Os efeitos econômicos frente à nova crise no Oriente Médio
OPINIÃO | José Cláudio Securato, CEO da Saint Paul Escola de Negócios, comenta sobre os efeitos do conflito entre Israel e Hamas para a economia global
CEO & Fundador da Saint Paul e EdTech LIT
Publicado em 11 de outubro de 2023 às 09h52.
Última atualização em 11 de outubro de 2023 às 09h52.
Comos recentes ataques terroristas do Hamas a Israel e as possíveis consequências militares e geopolíticas em vista,a economia global deve se preparar para seus efeitos econômicos nos países e em seus mercados financeiros. Menor crescimento econômico, aumento da inflação, manutenção das taxas de juros, queda das bolsas, oscilação dos preços das commodities, alta do ouro, são alguns dos resultados esperados. No Brasil, tudo fica um pouco mais difícil pelo contágio do cenário doméstico com o ambiente internacional. Parto da premissa que o conflito será longo.
A dificuldade de se opor um Estado Nacional (Israel) versus um grupo extremista (Hamas) trará contornos muito peculiares ao confronto, a exemplo do que vimos no conflito envolvendo os EUA no Afeganistão. A superioridade militar é clara, mas como lidar com a dispersão do inimigo? Como achar e isolar o inimigo? Nesse sentido, os primeiros efeitos serão uma reprecificação dos ativos. Refazer preços significa que os agentes econômicos não sabem os novos valores dos ativos dado um novo contexto de mundo.
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Se o mundo desacelerar, deve cair a demanda por commodities? Será que a guerra ativa a indústria bélica, logística etc.? Embora os envolvidos não sejam produtores de petróleo, a região pode ser direta ou indiretamente envolvida a ponto de afetar sua oferta e demanda, fazendo seus preços oscilarem? Em termos práticos, as bolsas de valores, commodities de todas as naturezas, moedas e juros perdem sustentação de seus valores, pois as premissas mudaram.
Segundo ponto importante é a corrida por ativos mais seguros. Ativos com menores riscos estão em países e mercados de menores riscos. Portanto, uma corrida a títulos públicos norte-americanos é quase óbvia. Partem os recursos para compras de títulos soberanos AAA e os impactos chegam nas moedas. Vender nos mercado locais para comprar dólares acelera a desvalorização de moedas de países em desenvolvimento e fortalece moedas de países desenvolvidos. O ouro, por ainda ser um ativo de reserva de valor, deve também ser alvo dado a fuga do risco.
Terceiro ponto são os impactos no Brasil. Embora o Brasil não tenha avançado na questão fiscal, os dados macroeconômicos avançaram: PIB surpreendeu positivamente em 2023, desemprego segue em queda (mesmo que falte qualidade no emprego), inflação caiu substancialmente de 2022 para 2023, as taxas juros estão em ciclo de queda, o real tinha se valorizado (já se desvalorizou novamente) e o superávit externo deve ser recorde. Alguns acham que a bolsa poderia ter valorizado, mas o altíssimo nível de endividamento das empresas não permitiu.
O ponto de preocupação doméstico então será a taxa de juros. Real desvalorizado pode causar inflação de custos, que por sua vez, pode desincentivar o Comitê de Política Monetária (Copom) a continuar o ciclo de queda da Selic por mais tempo. Juros menos baixos, menor incentivo ao PIB e o Emprego, eventual menor arrecadação (pela desaceleração do PIB), maiores juros do serviço da dívida pública.
No cômputo geral não serão grandes as mudanças, pois o mundo já vinha de um rearranjo econômico global pós pandemia, seguido de outro rearranjo após a Rússia invadir a Ucrânia e agora seguiremos absorvendo os impactos de um novo evento de impactos globais. O maior desafio é quanto tempo os agentes econômicos aguentam.
Para o Brasil, resta explorar seu gigante mercado doméstico e as oportunidades de reformas que podem trazer competitividade e minimizar os efeitos econômicos negativos dos confrontos.