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Um guia para a atuação dos bancos centrais em 2020 (incluindo o do Brasil)

Conheça os caminhos possíveis para a política monetária nos Estados Unidos, Europa, Inglaterra, Japão, China, México, Argentina e Brasil

Christine Lagarde, presidente do BCE, colocando sua assinatura na nota do euro em 27 de novembro de 2019 (Peter Juelich/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

Publicado em 27 de dezembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 27 de dezembro de 2019 às 06h47.

Foi o ano em que os bancos centrais retornaram ao campo de batalha, cortando os juros para driblar a desaceleração causada pela guerra comercial e o subsequente declínio da atividade manufatureira.

Algumas instituições, como o Federal Reserve , tinham pelo menos aumentado os juros antes de 2019, criando espaço para o afrouxamento em meio ao crescimento mais fraco desde a crise financeira.

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Mas outras, como o Banco Central Europeu, se viram em uma posição mais difícil e tiveram que empurrar as taxas ainda mais em terreno negativo, alimentando críticas sobre os juros abaixo de zero.

O ano de 2020 talvez seja mais calmo para a política monetária. A área fiscal pode se ocupar de parte do trabalho, e as perspectivas de crescimento estão um pouco melhores.

No entanto, os dados econômicos são mais conflitantes do que positivos. Em suma, o viés da política monetária ainda se inclina para o lado dovish. Enquanto grandes bancos centrais apontam manutenção dos juros, outros, especialmente nos mercados emergentes, devem cortar as taxas novamente.

Confira a revisão trimestral da Bloomberg Economics para alguns bancos centrais.

Federal Reserve

• Taxa básica atual (limite superior): 1,75%
• Previsão para fim de 2020: 1,75%

O presidente do Fed, Jerome Powell, não deixou dúvidas de que as taxas de juros estão em manutenção prolongada, ao dizer em 11 de dezembro que a postura atual “provavelmente continuará apropriada”, a menos que a perspectiva favorável do Fed para a economia sofra uma reavaliação significativa.

As declarações seguiram a decisão de manter as taxas de juros estáveis ​​em um intervalo de 1,5% a 1,75%, após três cortes consecutivos.

As projeções do Fed mostram que 13 de 17 membros não esperam mudanças nas taxas até 2020. Isso os manteria à margem durante uma eleição presidencial no ano que vem.

Banco Central Europeu

• Taxa de depósito atual: -0,5%
• Previsão para fim de 2020: -0,5%

O BCE prometeu intensificar os estímulos novamente se necessário, mas as autoridades sinalizaram publicamente que favorecem uma pausa depois de Mario Dragh ter aprovado um pacote polêmico em setembro para ajudar a desacelerar a economia da zona do euro.

Economistas e investidores esperam que as taxas permaneçam inalteradas, e a flexibilização quantitativa continue durante todo o ano de 2020 e além.

Mas o banco central ainda poderá ser testado novamente se a economia vacilar sob incertezas no campo comercial ou se a desaceleração do setor fabril do bloco se espalhar para o segmento de serviços.

Banco do Japão

• Taxa básica atual: -0,1%
• Previsão para fim de 2020: -0,1%

As perspectivas para o Banco do Japão em 2020 estão um pouco melhores após um pacote de gastos do governo para impulsionar o crescimento e alguns sinais de aceleração da economia global. Esse cenário deve manter o banco central japonês em modo de espera por enquanto.

Com a taxa básica já em território negativo e ativos no balanço patrimonial que valem mais do que a economia do país, o obstáculo para agir novamente é alto, apesar do viés de afrouxamento.

Banco da Inglaterra

• Taxa básica atual: 0,75%
• Previsão para fim de 2020: 0,75%

O Banco da Inglaterra finalmente terá um novo presidente em 2020, encerrando uma busca muitas vezes caótica para o sucessor de Mark Carney.

A vitória decisiva de Boris Johnson nas eleições de dezembro abriu caminho para que seu governo retire o país da União Europeia em 31 de janeiro. Andrew Bailey, que comanda a principal agência reguladora do Reino Unido, assume o comando do BOE em 16 de março com o desafio de enfrentar uma desaceleração global e escassez persistente de investimentos.

O mais preocupante é que o novo prazo para o Brexit já está próximo, e o Reino Unido precisa garantir um acordo comercial com a UE até o fim do próximo ano, a menos que Johnson peça uma extensão.

Banco Popular da China

• Melhor taxa de empréstimos de 1 ano atual: 4,35%
• Taxa de recompra reversa de 7 dias atual: 2,50%
• Previsão para fim de 2020: 4,35%; 2,35%

Os analistas que previam o início da flexibilização monetária em larga escala pelo Banco Popular da China em 2019 ficaram desapontados, e o governador Yi Gang indicou que pretende seguir o caminho modesto e focado em estímulos em 2020.

Dito isso, se a segunda maior economia do mundo piorar, então economistas esperam que o banco central continue a injetar dinheiro no sistema, como tem sido o método preferido para sustentar a economia este ano.

Banco Central do Brasil

• Taxa Selic atual: 4,5%
• Previsão para fim de 2020: 4,5%

O BC fecha um ciclo de afrouxamento monetário que levou a Selic a uma mínima histórica de 4,5%. Embora investidores ainda estejam debatendo se a taxa pode cair outros 25 pontos-base, estão de acordo que a Selic deve permanecer próxima do nível atual até o fim de 2020.

O período sem precedentes de cortes de juros é suportado pelo fato de que as expectativas de inflação permanecem dentro da meta oficial pelos próximos dois anos pelo menos. A economia também ganha força depois de quase três anos de desempenho decepcionante, mas a recuperação continua gradual.

Banco do México

• Taxa overnight atual: 7,25%
• Previsão para fim de 2020: 6,5%

O Banco Central do México reduziu a taxa de juros em um ponto percentual em 2019 em relação ao maior nível em uma década, após a inflação ter atingido a meta de 3% com crescimento econômico estável. Com uma recuperação econômica moderada prevista para 2020, é provável que o banco central mexicano siga com os cortes de juros.

Banco Central da Argentina

• Piso atual da taxa: 58%
• Previsão para fim de 2020: não disponível

O recém-nomeado presidente do banco central da Argentina, Miguel Pesce, enfrenta uma tarefa assustadora, com uma economia em crise e uma taxa de inflação de mais de 50%.

Ele pretende reduzir a alta dos preços para índices de um dígito até o fim de 2021 e diz que tanto a política monetária quanto um “acordo social” proposto pelo governo do presidente Alberto Fernández farão parte disso.

Para controlar a inflação, o banco pode tentar controlar os agregados monetários enquanto o governo tenta fazer acordos com o setor produtivo para manter os preços estáveis.

Metodologia: Com base na estimativa mediana da pesquisa mensal ou trimestral, quando disponível, ou nas previsões coletadas mais recentes. Todos os dados de taxas de juros e previsões são de 19 de dezembro. Algumas pesquisas foram realizadas no início de dezembro, antes das recentes decisões de política monetária.

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaBanco CentralBCEChinaFed – Federal Reserve SystemInglaterraJapãoJurosMéxicoPolítica monetária

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