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A natureza é o sustento mais da metade da economia global, mas os governos gastam muito mais na destruição do que na conservação (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 17 de dezembro de 2024 às 14h37.
Última atualização em 17 de dezembro de 2024 às 14h39.
O consumo excessivo e a agricultura insustentável estão alimentando crises sobrepostas que afetam a natureza e o clima, colocando em risco alguns ecossistemas como os recifes de coral, alerta um relatório divulgado pela ONU nesta terça-feira.
A avaliação elaborada pelo painel de especialistas em biodiversidade da ONU revela a interação complexa entre a perda da natureza, o aquecimento global e as ameaças à água, a alimentação e a saúde, assim como nosso papel na geração das crises.
O relatório, que levou três anos para ser preparado, foi aprovado por quase 150 governos após dias de debates intensos e publicado após resultados decepcionantes em uma série de reuniões de cúpulas da ONU sobre a situação do planeta.
Abordar qualquer desafio de maneira isolada condena o progresso nos demais, destaca a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
"Há um perigo real de solucionarmos uma crise, enquanto pioramos outras", disse Paula Harrison, uma das principais autoras do relatório.
O documento alerta, por exemplo, que o rápido aquecimento dos oceanos, a pesca excessiva e a poluição do mar estão levando os recifes de coral à extinção em poucas gerações. "Os recifes de coral são os ecossistemas mais ameaçados e poderiam desaparecer globalmente nos próximos 10 a 50 anos", destaca o longo relatório elaborado por dezenas de cientistas internacionais.
Uma perda tão catastrófica afetaria um bilhão de pessoas que dependem dos recifes para a alimentação, receitas do turismo e proteção contra tempestades.
O verdadeiro custo de tal destruição geralmente é oculto ou completamente ignorado, segundo os autores do relatório. De acordo com os especialistas, os combustíveis fósseis, a agricultura e a pesca poderiam custar até 25 trilhões de dólares por ano em custos não contabilizados, equivalentes a um quarto do PIB mundial.
"Estamos simplesmente ignorando essas trocas", declarou à AFP o economista James Vause, que contribuiu para o relatório. A natureza é o sustento mais da metade da economia global, mas os governos gastam muito mais na destruição do que na conservação.
Vause destacou que 200 bilhões de dólares são destinados a cada ano à biodiversidade, enquanto 35 vezes mais — quase 7 trilhões — são investidos em subsídios e incentivos negativos que prejudicam o planeta.
O relatório destaca o impacto particularmente prejudicial da agricultura intensiva, que "contribuiu para a perda de biodiversidade, emissões de gases do efeito estufa e poluição do ar, da água e da terra". A pesca "está se aproximando de pontos de inflexão", acrescenta.
Reduzir o consumo excessivo de carne vermelha e processada ajudaria a promover práticas agrícolas mais sustentáveis e a melhorar os resultados de saúde.
A humanidade desperdiça uma quantidade enorme de alimentos cultivados, enquanto 800 milhões de pessoas passam fome a cada dia, afirmou à AFP Pamela McElwee, que também está entre as principais autoras do relatório.
Tratar as crises inter-relacionadas como problemas separados é "duplicativo e pode envolver desperdício de dinheiro", acrescentou. Por exemplo, plantar árvores para enfrentar o aquecimento global pode ter um efeito negativo para espécies locais de plantas ou animais quando é feito de forma inadequada.
Envolver as comunidades na gestão de áreas marinhas protegidas trouxe benefícios tanto para o meio ambiente quanto para as receitas do turismo e da pesca para as populações locais. A IPBES reúne especialistas da ONU em biodiversidade e é equivalente ao IPCC, o grande órgão e arena para o debate sobre mudanças climáticas.
As negociações sobre biodiversidade em Cali (COP16) duraram mais que o esperado este ano, depois que os delegados buscaram mudanças substanciais de última hora em questões controversas, como combustíveis fósseis, plásticos descartáveis e hábitos de consumo.
As nações se reunirão novamente em fevereiro para tentar quebrar o impasse sobre como arrecadar 200 bilhões de dólares anualmente para a biodiversidade.