Última oferta pública inicial na B3 foi há três anos, e investidor aponta peso da política econômica no cenário atual (b3/Divulgação)
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Publicado em 20 de abril de 2025 às 08h00.
O ano de 2024 marcou o terceiro ano consecutivo sem novas Ofertas Públicas Iniciais (IPOs, na sigla em inglês) na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. O momento parece ser de cautela para empresas e investidores, já que o cenário macroeconômico global tem sido marcado por grande volatilidade nos últimos meses, com a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos e a guerra entre Rússia e Ucrânia, conflagrada em 2022.
“Atualmente, verifica-se uma escassez global de IPOs. De acordo com dados compilados pela consultoria KPMG, em nível global, desde 2020, a quantidade de eventos de saída de investidores vem caindo ano a ano, sendo que lançamentos de IPO alcançaram o menor nível dos últimos cinco anos. É interessante notar que o mesmo relatório demonstra ainda que, apesar de numericamente menos expressivos, os eventos de IPO representam o maior retorno financeiro para o investidor”, afirma Danilo Zanichelli, advogado da área de M&A e Venture Capital do Abe Advogados.
De forma geral, o investidor de venture capital possui essencialmente duas alternativas de retorno do capital aportado, além da venda de participação no mercado por meio de IPOs:
venda de controle para um terceiro (buyout);
venda da totalidade da empresa para um terceiro (acquisition).
Dado esse cenário, o mercado de fundos de investimentos destinados a adquirir uma única sociedade após um extenso processo de análise de diversas entidades disponíveis no mercado, os chamados Search Funds, passa a amadurecer em terras brasileiras. Esses veículos de investimento buscam preferencialmente empresas de médio porte com elevado potencial de crescimento. Em 2024, 29 fundos desta natureza abriram captação no Brasil.
“É interessante observar a mudança de perfil do investidor, que desloca o centro decisório principal da sociedade investida do empreendedor para si. Agora, será importante acompanhar os próximos passos do mercado para entender com maior clareza se o movimento é pendular ou veio para ficar. Além disso, o florescimento de um novo mercado certamente trará à tona novos desafios no relacionamento entre investidor e empreendedor, que deverão ser endereçados ao longo da vida do fundo de investimentos”, completa Zanichelli.
Na visão do empreendedor Tsai Chi-Yu, taiwanês de 34 anos com passagens por Uber e 99 e que escolheu o Brasil para investir, a política econômica atual interfere no cenário de IPOs. Cofundada por Tsai, a startup Stay, que atua no segmento de previdência privada, captou US$ 3 milhões no último ano.
“O Brasil tem problemas com a inflação, insegurança jurídica e taxa de juros altos que atraem para um tipo de investimento muito mais ligado ao Tesouro Direto na renda fixa, e não à renda variável. Então tem várias coisas que o Brasil precisaria olhar antes de tratar a falta de IPOs como um problema. E, historicamente, empresas que abrem ações aqui na bolsa brasileira não são empresas que costumam chamar muita atenção de capital externo. Diferente do mercado acionário americano, que atrai investidores do mundo inteiro, e de algumas outras bolsas, a bolsa brasileira não é exatamente uma bolsa que atrai tanto capital externo”, argumenta.