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Direitos humanos na moda: Pacto Global da ONU inicia trabalho de conscientização das empresas

Atuação das empresas de indústrias têxtil e de vestuário será debatida dentro do braço da ONU; de acordo com Camila Valverde, COO do Pacto Global no Brasil, objetivo é garantir condições de trabalho e salário dignas para o setor

Camila Valverde, COO do Pacto Global do Brasil: "Ação pode beneficiar toda a sociedade e a cadeira de valor da produção, de quem planta o algodão até a confecção final" (Leandro Fonseca/Exame)

Camila Valverde, COO do Pacto Global do Brasil: "Ação pode beneficiar toda a sociedade e a cadeira de valor da produção, de quem planta o algodão até a confecção final" (Leandro Fonseca/Exame)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 3 de abril de 2024 às 11h42.

O Pacto Global da ONU no Brasil lança nesta quarta-feira, 3, o grupo de trabalho em Direitos Humanos para o setor de Moda Têxtil, que busca agir com empresas da cadeia da moda para garantir o respeito e a ética nas operações. O anúncio durante o Fórum Ambição 2030, realizado entre os dias 3 e 4 deste mês, em São Paulo.

Dados alarmantes sobre os direitos humanos nos setores têxtil e de moda motivaram a criação do grupo de trabalho: apesar de ser uma fonte de renda para milhões de mulheres e jovens, o segmento enfrenta desafios para garantir condições justas de trabalho e de salário.

A informalidade com que as confecções são realizadas afasta fiscalizações, o que torna o trabalho mais inseguro em muitas vezes. Ela também é uma das responsáveis pelos salários pequenos, que muitas vezes não garantem a autonomia econômica de quem trabalha no setor — especialmente em regiões do país em que a vulnerabilidade é uma realidade. Uma pesquisa do Observatório Têxtil do Centro do Estudos Têxteis Aplicados aponta que as confecções nas regiões Norte e Nordeste têm custos de mão de obra até 40% menores do que em outras regiões do país.

Para Camila Valverde, diretora de operações do Pacto Global no Brasil, o GT surge para movimentar empresas do setor em dois pilares estratégicos da atuação da ONU no País: direitos humanos e trabalho. “Quando o trabalho do grupo acontece de forma setorial tem mais chances de ser assertivo no endereçamento das questões encontradas, porque as dores e os desafios são comuns dentro de indústrias do mesmo setor”, conta.

Além de mapear as oportunidades e desafios vivenciados pela área como um todo, outro ponto que o grupo de trabalho busca incentivar é a criação de relatórios analíticos com dados e práticas a serem incentivadas entre empresas, o que pode impactar toda a cadeia de produção do setor. “Buscaremos capacitar e sensibilizar as lideranças das empresas sobre sua atuação. As maiores empresas do setor têxtil e de vestuário do Brasil fazem parte do Pacto Global, então o cenário é favorável: temos muitas empresas já engajadas na agenda do desenvolvimento sustentável”, conta Valverde.

Ela ainda explica que a atuação busca atingir um setor com imensa relevância para o cenário indústria brasileiro. “Hoje, 20% dos trabalhadores da indústria nacional estão alocados no setor de têxtil. 60% deles são mulheres. Então é importante adereçar esse tema porque investindo nele a gente irá contribuir com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável essenciais, como desenvolvimento sustentável, equidade de gênero, desenvolvimento de lideranças femininas... são muitos ganhos”, afirma.

Para Camila, o impacto deve ser maior do que apenas para as empresas já atuantes no Pacto Global da ONU. “O diálogo, seja o aprofundamento por meio de encontros, workshops ou fazendo o intercâmbio dessas informações com diversos atores do setor, é o que pode garantir o avanço ESG de cada uma dessas empresas”, explica.

A diretora de operações aponta que o benefício vai além dos pequenos produtores e da mão de obra envolvida no trabalho. “Essa atuação pode beneficiar toda a sociedade, não só a cadeia de valor, que vai desde quem planta o algodão até a confecção final, como também o mercado consumidor, que está cada vez mais engajado nesses temas. É um setor extremamente rico que pode impactar muito com esse trabalho”, conta.

A atuação do grupo de trabalho terá duração de 18 meses e complementa o trabalho já realizado pelos direitos humanos por outros grupos setoriais do Pacto Global, nos setores elétrico e energético, de negócios oceânicos e do mercado financeiro. Os GTs fazem parte da Aliança pelos Direitos Humanos e Empresas, formulada pelo braço da ONU e a Organização Internacional do Trabalho, lançado no ano passado.

Acompanhe tudo sobre:Pacto Global da ONU no BrasilONUDireitos HumanosModaSetor têxtil

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