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O governo tem culpa no fracasso da meta fiscal, diz pesquisadora

Para a economista Monica de Bolle, o governo Temer mostra uma continuidade de muitas das más práticas do governo Dilma ao revisar a meta

De Bolle: quando as dúvidas sobre as eleições do próximo ano aparecerem, vai ser difícil segurar dinheiro no Brasil (Fernando Lemos/Exame)
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Letícia Toledo

Publicado em 11 de agosto de 2017 às 11h36.

Última atualização em 15 de agosto de 2017 às 21h45.

A semana termina sem que o governo tenha encontrado uma solução para conter o desastroso déficit das contas do país. O presidente Michel Temer chegou a confirmar que estudava um aumento da alíquota do Imposto de Renda, mas, após críticas, voltou atrás. Alcançar a meta fiscal de 2017, um déficit de 139 bilhões de reais, é tida como impossível por grande parte dos economistas e a expectativa é de que seja revista na próxima semana. Para a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington, o governo Temer mostra uma continuidade de muitas das más práticas do governo Dilma ao revisar a meta. Confira na entrevista a seguir.

O governo Temer assumiu com a promessa de ser diferente do governo Dilma, sobretudo na área econômica, e firmou um compromisso de cumprir a meta fiscal. Mas na próxima semana o governo deve anunciar uma revisão da meta fiscal para este e para o próximo ano. A culpa é da economia que não cresceu ou o governo também tem culpa?

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O governo tem culpa. A gente teve reajuste de servidores públicos, aumento de gastos com pessoal. Não houve contingenciamento das despesas. Atribuir todos os problemas à falta de receita é um tanto ingênuo. O governo Temer é marcado pela forma velha de fazer política, comprando apoio dos parlamentares, por exemplo. Neste aspecto é muito parecido com o governo anterior. Ambos enfrentaram o mesmo problema de investigações de corrupção, perda de aliados e de ministros. Um é a continuação do outro. Quanto à meta fiscal, existem coisas parecidas com a Dilma. As projeções embutidas para alcançar a meta, tanto do lado do crescimento quanto da arrecadação, estavam muito além do possível e então houve uma frustração, como no governo Dilma. A questão das receitas extraordinárias com repatriação, refis e leilões também foi frustrada. Então há o mau desenho da meta nas receitas extraordinárias e de outro a questão de gastos. A Dilma não conseguiu reduzir gastos na crise e o governo Temer também não segurou os gastos. São pontos parecidos com o antigo governo. As pessoas falam muito no novo, sobre o governo Temer ser um governo novo, mas esquecem que parte do governo atual, inclusive o ministro da Fazenda, também fazia parte do governo Lula. Não houve quebra, não houve mudança.

Mas não há diferenças na condução da política econômica?

O que existe de diferente é que o governo Temer tinha, no início, uma pauta de reformas que a presidente Dilma nunca quis emplacar. Dilma nunca pensou em reforma trabalhista, por exemplo. As discussões vieram no início do governo Temer. O problema é que a reforma trabalhista, por exemplo, foi feita de forma mais ou menos. Ainda há muitas questões em aberto, como a contribuição sindical. Ainda não se sabe quanto das ineficiências do trabalho serão resolvidas. Em entrevista no fim de semana, ao jornal Estadão, o presidente Michel Temer usou o termo “atualização da Previdência”. Ele abandonou o discurso de reforma, nem ele trata mais como uma grande reforma. Dada a dificuldade no Congresso, na melhor das hipóteses, a proposta da Previdência pode passar como uma atualização, está longe de ser uma reforma. Essa é a diferença do governo Temer para o governo Dilma, ele entrou com pautas de reforma, mas vai entregar muito menos do que previu.

Além da frustração com a arrecadação, por conta da economia ainda fraca, as receitas extraordinárias, como repatriação de recursos, também estão tendo um desempenho pior do que o projetado. Essas receitas deveriam ter ficado de fora da meta fiscal?

As projeções devem fazer parte do orçamento. Agora, o governo precisava ter formulado um Plano B. Não dá para simplesmente contar com essa arrecadação e depois não ter nada para substituí-la.

O Plano B agora parece ser um pacotão de impostos. Isso pode ser a salvação para meta?

É lastimável que a gente tenha que tratar do aumento de impostos, sendo que a carga brasileira já é muito elevada. Por outro lado, neste pacote estudado pelo governo, entram as desonerações que a Dilma fez e que deveriam já ter sido revertidas no início do governo Temer. O governo Temer sempre teve esse discurso reformista com Previdência e reforma trabalhista, que são coisas de longo prazo, e esqueceu que é preciso fazer ajustes de curto prazo. Agora essa discussão de rever as desonerações ficou muito mais difícil por conta das dificuldades políticas para manter o apoio do empresariado. As desonerações deveriam ter sido revistas no início do governo Temer, e agora é pouco provável que aconteçam.

Apesar de todo esse cenário de problemas com a meta e as reformas econômicas, o mercado financeiro continua otimista. A bolsa e as ações estão em alta. Por quê?

O Brasil virou uma completa anomalia. Agora, o que está acontecendo no mercado é que o ambiente externo por hora está calmo e relativamente favorável para países emergentes em geral. O petróleo teve alta, a perspectiva para as economias lá fora está melhorando e as taxas de juros estão muito baixas. Tudo isso conspira a favor dos mercados emergentes e por isso há dinheiro externo entrando no Brasil. O problema é que é capital especulativo, é importante lembrar disso. Esse capital ajuda a sustentar essa alta e dá a sensação de que as coisas estão relativamente bem. A entrada desse dinheiro estrangeiro gera essa calmaria que é ilusória e o que o vai ditar o ritmo da saída desse capital são os nomes e os cenários da eleição para 2018. Quando essas dúvidas sobre as eleições do próximo ano aparecerem, aí vai ser difícil segurar esse dinheiro.

 

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