COP29: Países ricos propõem US$ 300 bi, mas negociações seguem sem prazo
Após críticas à modesta meta de US$ 250 bi anuais, divulgada no rascunho do acordo final, países desenvolvidos devem propor ampliar para US$ 300 bi. Fim das tratativas segue indefinido.
Editora ESG
Publicado em 23 de novembro de 2024 às 10h40.
Última atualização em 23 de novembro de 2024 às 10h45.
A Conferência Climática das Nações Unidas no Azerbaijão tem se revelado um campo de batalha diplomático onde disparidades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento se manifestam de forma cada vez mais aguda.
O prolongamento das negociações além do prazo inicialmente estabelecido para sexta-feira, 22, à tarde, estendendo-se pela madrugada e ao longo deste sábado, evidencia mais uma vez a complexidade e a tensão que permearam a semana de discussões decisivas sobre financiamento climático - tema principal desta Cúpula. No centro do debate das últimas horas permanece a questão fundamental, sobre quanto os países ricos estão dispostos a contribuir para ajudar as nações em desenvolvimento a enfrentar a crise do clima?
Ao longo da sexta-feira, em uma modesta evolução dos diálogos, um segundo rascunho do acordo final foi divulgado pela Presidência da COP29, com uma proposta de US$ 250 bilhões para o financiamento até 2035.A meta não agradou e na manhã de hoje, avançou para US$ 300 bilhões anuais, revelando tanto algum progresso quanto as limitações do compromisso internacional com a justiça climática..
Líder das negociações dos pequenos estados insulares, Thoriq Ibrahim, Ministro do Clima, Energia e Meio Ambiente das Maldivas, declarou mais cedo ao The Guardian, que o montante proposto ontem, considerando a inflação em relação à meta anterior de US$ 100 bilhões definida em 2009 , "expõe uma realidade frequentemente negligenciada nas negociações climáticas, o valor real do dinheiro ao longo do tempo".
Contexto político global é camada extra
Especialistas apontam que o contexto político global adiciona uma camada extra de urgência às negociações. A avaliação é de que a possibilidade de mudanças significativas no cenário internacional, incluindo as mudanças de governo em países-chave como Estados Unidos, Alemanha e Canadá, estimula uma janela de oportunidade que se fechará rapidamente. Eeste fator temporal pressiona os negociadores a encontrar um acordo agora, mesmo que imperfeito, ante o risco de enfrentar condições ainda mais desafiadoras no futuro.
Em relação aos fracos documentos divulgados até agora e outras polêmicas por parte das autoridades oficiais doAzerbaijão, representantes da sociedade civil vêm se manifestando por meio de protestos silenciosos na própria Conferência e declarações contundentes de organizações como a Oxfam, que enfatizou como as necessidades dos países mais vulneráveis não tem sido abordadas de forma suficiente e adequada.
Durante este sábad0 - e sabe-se lá até quando - espera-se que a meta global de US$ 1,3 trilhão anuais até 2035 seja analisada em uma perspectiva mais ampla e realista do desafio climático. O montante precisará ser distribuído entre diversas necessidades igualmente críticas: mitigação, adaptação, perdas e danos e transição energética.
"Nenhum acordo é melhor que um mau acordo"
Portanto, não é apenas sobre quanto dinheiro será prometido, mas como ele será distribuído e em que termos.Seja via doações versus empréstimos, financiamento direto versus mecanismos de mercado ou um conjunto de todos esses instrumentos. É ainda fundamental ponderar na balança de riscos, sobretudo para o Sul Global, a possibilidade de um mau acordo aprofundar o endividamento de países já sobrecarregados financeiramente por conta de empréstimos climáticos recentes.
Na sexta-feira, ativistas passaram a ecoar o dilema que observam com apreensão a esta altura das negociações:"nenhum acordo é melhor do que um mau acordo", enfatizaram. O que de fato ressoa com momentos históricos em negociações climáticas anteriores, mas precisará ser equilibrado com a urgência da crise climática, que impede o adiamento de decisões. As nações insulares, em particular, enfrentam ameaças de sobrevivência que não podem esperar por um acordo perfeito.
Para lidar com a gravidade do contexto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, intensificou sua participação, fazendo ligações diretas para capitais nacionais, em uma intervenção ao mais alto nível para desbloquear o impasse e, finalmente, fechar a Conferência.