Pacheco discute com líderes projetos para combustíveis; veja propostas
Como alternativa às PECs dos combustíveis apresentadas no Congresso neste mês, Senado pode pautar dois projetos que já tramitavam no ano passado
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2022 às 06h00.
A discussão sobre medidas que afetem o preço dos combustíveis ganha força no Congresso. Para além das Propostas de Emenda à Constituição (PEC) que foram apresentadas na semana passada, projetos de lei que já tramitavam desde 2020 podem ganhar prioridade.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, anunciou que enviaria ainda nesta quinta-feira, 10, aos líderes partidários dois projetos que estão no Legislativo desde o ano passado e que tratam de medidas para redução dos preços de combustíveis, campeões de inflação.
A depender das negociações, Pacheco afirmou que os textos, ambos no Senado, podem ser pautados já na próxima semana.
O mais citado se trata do projeto de lei complementar (o chamado PLP) 11/2020, que altera a fórmula de cobrança do ICMS (imposto estadual). O projeto é polêmico pois implicaria em perda de receita de estados, a depender do texto final, mas é visto como uma medida emergencial para reduzir os preços no curto prazo. O PLP foi aprovado na Câmara no ano passado e hoje está no Senado.
Outro projeto é o projeto de lei (PL) 1.472/2021, que criaria um fundo de estabilização para os combustíveis. Grosso modo, fundos como esse ganham recursos quando o preço do petróleo está baixo no exterior, ao não transferir totalmente a diminuição à população; já quando o barril está caro lá fora, usa-se o valor acumulado nos tempos de bonança para não repassar totalmente os aumentos.
O modelo é usado, no geral, por países que têm moeda fraca e sofrem alta influência da flutuação do dólar, como os sul-americanos Colômbia, Peru e Chile, mas também é encontrado na europeia Noruega.
O PL 1.472 prevê, na composição do fundo de compensação, impostos sobre exportações de petróleo bruto e dividendos devidos pela Petrobras à União, acionista majoritário. O texto foi aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado no ano passado.
Sem "PEC Kamikaze"?
Em declarações nesta semana, Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmaram que os projetos, se aprovados, podem até mesmo excluir a necessidade de alterar a Constituição por meio de uma PEC.
“Se eventualmente nós conseguirmos materializar todas essas iniciativas em proposições infraconstitucionais, não haveria, em tese, a necessidade da PEC. Mas essa é uma avaliação que nós vamos fazer a partir do debate do PLP 11 e do outro projeto de lei”, disse Pacheco a jornalistas na terça-feira, 8.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) é relator de ambas as matérias e tem se reunido com líderes partidários e o setor privado para negociar as propostas. O senador diz que a aprovação de um pacote de medidas discutidas pode levar a redução de 0,50 centavos no diesel e na gasolina nas bombas, além de 10 reais no botijão de gás de cozinha.
Além dos projetos, há duas PECs apresentadas ao Congresso - divulgadas uma após a outra na semana passada, em meio à disputa de protagonismo sobre a pauta entre Senado e Câmara.
Na Câmara, há uma PEC do deputado Christino Áureo (PP-RJ), articulada pela Casa Civil e que tem apoio de Arthur Lira.
Uma segunda foi levado ao Senado pelo senador Carlos Fávaro (PSD-MT), que teria o apoio de Rodrigo Pacheco. A PEC ganhou assinatura do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO) e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
A equipe econômica liderada pelo ministro Paulo Guedes têm chamado as propostas de "PEC Kamikaze" em meio ao custo fiscal.
Entre as propostas está autorizar estados, municípios e União a conceder isenções fiscais para os combustíveis (em uma série de tributos para além do ICMS), e sem compensar a arrecadação, o que poderia desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Nos bastidores, aponta-se que a medida seria uma tentativa do presidente Jair Bolsonaro de pressionar governadores em ano eleitoral, apontando que o governo em Brasília está fazendo "sua parte" na redução dos preços.
Estão incluídos ainda dispositivos que vão de aumento do vale gás para famílias, auxílio-diesel para caminhoneiros e subsídios para transporte público para idosos. Os custos podem chegar a 100 bilhões de reais.
Nenhuma das medidas interfere na política de preços da Petrobras, que desde 2016 segue o valor do barril de petróleo no exterior (o chamado Preço de Paridade de Importação, ou PPI).
Em meio à alta dos preços no mercado internacional e, ainda, o real desvalorizado frente ao dólar, os combustíveis acumulam altas recordes. Nos últimos 12 meses até janeiro, os combustíveis tiveram aumento de 44% nos preços, segundo o IPCA, principal índice inflacionário, divulgado na quarta-feira, 9, pelo IBGE.
O preço dos combustíveis no mercado internacional seguirá sendo uma preocupação em 2022 e um desafio para a inflação brasileira, com o barril de petróleo do tipo Brent já na casa dos US$ 90, e podendo chegar a US$ 100. O risco é uma combinação de oferta dos países produtores de petróleo reduzida e a reabertura econômica pós-covid, que aumenta a demanda.