Reforma Tributária: “Contador será protagonista no suporte aos empreendedores”, diz especialista

Charles Gularte, vice-presidente executivo de serviços aos clientes, alerta para a importância do papel do contador para enfrentar o novo sistema tributário. Entenda

Charles Gularte, CSO da Contabilizei: “A Reforma tem ganhado destaque, e isso tem aumentado a valorização do contador” (Contabilizei/Divulgação)
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Publicado em 24 de abril de 2025 às 14h00.

Que a Reforma Tributária vai transformar o sistema de impostos no Brasil, todo mundo já sabe. Mas como se preparar para as mudanças ainda é um desafio para muitas empresas — principalmente para as pequenas e médias (PMEs).

Para Charles Gularte, vice-presidente executivo de serviços aos clientes da Contabilizei , o primeiro passo é estreitar a relação com a contabilidade. “Os contadores serão responsáveis por interpretar as mudanças e orientar os empreendedores sobre as adaptações necessárias, seja na escolha do regime tributário, seja em novos processos comerciais”, afirma.

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Recentemente, Bernard Appy, secretário extraordinário da Reforma Tributária, reforçou esse papel: segundo ele, o contador é o profissional com maior capacidade de entender os dados e prever como as empresas serão impactadas.

Para entender como melhor orientar as empresas diante desse novo cenário, a EXAME conversou com Charles Gularte. Confira.

Como os contadores podem ajudar as empresas a atravessar o período de transição da Reforma Tributária?

Charles Gularte: Durante sete anos, conviveremos com dois sistemas de tributação, o que naturalmente aumenta a complexidade da gestão contábil. Serão três grandes marcos até que o novo modelo entre em vigor de forma integral, em 2033.

Nesse cenário, o contador será peça-chave, porque ele é quem terá de rodar os dois sistemas de forma simultânea. Aqui ressalto a importância de ter um bom contador como parceiro, pois ele irá tornar essa transição mais simples para o empreendedor. É fundamental que sejam feitas simulações de cenários futuros, para prever riscos e evitar penalidades que possam impactar as finanças da empresa. É importante começar desde já a revisar o fluxo de caixa, testar diferentes estruturas de preços e avaliar adequações tecnológicas para estar em conformidade com as novas regras. Esperar para agir pode custar caro.

PMEs costumam operar com margens apertadas. Como o contador pode ajudar a mitigar o impacto do aumento na carga tributária?

Para muitos pequenos empreendedores, haverá sim aumento de impostos. Embora o objetivo da Reforma seja simplificar o sistema e ampliar a base de arrecadação, a mudança na forma de cobrança afetará diretamente esses negócios.

O contador precisa fazer uma análise individualizada de cada empresa, para identificar o modelo tributário mais vantajoso e propor ajustes em custos e preços. Ele pode sugerir, por exemplo, a mudança de regime ou a alteração no valor dos serviços prestados. Se esse ajuste for bem planejado, o cliente final pode não sentir o impacto, já que poderá descontar o imposto adicional da sua própria carga tributária.

O que deve ser considerado na decisão entre manter-se no Simples Nacional ou migrar para o novo modelo de IVA?

O ponto central é entender o perfil da empresa e como ela recolhe impostos. O novo sistema muda o modelo de compensação tributária, o que afeta diretamente a precificação e o resultado financeiro.

Ao contratar fornecedores do Simples ou Lucro Presumido, as empresas passarão a considerar se podem compensar os impostos pagos ou se receberão descontos equivalentes. Caso contrário, o fornecedor pode perder competitividade.

Esse é um desafio enorme para micro e pequenas empresas, que já enfrentam dificuldades para negociar preços ou oferecer garantias. Para tomar a decisão correta, será preciso analisar o tipo de cliente, o regime tributário atual e a possibilidade de geração e transferência de créditos.

Como os contadores devem se preparar para tecnologias como o split payment e a apuração fiscal assistida?

Embora o split payment ainda esteja em fase de regulamentação, sabemos que ele mudará a dinâmica do fluxo de caixa das empresas. A tendência é que o prestador de serviço ou vendedor não receba o valor integral da nota fiscal, pois o tributo será retido no momento da transação.

Isso pode afetar o pagamento de contas e a remuneração de funcionários, por exemplo. Empresas podem ter de buscar crédito para manter o caixa, o que aumenta os custos. Por isso, o contador terá de orientar sobre estratégias financeiras para lidar com esse novo cenário.

As empresas já percebem a importância de uma relação mais estratégica com seus contadores?

Sim. A Reforma tem ganhado destaque, e isso tem aumentado a valorização do contador. Fizemos uma pesquisa com 500 donos de CNPJs ativos, em todo o Brasil, e 85% afirmaram ver seu contador como um aliado fundamental nesse processo.

O levantamento mostrou que os empreendedores entendem que as mudanças vão afetar diretamente seus negócios e confiam que os contadores estão preparados para apoiá-los nesse momento de transição.

Quais pontos da Reforma mais preocupam os contadores?

A maior preocupação é a falta de regulamentação clara para algumas regras. Isso gera insegurança jurídica e dificulta o planejamento. Os contadores podem ajudar monitorando projetos de lei, entendendo os cenários possíveis e defendendo os interesses dos pequenos negócios.

O que diferencia as empresas que vão se adaptar bem das que sofrerão mais impactos?

A capacidade de adaptação será determinada pela forma como cada empresa fizer a reprecificação de produtos e negociação com os clientes. Quem planejar agora, terá mais chances de manter a competitividade.

A Reforma Tributária é inevitável. O que vai diferenciar os negócios será o preparo. E nesse processo, o planejamento tributário, com apoio especializado, será determinante.

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