas da Mata Atlântica e Cerrado.

À frente de uma diretoria majoritariamente feminina, Paula conta que sua liderança também reflete de forma fiel sua personalidade. "Quando entro em qualquer projeto, seja de vida, trabalho, casa ou como mãe, é com muita paixão e garra de fazer acontecer", frisou.

Segundo a executiva, sua conexão com a arte começou cedo e é elemento central em sua vida. Profundamente ligada ao universo artístico desde pequena, ela sempre conviveu entre intelectuais e artistas. O motivo? Acompanhar a mãe, que era modelo, nas muitas viagens que fazia em função da profissão.

"Ela era uma mulher maravilhosa e forte, em uma época em que ser modelo era complicado e existiam muitas críticas em torno da ofício. E foi esse legado familiar que me estimulou a sempre querer entender mais das conversas, a ser uma questionadora do mundo", contou.

Sua trajetória em direção à alta liderança sempre foi marcada pelo grande desejo de contribuir para a melhora da governança e gestão dos lugares por onde passou. Paula começou a carreira no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), onde coordenou o Núcleo de Arte Contemporânea. Depois, foi convidada para integrar a diretoria do museu, onde permaneceu por oito anos.

Mais tarde, atuou no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), de Raquel Arnaud, e em seguida assumiu a diretoria de Relações Institucionais e Governança no Instituto Tomie Ohtake. Até que em 2022, foi convidada pelo idealizador do Inhotim, Bernardo Paz, para assumir a vice-presidência. Um ano depois, tornou-se a primeira mulher a presidir a instituição.

Paula assumiu o cargo com a árdua missão de fortalecer a governança, dando continuidade ao legado de Bernardo. Um dos principais destinos turísticos de Minas Gerais, Inhotim é uma organização sem fins lucrativos e abrange um dos maiores acervos de arte contemporânea do mundo.

A resiliente Inhotim está situada em um terreno de cerca de 140 hectares, cuja biodiversidade fora degradada pela mineração e por fazendas, sendo restaurada posteriormente em meados dos anos 1980. Décadas mais tarde, em 2019, testemunhou uma das maiores tragédias socioambientais brasileiras quando o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro, devastou Brumadinho e alterou profundamente as dinâmicas sociais, econômicas e ambientais da região.

Embora o complexo museológico não tenha sido fisicamente atingido pela onda de rejeitos, o impacto humano foi devastador para a instituição, que empregava cerca de 600 colaboradores – 80% deles residentes na região.

Em 2020, um novo golpe: a chegada da pandemia da Covid-19 forçou um fechamento prolongado. Ao retomar suas atividades, o Instituto implementou protocolos sanitários rigorosos, mas viu reduzir drasticamente sua capacidade de visitação – das 5 mil pessoas recebidas diariamente no período pré-pandêmico, o limite foi redimensionado para apenas 500 visitantes.

"Agora é dar continuidade a um trabalho grandioso e fazer a instituição se consolidar não apenas como um museu, mas como um espaço vivo de reflexão e conexão com o território e a natureza. Não falamos apenas de arte, mas também de regeneração e sustentabilidade", destacou Paula, cuja gestão tem sido marcada por transparência e a busca incessante por impacto social transformação para um futuro mais sustentável.

"Meu sonho é tornar 0 museu mais plural, mais acessível e mais conectado com as questões contemporâneas. Onde arte, a natureza e educação são os pilares que nos sustentam", ressaltou, sem esquecer do que a move na própria jornada.

Para ela, buscar o equilíbrio é essencial e é um norte para outras mulheres com duplas e triplas jornadas. "Temos muitos papéis e precisamos entender nossos limites e até onde é saudável ser multitarefa", aconselha,a  gestora, que optou por seguir morando em São Paulo por conta da rotina dos filhos, ainda que esteja sempre dividida entre pontes aéreas para Minas, Belo Horizonte e Brumadinho.

Para além da arte, sustentabilidade

O Instituto Inhotim tem adotado uma abordagem robusta e global em relação à sustentabilidade. Em 2024, revisitou sua Missão, Visão e Valores, alinhando suas iniciativas aos maiores desafios globais.

No mesmo ano, formou um Comitê de Equidade Racial, que estebelecerá metas para promover a diversidade e inclusão em todos os níveis de gestão. Na diretoria de Paula, cinco mulheres compõem a estrutura, que ela define como "um lugar de escuta e empatia, que em nada diminui a força de liderança".

A instituição tem adotado ainda uma abordagem plural na programação e no cuidado com o território, buscando representar uma variedade de vozes e perspectivas nas artes, educação e na interação com a comunidade local. "Museus são espaços de construção. O futuro precisa ser mais plural. Meu propósito é também abrir caminhos", frisou.

Em fevereiro deste ano, o Instituto anunciou a oferta de 85 bolsas remuneradas para habitantes de Brumadinho - com valores de R$ 400 para jovens a partir de 14 anos e de R$ 1.000 para os adultos -, intensificado seu compromisso com o desenvolvimento regional através de iniciativas como o LAB Inhotim, Jovens Agentes Ambientais e os projetos recém-lançados LAB Mães e LAB Jardim.  

Neste sentido, há um investimento forte na democratização do acesso, oferecendo entrada gratuita a moradores de Brumadinho e ampliando a acessibilidade por meio de um aplicativo, visando facilitar a experiência dos visitantes. Em 2024, o Inhotim registrou um recorde de visitação: foram 335 mil pessoas passando por lá – 60% das quais entraram gratuitamente.

O museu também tem um papel importante na conservação ambiental. Em uma área de 140 hectares, das quais 75 são fragmentos florestais, as áreas verdes são responsáveis por mitigar as mudanças climáticas e contribuem ativamente para a absorção de carbono. "Metade da vegetação do local tem menos de 30 anos, o que significa que ainda está em pleno crescimento. Hoje, é capaz de estocar até 35 mil toneladas de CO2 e a tendência é aumentar", contou Paula.

Dentre outras ações, há o projeto "Plástico Zero". Iniciado em dezembro de 2023, este resultou na redução de 370 mil copos plásticos ao eliminar o uso de descartáveis e os substituir por materiais recicláveis, como vidro e alumínio.

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