Economia

Sociedade é vítima da ilegalidade, não as empresas, diz CEO da Souza Cruz

Liel Miranda abriu o debate do EXAME Fórum sobre a competição ilegal e o desincentivo ao investimento e à inovação causado pela economia cinza

André Lahóz, diretor editorial de EXAME, Liel Miranda, presidente da Souza Cruz, Oskar Metsavaht, fundador e diretor criativo da Osklen, Marina Carvalho, diretora da Associação pela Indústria e Comércio de Esportivos no Brasil, Antonio Ferreira Martins, vice-presidente jurídico da Raízen  (Flávio Santana/biofoto/Exame)

André Lahóz, diretor editorial de EXAME, Liel Miranda, presidente da Souza Cruz, Oskar Metsavaht, fundador e diretor criativo da Osklen, Marina Carvalho, diretora da Associação pela Indústria e Comércio de Esportivos no Brasil, Antonio Ferreira Martins, vice-presidente jurídico da Raízen (Flávio Santana/biofoto/Exame)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 24 de maio de 2018 às 12h51.

Última atualização em 24 de maio de 2018 às 16h57.

São Paulo - O mercado ilegal de cigarros rende R$ 10 bilhões, o que representa metade da indústria no Brasil, segundo o presidente da Souza Cruz Liel Miranda.

“Isso é outra indústria”, diz ele, que aponta a recente redução de produção e o fechamento de uma fábrica da empresa, uma marca de como a empresa sofre com o comércio ilegal. Assim, ele afasta a percepção de que a ilegalidade é um crime sem vítima. “A vítima não é a empresa, mas a sociedade brasileira. É o consumidor, são os trabalhadores, é o plantador de tabaco.”

Liel Miranda abriu o debate do EXAME Fórum: Combate à Ilegalidade sobre a competição ilegal e o desincentivo ao investimento e à inovação causado pela economia cinza.

O executivo e mais três representantes de diferentes setores da indústria brasileira, todos afetados pelo problema, conversaram como suas áreas mais são afetadas - e suas propostas de soluções.

Para o setor de tabaco, Liel Miranda aponta a diferente regulamentação do mercado entre o Brasil e seu vizinho, o Paraguai, que não segue as regras alinhadas com o padrão internacional. O problema gera uma concorrência desleal, além de ajudar a criminalidade e prejudicar a saúde da população com um produto sem controle de qualidade.

“Não tem volta na regulamentação, temos que garantir através do Mercosul que seja possível regulamentar nossos vizinhos”, fala.

Se a sociedade é colocada como a maior vítima do mercado cinza, ela também é parte do problema e fundamental para a solução.

Marina Carvalho, diretora da Associação pela Indústria e Comércio de Esportivos no Brasil, que representa as maiores marcas do setor no país, conta como ganhou de presente para seu filho uma camiseta falsificada da seleção brasileira. Quando colocou a questão ao conhecido que deu o presente, a pessoa respondeu que não tinha problema e perguntou se ela não tinha dó do camelô.

Acompanhando apreensão de mercadorias com autoridades, Marina Carvalho já viu vendedores nessa condição que geraram R$ 450 mil de caixa. “A gente tem a falsa ideia de que eles não tem culpa”, fala.

Segundo ela, a indústria formal tem responsabilidades e cuidados com o produtos que não são vistos pelo consumidor. “É um custo com o design, com o que é melhor para o consumidor e o meio ambiente. Esse valor é intangível e pouco percebido quando adquirimos o produto. Socialmente, a gente aceita a ilegalidade no dia a dia.”

Oskar Metsavaht, fundador e diretor criativo da Osklen, aponta que o problema é difícil de combater apenas com apreensões de produtos, pois a indústria informal possui uma cadeia produtiva. “Para combater, é preciso perceber que existem outros culpados”, diz.

Ele concorda com a diretora sobre a permissividade de produtos falsificados pela sociedade brasileira, mas acrescenta que é necessário distinguir as diversas fontes de cópia para o setor de moda.

Sua indústria tem grande investimento na área criativa, de design de produtos - um valor que não é considerado pela população, mas que desperta o desejo pelo consumo dos produtos. Além do camelô, que copia produtos de marcas de luxo, ele aponta as empresas de fast-fashion que copiam os produtos originais para atendar a demanda dos consumidores e por baixo custo.

Ele cobra maior apoio jurídico para combater o plágio, mas tem também uma mudança cultural da ética da sociedade que aceita os produtos.

Antonio Ferreira Martins, vice-presidente jurídico da Raízen, concorda com a responsabilidade que o consumidor tem como aliado no combate ao mercado cinza. Ele pede por um avanço civilizatório da sociedade: “Temos que sair da situação em que sonegação, roubo de carga e outros crimes podem se acomodar dentro do nosso jeitinho brasileiro”, comenta.

As autoridades apontaram, no entanto, que em qualquer indústria os investimentos não pode parar, embora os impactos sejam sentidos por todos.

O presidente da Souza Cruz ainda indica a simplificação tributária como essencial para a luta. Para ele, isso também não beneficiaria somente as empresas, mas ajudaria a equiparar a carga tributária com a realidade da sociedade brasileira, que sofre com a desigualdade econômica.

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