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Brasil precisa investir US$ 6 tri para zerar emissões e eletrificação será o motor, diz BloombergNEF

Relatório divulgado em primeira mão pela EXAME aponta caminhos para a descarbonização do país até 2050 e engloba os setores de energia, transporte, indústria e edifícios

Em um cenário netzero, as renováveis devem triplicar até 2050 no Brasil (Envato)

Em um cenário netzero, as renováveis devem triplicar até 2050 no Brasil (Envato)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 14h14.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2025 às 16h38.

"Não existe uma bala de prata para a descarbonização e cada tecnologia tem um uso mais adequado a depender do que fizer mais sentido economicamente", disse à EXAME Vinicius Nunes, analista da BloombergNEF à frente de um relatório inédito divulgado nesta quinta-feira (20) com os caminhos e oportunidades do Brasil rumo à transição para uma economia de baixo carbono até 2050. 

Há mais de 10 anos, o braço da Bloomberg de pesquisas sobre o setor energético lança o documento anualmente e pela primeira vez, traz uma modelagem detalhada englobando também o transporte, indústria e edifícios. 

A solução para chegarmos ao netzero não é única e nem engloba apenas um setor: embora as emissões brasileiras relacionadas à energia representem metade do total e devem cair rapidamente, não iremos chegar lá sem combater o desmatamento e promover uma agricultura sustentável. Isto porque, o uso da terra e agronegócio representam a outra metade. 

Mas é uma unanimidade: o Brasil está em uma posição única, com um mercado energético já amplamente descarbonizado e na frente de outros países que ainda precisam voltar um passo atrás e 'limpar' suas matrizes elétricas.

"Muitas vezes, o próprio brasileiro olha para o país e acha que pela matriz elétrica ser predominantemente renovável, não há desafios neste setor. O que ele esquece é que não estamos falando só do elétrico, é também transporte, indústria, e sobre fazer com que o crescimento da demanda continue sustentável, ou seja, que não se instale mais fontes fósseis", disse Vinicius.

O Brasil deve triplicar a capacidade de energia renovável até 2050, mas atualmente mais da metade do consumo final de energia ainda vem de combustíveis fósseis. O relatório destaca que será preciso um investimento de US$ 6 trilhões até 2050 no setor e o maior vilão (o que mais emite) é o transporte, que exigirá mais do que biocombustíveis. 

Por isso, a eletrificação é o principal motor da descarbonização e seu papel rumo às emissões líquidas zero resolveria 55% da conta. Em seguida, vem o hidrogênio (10%), captura de carbono (9%) e bioenergia (8%).  

A eletrificação contempla deste o aumento na demanda e competitividade de veículos elétricos, como a substituição de processos em indústrias intensivas em energia -- que passariam a usar fontes limpas. Segundo Vinicius, o transporte é a base para o abatimento das emissões, mas eletrificar não é tudo, e é preciso pensar em um 'mix' de tecnologias.

"Em uma perspectiva econômica, nós vemos o crescimento de elétricos nas rodovias, com um custo mais competitivo. Mas há outros processos difíceis de serem eletrificados: você não consegue colocar bateria em um avião, por exemplo. Então é preciso ter combustíveis sustentáveis de aviação (SAFs)", explicou.

Aí também entram os biocombustíveis, que para além do transporte, passam a ter uso em outros processos mais economicamente viáveis. É o caso do etanol, amplamente utilizado no Brasil desde a década de 70, e "que é muito importante, mas em uma perspectiva econômica encontra uso em outras áreas, até como SAFs ou na própria indústria, e pode gerar uma oportunidade de exportação", complementou Vinicius.

Já o hidrogênio verde teria um papel de suprir mais da metade do transporte e precisaria ter um aumento de produção em cinco vezes até 2050, ao mesmo tempo em que representaria apenas 2% da demanda global.

