Vago e sem Guedes, “Plano Marshall” começa a andar
Pacote prevê aportes de 30 bilhões de reais em obras de infraestrutura
Ligia Tuon
Publicado em 24 de abril de 2020 às 06h24.
Última atualização em 24 de abril de 2020 às 13h50.
O plano de recuperação econômica para quando a pandemia do coronavírus passar deve ter nesta sexta-feira, 24, sua reunião inaugural. Chamado de Pró-Brasil, o pacote anunciado na quarta-feira pelo ministro da Casa Civil, Walter Braga Neto, prevê aportes públicos de 30 bilhões de reais em obras de infraestrutura por dois anos.
O fato de as informações sobre o projeto serem vagas – o plano ainda será desenhado, com previsão para sair em setembro e ser colocado em prática em outubro – e de não haver nenhum integrante da equipe econômica na hora do anúncio passou uma imagem de fragilidade e um clima de discordância dentro do governo.
Braga Neto nega que haja desacordo e disse que o Ministério da Economia participou das conversas. Há relatos, no entanto, dizendo de que a ala militar do governo Bolsonaro não está satisfeita com o resultado das privatizações prometidas pelo secretário Salim Mattar e que o consideram que o país precisa de um novo plano.
Segundo fontes do mercado ouvidas pela EXAME em reportagem desta quinta-feira, fundos soberanos e de pensão, que visam investimentos de longo prazo, continuam interessados nos projetos de infraestrutura no Brasil. A instabilidade política, no entanto, pode atrapalhar.
O que se sabia sobre o projeto da casa Civil até ontem gerou crítica de economistas, que dizem que a ideia vai no sentido contrário do ajuste defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e repercutiu mal no mercado de ações.
O temor é que esse novo plano flexibilize os gastos da União, cujos cofres têm uma margem estreita para financiar um programa de infraestrutura, a não ser que o teto de gastos ou a regra de ouro sejam repensados. Juntas, as duas ferramentas ajudam a controlar os gastos da União e têm servido de âncora de confiança para o Brasil.
Apelidado de Plano Marshall, em referência ao nome do programa norte-americano de reconstrução dos países aliados depois da Segunda Guerra Mundial, o projeto do governo, no entanto, se assemelha mais ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo Lula em 2007. O PAC não foi a bala de ouro prometida para criar empregos no país, além de deixar pelo caminho grandes obras descontinuadas. Será que desta vez vai funcionar?