Vacina coronavírus (Taechit Taechamanodom/Getty Images)
Felipe Giacomelli
Publicado em 7 de agosto de 2020 às 07h48.
Última atualização em 7 de agosto de 2020 às 08h24.
Há mais de 20 estudos de vacina contra o novo coronavírus em fases finais de testes e as previsões de quando o produto chegará ao mercado são cada vez mais intensas. O presidente americano Donald Trump prevê vacinação antes das eleições, em novembro. O brasileiro Jair Bolsonaro, que autorizou ontem o investimento de 1,9 bilhão de reais para comprar 100 milhões de doses, prevê a solução do "problema" em dezembro ou janeiro. O governador paulista João Doria, antes do carnaval. A Rússia afirma que terá o produto já em outubro.
Para frear a euforia, a Organização Mundial de Saúde afirmou ontem que o fim da pandemia não está garantido com as vacinas em fases finais de testes. O médico Dráuzio Varella, também ontem, disse que a vacina pode ser eficiente contra novas pandemias do novo coronavírus, mas não contra a atual. Nesta sexta-feira, a nova edição da revista britânica The Economist traz um novo olhar sobre esta corrida. Segundo a publicação, o mundo está gastando pouco, muito pouco, nas pesquisas em vacinas.
A prioridade deveria ser total, destaca a publicação. Já são 700.000 mortes, num número que avança 40.000 por dia. A contração econômica deve ter chegado a 8% no primeiro semestre. Ainda assim, apenas cerca de 10 bilhões de dólares foram investidos nas pesquisas para uma vacina, segundo a Economist. Entre as pesquisas em fase final, vale lembrar, duas estão em teste no Brasil, de Oxford em parceria com a AstraZeneca e da chinesa Coronavac -- uma terceira vacina, em parceria com a Rússia, foi anunciada no Paraná.
Outro número que chama a atenção: apenas 4 bilhões de doses foram encomendadas até para serem entregues até o fim do ano. É o suficiente para pouco mais de metade da população mundial. Muitos dos candidatos a vacina não se mostrarão seguro e a taxa de falha pode beirar os 20%, e algumas podem demandar mais de uma dose. "Mesmo aqueles países, como Reino Unido e Estados Unidos, que compraram mais de duas doses para cada cidadão, ainda não compraram o suficiente", diz a Economist.
"Mesmo ampliando o financiamento às vacinas por 10, para 100 bilhões de dólares ou mais, em linha com os objetivos ambiciosos, é pouco na comparação com os 7 trilhões de dólares que governos ao redor do mundo gastaram ou prometeram desde que a pandemia começar", afirma a publicação, que defende investimentos de ao menos 200 bilhões de dólares.
Para além do debate sobre as pesquisas, uma questão adicional, que vem sendo apontada por cada vez mais especialistas, é a necessidade de um esforço global para organizar a fabricação e a distribuição das vacinas. Ricardo Hausmann, professor de Harvard, disse recentemente à Exame que esta deveria ser a prioridade da Organização Mundial de Saúde neste momento. Não adianta, relembra Hausmann, vacinar apenas metade do mundo, já que assim o vírus continuará circulando.
O mundo precisa de mais investimentos, e de mais coordenação. O número total de casos está perto dos 20 milhões.