A partir de 2030, se tornaria uma ferramenta de descarbonização para indústrias como o aço e o alumínio. Além disso, há uma grande oportunidade de usá-lo na refinaria de petróleo e na produção de metanol e de amônia, em substituição ao hidrogênio cinza proveniente de fósseis.

"Como tudo novo que surge, o hidrogênio nasceu com um 'hype muito grande' e foi visto por muito tempo como uma história de exportação no Brasil. Mas na verdade, os principais usos e os mais palpáveis econômicamente são os domésticos", disse o analista. 

Líder em renováveis como a eólica e solar, o Brasil é terreno fértil para a produção do hidrogênio de baixo carbono. Mas em um cenário econômico, ainda faltam incentivos e investimentos para que a tecnologia ganhe escala e se torne mais competitiva, reiterou Vinicius. O mesmo acontece com a captura de carbono, ainda muito incipiente e que ao mesmo tempo, representa a parcela de 9%.

"Setores intensivos em energia e de díficil abatimento, como cimento, aço, alumínio, não é possível eletrificar. E aí você precisa capturar carbono", acrescentou o especialista.

Dois cenários

O relatório da BloombergNEF analisou dois cenários para a transição energética no Brasil: o Cenário de Transição Econômica (ETS) e o Cenário de Emissões Líquidas Zero ou net zero (NZS).

O ETS reflete um caminho baseado apenas em fatores de mercado, sem novas políticas climáticas além das já existentes, resultando em um aumento de 29% nas emissões até 2035 e uma descarbonização limitada a setores como energia e transporte. Nele, o mundo caminha para um aquecimento de 2,6°C até 2100.

Já o NZS traça um caminho mais ambicioso, alinhado com a meta de emissões líquidas zero até 2050, exigindo um crescimento acelerado da eletrificação, além de investimentos em hidrogênio, captura de carbono e energias renováveis. Mesmo assim, considera um aumento de 1,75°C até 2100, além do limite de 1,5ºC estabelecido pelo Acordo de Paris. 

Nesse cenário, o investimento de US$ 6 trilhões para viabilizar a transição é apenas 8% maior do que no primeiro. A BloombergNEF destacou que a inação pode ser mais cara no longo prazo, ao considerar os impactos das mudanças climáticas e os custos associados aos seus efeitos mais intensos.

Vinicius ressalta que se tratam de dois modelos, e não uma previsão do que de fato o Brasil irá fazer.  "O que acontece em âmbito nacional depende muito de decisões políticas. Podemos fazer uma modelagem econômica de como o setor evolui, mas se amanhã o governo baixar um decreto específico, a perspectiva pode mudar", destacou.  

No caso do hidrogênio verde e de captura de carbono, o cenário netzero aponta a necessidade de subsídios e incentivos para que as tecnologias se desenvolvam, enquanto a eletrificação de veículos já é bastante viável na perspectiva econômica e só tende a aumentar. Especialmente, com a entrada de montadoras chinesas no Brasil.

Meta climática brasileira

A meta climática brasileira, estabelecida em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) anunciada durante a COP29 em Baku, prevê uma redução de 59% a 67% das emissões até 2035, em comparação com os níveis de 2005.

Mas diferentemente de outros países, não estabelece uma meta específica para cada setor da economia. O foco do Brasil na redução das emissões está, sobretudo, no combate ao desmatamento, que representa metade das emissões totais do país, enquanto o restante vem do setor energético.

Segundo Vinicius, isto significa que o país tem duas alternativas: zerar o desmatamento sem alterar significativamente o setor de energia, ou dividir a redução de emissões entre os dois.

Mesmo considerando o cenário de netzero no setor energético, a BloombergNEF projeta uma redução de apenas 20% das emissões do Brasil em comparação a 2005, bem abaixo da meta mínima de 59%.

"A NDC é mais ambiciosa do que o nosso cenário net zero, o que mostra que estamos engajados, mas também significa que vamos precisar intensificar ainda mais esforços em uso da terra e em práticas mais sustentáveis na agricultura", concluiu Vinicius.

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